Meer
quarta-feira, 3 de dezembro de 2025
Passam turistas, indiferentes, e uns espécimes engraçados de classe média: ténis de marca, meias curtas a combinar com a t-shirt do crocodilo, óculos escuros, corpo direito, passo estugado. Bebem sumos naturais, preferencialmente detox, como se pudessem purificar o fígado ou a vida inteira
Em quinze dias deixou de comer, de tomar medicação, de lutar. Foi-se assim: muito fraca, sem resistência, como se já tivesse decidido partir
Nesses dias, gosto de trabalhar sobre a percepção que as pessoas têm hoje do que se passou há trinta ou quarenta anos: o seu processo de rememoração, o modo como a memória se transmite, importando, acima de tudo, a condição da sua subjectividade. Cada um guarda um arquivo desordenado dentro da cabeça, papéis amarelados por onde se revê o que nunca aconteceu bem assim
Surgem também desportistas de fim-de-semana, equipados a rigor, fatos fluorescentes, bicicletas caras, a treinar — sem saberem que talvez o destino lhes reserve apenas um cancro da próstata, por excesso de esforço
Recordava a maneira como desistiu de viver quando percebeu o diagnóstico. A médica palpou-lhe as axilas, sentiu os gânglios salientes. Cancro

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