Partir é bom, mas voltar é melhor ainda. Das tantas viagens que um ser humano pode fazer na vida, a melhor de todas é aquela que se faz de volta para a própria casa, pois é lá que tudo começa e termina, ou nunca termina. Mais uma vez lá fui eu e a minha mochila, é isso, minha mochila e um bom livro me bastam; e, ao contrário do que você possa estar pensando, eu nunca viajo sozinho, não mesmo, mas isto é mote para uma outra prosa…
Certo dia, e “de mala e cuia” cheguei ao Uruguai, um gigante latino e terra do também gigante Pepe Mujica (que saudades), um país que tem uma rica história e diversidade cultural, apesar do pouco território e de seus cerca de 3,5 milhões de habitantes.
O Uruguai é um país de fácil acesso, seja por via aérea, marítima ou terrestre; o Aeropuerto Internacional de Carrasco, que me fez lembrar o aeroporto da minha amada Recife, é belo e organizado; mas, se você opta chegar por terra, partindo do Brasil ou da Argentina, pode ser agraciado pelas belas paisagens e estradas da região; eu cheguei pelo mar, atracando no belíssimo porto de Montevidéu, o principal do país, que fica no Rio da Prata, um estuário formado pelo derrame das águas do Rio Paraná, Uruguai e oceano Atlântico.
Entre os anos 10 e 30 do século XIX, o Uruguai finalmente se livrou do jugo dos invasores europeus, após diversas batalhas travadas que culminaram na sua independência e consolidação como país. Ao contrário do que muitos pensam, no território onde hoje existe a nação que aqui adoramos, já existia ali assentamentos de povos como os Yaros, Chanás e outros mais. Isto mesmo, caro leitor, índios, os verdadeiros donos do pedaço que foram dizimados, mas nunca serão esquecidos.
Não sei por qual razão, mas me senti triunfante quando da minha chegada naquele país suntuoso e de povo idem; a minha viagem por aquele país único se deu em pleno verão e eu pude visitar os seus belos balneários, como Punta del Este, Playa Mansa e Punta del Diablo; recantos arenosos e de sol radiante no Atlântico Sul.
Este mesmo litoral também é salpicado por belos rústicos casarios, que em sua grande maioria são todos brancos, o que garante um relativo frescor em seu interior; também é possível avistar surfistas, especialmente no inverno, em Playa Brava, dona de ondas enormes e onde o visitante pode pedir a bênção a uma mão gigante que brota da areia, numa espécie de olá aos transeuntes.
Nestes e em outros pontos do país, o visitante seguramente vai encontrar uma ótima infraestrutura, em todos os sentidos; seja na hotelaria, no transporte público e na segurança… Desde os mais básicos aos badalados 5 estrelas, é possível se hospedar bem e pagar um preço justo; se o viajante desejar se locomover por Montevidéu e sua bela região metropolitana, isto é relativamente fácil, pois ele encontrará um sistema que preza pela pontualidade, conexão e segurança. Eu, por exemplo, me desloquei bastante de ônibus; de uma ponta a outra do Uruguai é bem provável que o visitante se sinta bem seguro, pois, diferente da maioria dos países da América Latina, este quesito no Uruguai é tratado como uma das grandes prioridades.
O Uruguai também dispõe de uma atraente vida noturna, com seus bares e restaurantes de rica e peculiar gastronomia, com destaque para o City Winery Uruguay e o La Cretina, ambos em Montevidéu, onde se pode encontrar excelentes música, comida e vinho, e na segunda opção ainda há espaço para apresentações teatrais. Acho que você também não deve deixar de se sentar em um belo café à beira-mar ao som de Jorge Drexler, ou acompanhado do barulho ensurdecedor das letras de Eduardo Galeano, provando o maravilhoso dulce de leche uruguaio. Disso eles entendem como ninguém e produzem o melhor do mundo, isso sem falar também da pastelaria, com seus deliciosos alfajores e empanadas.
Portanto, em verdade vos digo: ir ao Uruguai é ver o que há de mais curioso nas Américas, desde o humano ao território, que é pequeno mas gigante por sua própria natureza; onde reside uma história rica e infinita que começa e nunca termina… Agora vou voltando pra casa, eu, minha mochila e As Veias Abertas da América Latina. Este foi o meu companheiro de viagem por esta terra magnífica. Visite o Uruguai.
Em tempo, começar este pequeno texto me referindo ao ato de chegar e partir foi a forma escolhida por mim para homenagear aquele que talvez tenha sido o maior dos uruguaios em todos os tempos, José Alberto Mujica Cordano. Ele que, com a sutileza de sua força, resistiu a tudo e a todos que, de várias maneiras estúpidas, tentaram calar a sua voz. Pepe não se calou, e nunca se calará; ele voltou para casa e ainda estendeu a sua mão aos algozes dizendo: obrigado por ajudar a propagar meu grito. O grito que não é só meu, é meu e do povo encantado de toda a nossa América Latina…
Pepe vive! E continua chegando e partindo de volta pra casa, hoje, amanhã e sempre.















