Com o fim dos estudos a aproximar-se a inevitável procura de trabalho coloca-se em cima da mesa. No entanto, em Portugal as novas gerações vêm-se cada vez mais “gregas” para arranjar um mísero trabalho que seja. O justo a pedir era um trabalho que coincidisse com as qualificações de cada um, que são cada vez mais, um salário que pudesse competir com o custo de vida cada vez mais alto e um teto sobre a cabeça. Não é pedir muito. Aliás, diria que são as condições básicas para que uma pessoa possa viver.

Contudo, face ao elevado número de pessoas com qualificações académicas, o trabalho qualificado não consegue competir com o trabalho não qualificado que por cá existe e persiste. Até quando vão continuar a passar o sol com a peneira e fingir que não é nada? Até quando vão continuar a dizer que o problema reside na falta de professores nas escolas, de médicos e enfermeiros nos hospitais e centros de saúde? Até quando vão persistir nessa ideia errada, a meu ver e, abrir cursos de forma desenfreada como se a raiz do problema fosse essa? Pelo que vejo, o problema não reside na falta de professores ou de médicos, até porque o nosso país tem muitos por aí. O problema reside na falta de tomada de decisões, nomeadamente, aquelas que ajudem verdadeiramente a população.

O que é que são feitos desses médicos e professores que teimam em dizer que faltam em Portugal? Ah esperem emigraram, porque Portugal não lhes deu as condições tidas como básicas para viverem. Mandaram-nos embora como se fossem parasitas e uns tantos anos depois queixam-se que em Portugal falta de tudo e mais um “par de botas”. E o que é que fazem para mitigar essa falta de profissões? No caso da educação descongelaram as carreiras, deram apoios para as deslocações para quem estiver a mais de 300 quilómetros de casa e chamaram os professores mais velhos. O SNS lá terá de esperar mais um pouco até haver dinheiro, esperemos que, no entretanto, não vá ao charco de vez!

Diz-se que o português é invejoso, pois está sempre a cobiçar aquilo que o vizinho tem. Não é cobiçar o que deram às forças de segurança e aos professores, no entanto as estas profissões deram-lhes um subsídio e descongelaram-lhes as carreiras, respetivamente. E então as restantes profissões: donas de casa, juízes, camionistas, operadores de supermercado, médicos, auxiliares de saúde, etc.? E os jovens que ingressam num curso em busca de um sonho, mas saem defraudados quando percebem que o seu país não tem trabalho para lhe dar? Muitos acabam os seus cursos vendo as coisas malparadas, mas ainda têm uma réstia de esperança de encontrar um emprego na sua área, mas se arranjarem um part-time num restaurante é muito…

Vão mandar-nos embora? Ou vamos viver às custas dos nossos pais? Só falta dizer-nos que temos de mentir nas nossas qualificações quando nos candidatamos para determinado emprego que seja “abaixo” das nossas qualificações. Melhor ainda é ter de lidar com recrutadores sem bom senso e, que acham que os candidatos têm de andar às suas boas vontades como se não tivessem nada de melhor para fazer.

Na minha busca desenfreada por trabalho tenho-me deparado com certas situações que me põe a pensar, nomeadamente esta que vos trago. Enviei um currículo para um dado restaurante, alocado no shopping da cidade onde me encontro a estudar. Confesso que enviei por enviar, porque se há coisa que irrita profundamente na busca por trabalho são os inúmeros currículos sem resposta – acho que não custa muito responder: “Agradecemos, mas não estamos interessados”. Em virtude disso, não tinha qualquer expectativa que me ligassem, mas fizeram-no. Só não sei se foi melhor a emenda que o soneto. Foi uma chamada de veras rápida para chegar à conclusão, que os recrutadores são antipáticos e consideram-se a última “bolacha do pacote” achando-se no direito de mandarem na vida das pessoas.

Não foi feita qualquer apresentação da pessoa nem da marca em si e o surreal da situação vem a seguir quando me perguntam se me podia deslocar ao restaurante no próprio dia para uma entrevista que, neguei por não me encontrar na cidade. Perante este inconveniente não me foi questionado se teria disponibilidade para outro dia e a chamada foi desligada de seguida.

Ora, se têm necessidade de pessoal diria que os empregadores poderiam ser menos intransigentes e, assim colocarem-se à disposição dos candidatos e não o contrário – por exemplo, as entrevistas, acho que deveriam ser marcadas com alguma antecedência, porque os candidatos não podem simplesmente deixar de fazer a sua vida à espera das entrevistas que, por vezes, nunca vêm. Logo, não podem condenar as pessoas por se negarem a comparecer às entrevistas por outros compromissos que tenham ou incompatibilidades logísticas criadas por eles muitas das vezes, por falta de bom senso e incompreensão.

É importante que os recrutadores não se esqueçam que estão a lidar com pessoas, muitas delas desesperadas por encontrar algo que as permita sobreviver e chegar ao dia seguinte. Se é triste ver que as pessoas nos dias que correm não têm qualquer empatia e o mínimo respeito pelo outro, mais deprimente é ver que Portugal não consegue ou não quer criar condições para a sua população.

A geração que se formou e que vai começar agora a sua formação sabe o que quer e como lá chegar, por isso vai em busca de formação, cada vez mais elevada. Só que falta o essencial: trabalho qualificado para toda esta gente e as condições básicas: um teto sobre a cabeça, comida na mesa e, se não for pedir muito, menos politiquices e mais desenvoltura na saúde, na educação e na segurança. Enquanto, os problemas forem empurrados com a barriga entre as diversas fações políticas, a Assembleia da República continuará a ser o púlpito da lavagem de roupa suja e a vergonha do país.