Dia desses recebi no WhatsApp um vídeo da minha tia. A ex-ginasta Laís Souza, que ficou tetraplégica há 11 anos após sofrer um acidente, divulgava um mouse conectado aos óculos que possibilitava o uso de smartphones e notebooks para ela de maneira mais fácil, através de movimentos com os olhos. Logo pensei que se tratasse de um daqueles vídeos falsos, feito por inteligência artificial, então decidi pesquisar o nome do dispositivo para verificar.

Para minha surpresa, o equipamento existe, porém me assustei com o custo: uma mensalidade que equivale a 10% do salário mínimo, valor do benefício pago pelo governo às pessoas com deficiência de baixa renda. Chamado BPC (Benefício de Prestação Continuada). Tecnologias assistivas me interessam devido ao fato de eu ter uma doença degenerativa que faz com que eu perca o movimento aos poucos.

Fiquei pensando sobre a dificuldade de acesso a essas tecnologias, que têm evoluído tanto ultimamente, mas acabam não atingindo amplamente seu público-alvo devido aos seus custos. Também refleti sobre a importância desses recursos para a inclusão e me deparei com uma questão difícil de solucionar.

Laís Souza sofreu um acidente durante um treino de esqui nos EUA, em 27 de janeiro de 2014. A ex-ginasta se preparava para um novo desafio na carreira: integrar a equipe brasileira de esqui aéreo estilo livre. Após o acidente, as perspectivas médicas eram terríveis, com expectativas até de dependência de aparelhos para respirar. Laís realmente perdeu todos os movimentos do corpo, mas conseguiu se livrar do respirador após três meses.

Atualmente, Laís Souza é palestrante e também artista plástica. As palestras foram o motivo principal para a busca por uma tecnologia assistiva. “Eu usava um stick, que me permitia mexer no celular por 30 minutos, uma hora no máximo”, o que tornava a preparação das palestras extremamente lenta e cansativa. Além disso, a ex-atleta ficava dependente de apoio durante as apresentações de slides e vídeos. O mouse conectado aos óculos solucionou esses problemas. Com um simples movimento de olhos, Laís consegue clicar, rolar e até mesmo digitar.

Mas não é só a ex-ginasta que é beneficiada com as tecnologias assistivas. Começando pela educação inclusiva, que exige o Atendimento Educacional Especializado (AEE). Materiais como teclado adaptado, impressora braile, scanner com voz, lupa eletrônica e alfabeto móvel são utilizados nas Salas de Recurso Multifuncionais para facilitar e aprimorar o aprendizado de alunos.

Nas necessidades diárias, as tecnologias assistivas podem trazer uma autonomia para as pessoas com deficiência que é fundamental para sua independência. Há cerca de três anos, vi um equipamento que também me traria um grande benefício. Em uma feira de equipamentos médicos, um aparelho que ajudava a levantar o braço, com um controle semelhante ao de cadeira de rodas motorizada. Esse equipamento me permitiria escovar os dentes e me alimentar sozinha. Na época, o custo era de 29 mil dólares, inviável para a maior parte das pessoas que seriam beneficiadas com essa tecnologia. Não encontrei os valores atuais, porém desacredito que tenha se tornado acessível.

Tecnologias assistivas não são uma coisa que começou agora. Bengalas, óculos e cadeira de rodas são exemplos de tecnologias mais antigas. São denominados recursos de tecnologia assistiva. Elas também podem existir na forma de serviços. Fisioterapia, fonoaudiologia e psicanálise são exemplos de serviços de tecnologia assistiva.

Mary Path Radabaugh, diretora do Centro Nacional de Apoio para Pessoas com Deficiência da IBM, disse certa vez: "Para pessoas sem deficiência, a tecnologia torna as coisas mais fáceis. Para pessoas com deficiência, a tecnologia torna as coisas possíveis". Por definição, tecnologia assistiva é qualquer ferramenta que pode facilitar a vida de uma pessoa com deficiência.

Pessoas cegas e surdas dependem de Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA) para se expressarem e receberem mensagens. Próteses e órteses também são tecnologias assistivas. Porém, alguns recursos de acessibilidade não são considerados tecnologias assistivas, são chamados Desenho Universal. Nesta categoria estão inclusos rampas e elevadores, cadeiras de rodas adaptadas e sites com padrões de acessibilidade.

Em tempos de diversidade no mercado de trabalho, as tecnologias assistivas são fundamentais para a inclusão de pessoas com deficiência. Em março de 2024, fui contratada para estagiar remotamente em uma empresa, porém o acesso ao escritório da empresa era por meio de escadas. Quando houve uma reunião de equipe presencialmente no escritório, não pude estar com eles.

Essencialmente, sem tecnologia assistiva não existe inclusão, tanto na educação como na sociedade ou mercado de trabalho. Além disso, é fundamental dar mais independência às pessoas com deficiência em suas atividades diárias. O principal obstáculo para o acesso a essas tecnologias é o financeiro.

O governo brasileiro possibilita o acesso, principalmente a serviços de tecnologia assistiva. Existem softwares disponíveis gratuitamente, porém esse acesso não é amplo nem suficiente. Os recursos de acessibilidade do Windows, por exemplo, são bem precários.

A solução para baratear os custos seria um investimento maior do governo na área de pesquisa científica direcionada às tecnologias assistivas. Os preços seriam mais acessíveis a todos que poderiam se beneficiar, já que as empresas que investem nesta área dependem dos lucros para existir.

Atualmente existe o Centro Nacional de Tecnologias para pessoas com deficiência e doenças raras (CNT), porém não temos grandes avanços na criação de novas tecnologias assistivas. Apesar do governo reconhecer a importância delas para a inclusão, quando incorpora o acesso pelo SUS, acaba tendo que investir muito dinheiro na criação feita por uma empresa privada.