Meer
terça-feira, 26 de agosto de 2025
Quando enfim a tempestade deu tréguas, o sol do nascer do dia vencia a nebulosidade, e o mar cansado dormia, sereno, Cominda levantou-se devagar, sacudindo a areia do seu corpo. Os olhos postos no horizonte: um mar vazio (sem conter as lágrimas, também nós procurávamos por Pedro)
Pescadores. Todas as noites em que Pedro ia para o mar, despediam-se com um beijo luminoso. Era o beijo da protecção, da razão, da esperança. Os dois olhavam-se por duas luas cúmplices como as luzes que se avistam os pescadores no horizonte. Entreolhavam-se durante toda a ausência sem nunca se perderem de vista (apontava-nos o farol que se avistava da costa)
Cominda era uma mulher muito bonita, de pele morena, os cabelos de sal, mas, no seu âmago, vivia uma escura tristeza (ela olhava-me esbugalhado como se soubesse que o sonho ainda vivia em mim)
Nessa noite, mais tarde, o tempo mudou, o vento trocou a direcção e as nuvens surgiram nas rajadas tempestuosas. Cominda levantou-se e não conseguia ver as luzes do Maningue, os olhos de Pedro. A areia levantava e feria a pele dela, as árvores balançavam ébrias, o vento assobiava forte, a maré controversa, numa discussão de correntes. Abrigando-se numa das encostas, um nevoeiro caiu ao nível do mar. Nada se ouvia a não ser o rugir do vento, nada se via para além de um movimento denso e branco
Pesadores. Pedro voltava todas as manhãs nos primeiros raios de sol e sabia que Cominda o esperava na praia. Era ela que avisava a vila que os pescadores estavam de volta e, assim, começavam os preparativos para a festa com mandioca, xima e matapa. O peixe era responsabilidade de Maningue e dos seus tripulantes

Na Rua

Pesquisar no Calendário

Subscribe
Get updates on the Meer