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sábado, 8 de novembro de 2025
A medicina moderna, construída sobre os pilares da evidência, muitas vezes associa legitimidade clínica à presença de dados objetivos. Nesse modelo, sintomas que não “aparecem” correm o risco de não serem levados a sério. O resultado disso é um ciclo de sofrimento prolongado e deslegitimação. Os pacientes passam por diversos médicos, colecionam exames normais, ouvem frases como “você está estressado”, “isso é ansiedade” ou “não tem nada de errado com você”. Esse processo, além de frustrante, contribui para a deterioração da saúde emocional, para o afastamento das atividades sociais e para o isolamento
Enxaqueca crónica caracteriza-se por crises de dor de cabeça em pelo menos 15 dias por mês, durante mais de três meses, sendo que pelo menos 8 dias têm características típicas de enxaqueca. Os sintomas incluem dor latejante, unilateral, fotofobia, fonofobia, náuseas e sensibilidade ao movimento. É uma das principais causas de incapacidade no mundo, segundo a OMS, mas ainda subestimada no ambiente de trabalho e nos serviços de saúde, por ser uma condição que “não se vê”. O diagnóstico é clínico e o tratamento exige abordagens preventivas e mudanças no estilo de vida
Chamam-se doenças invisíveis porque os seus sinais não aparecem em exames de imagem, análises laboratoriais ou em manifestações físicas facilmente reconhecíveis. Doenças como fibromialgia, enxaqueca crónica, síndrome da fadiga crónica, endometriose, dores neuropáticas, sequelas da Covid longa e síndrome de burnout exemplificam essa categoria. Embora possuam critérios diagnósticos definidos, muitas delas ainda carecem de marcadores objectivos
O estigma que acompanha essas condições tem raízes profundas. Culturalmente, ainda associamos doença àquilo que é visível e mensurável. Se a dor não se traduz em um laudo ou exame, ela tende a ser considerada exagero ou invenção. Isso se reflete na maneira como amigos, familiares, colegas de trabalho e empregadores reagem aos relatos dos pacientes. A falta de compreensão leva ao julgamento moral. Quem sente dor crônica mas “parece saudável” é frequentemente visto como preguiçoso, instável, vitimista. Esse tipo de preconceito não apenas desestimula a busca por diagnóstico como compromete a adesão ao tratamento, especialmente quando o paciente começa a internalizar essa descrença social como verdade
Síndrome da fadiga crónica (também conhecida como encefalomielite miálgica) é uma condição caracterizada por fadiga intensa e incapacitante, que não melhora com repouso e piora com esforço físico ou mental (mal-estar pós-esforço). Também pode haver distúrbios do sono, dor, disfunção autonómica, intolerância ortostática e alterações cognitivas. A fisiopatologia ainda não é completamente elucidada, e não há biomarcadores específicos. Isso torna o diagnóstico desafiador, e muitos pacientes enfrentam ceticismo médico e familiar, sendo erroneamente rotulados como “preguiçosos” ou hipocondríacos

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