A inteligência artificial (IA) tem ganhado cada vez mais espaço na vida cotidiana, transformando desde tarefas simples, como recomendações de filmes e músicas, até decisões complexas em áreas como saúde, finanças, engenharia e direito. Com esse avanço acelerado, cresce também o interesse da população em entender melhor essa tecnologia. No entanto, junto com a curiosidade e o entusiasmo, surgem preocupações legítimas, especialmente no que diz respeito ao impacto da IA sobre o mercado de trabalho. Entre as pessoas que já conhecem minimamente o funcionamento ou as aplicações da inteligência artificial, uma parcela significativa manifesta receio de que suas profissões possam desaparecer ou ser radicalmente transformadas por essas inovações.
De acordo com uma pesquisa divulgada pela Pew Research Center, cerca de 62% dos trabalhadores norte-americanos que conhecem IA expressaram algum nível de preocupação com o risco de automação em suas funções. Esse número reflete uma percepção crescente de que a tecnologia está avançando em direção a áreas antes consideradas exclusivamente humanas, como criação artística, diagnóstico médico, tomada de decisões jurídicas e até mesmo interação social, graças aos avanços dos modelos de linguagem, como os chatbots baseados em IA.
Essa preocupação não se restringe aos Estados Unidos. No Brasil, por exemplo, uma pesquisa do DataSenado realizada em parceria com o Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS-Rio) revelou que cerca de 58% dos entrevistados que sabiam o que é IA temem que sua profissão possa ser impactada negativamente pela tecnologia. Em setores como transporte, atendimento ao cliente, jornalismo e contabilidade, esse número ultrapassa os 70%, o que indica uma clara apreensão por parte de profissionais cujas atividades já estão sendo automatizadas em algum grau.
O temor de que a inteligência artificial substitua trabalhadores não é infundado. Vários estudos acadêmicos e relatórios de consultorias globais apontam que até 2030, milhões de postos de trabalho poderão ser automatizados em todo o mundo. Um estudo da consultoria McKinsey & Company, por exemplo, estima que entre 400 e 800 milhões de empregos podem ser impactados globalmente até o fim da década. Isso não significa, necessariamente, que todas essas ocupações desaparecerão, mas sim que passarão por profundas transformações. Tarefas repetitivas e padronizadas são as mais suscetíveis, enquanto atividades que exigem empatia, criatividade e julgamento crítico ainda apresentam certa resiliência, pelo menos no curto prazo.
É importante destacar que os impactos da inteligência artificial sobre o mercado de trabalho não se distribuem de forma uniforme entre os diferentes segmentos da população. Profissionais com maior nível de escolaridade ou que atuam em áreas de conhecimento mais técnico e criativo tendem a se adaptar com mais facilidade ao uso de IA, seja por meio da requalificação, seja pela incorporação da tecnologia às suas rotinas. Em contraste, trabalhadores de setores operacionais, administrativos ou com baixa escolarização enfrentam um risco maior de substituição direta, com menos oportunidades de transição. Esse descompasso aprofunda desigualdades sociais e econômicas já existentes, exigindo políticas públicas atentas à inclusão digital, à capacitação contínua e à proteção de grupos mais vulneráveis no processo de transformação tecnológica.
Por outro lado, é importante notar que, entre as pessoas que conhecem IA, há também uma parcela otimista. Muitos enxergam na tecnologia uma oportunidade de ampliação de produtividade, requalificação profissional e até de liberação de tempo para atividades mais estratégicas ou humanas. Profissionais de marketing, por exemplo, relatam que o uso de ferramentas baseadas em IA permite automatizar tarefas rotineiras e concentrar esforços em planejamento criativo. Médicos vêm utilizando IA para análise de exames com maior precisão e agilidade, o que contribui para diagnósticos mais assertivos e tratamentos mais eficazes.
Esse paradoxo, entre medo e entusiasmo, revela um cenário de transição, no qual o futuro do trabalho está sendo redesenhado. Para muitos especialistas, o desafio não está apenas no avanço da tecnologia, mas na capacidade das instituições educacionais, empresas e governos de preparar a força de trabalho para as novas exigências do mercado. Isso inclui programas de requalificação, investimentos em educação continuada e políticas públicas voltadas para mitigação de desigualdades tecnológicas.
Um dado relevante nesse debate é que o grau de preocupação com a IA varia de acordo com o nível de conhecimento da tecnologia. Pessoas que têm apenas uma noção superficial tendem a temer mais o desaparecimento de empregos do que aquelas que trabalham diretamente com IA ou estudam a fundo seus mecanismos. Isso acontece porque o conhecimento mais aprofundado geralmente vem acompanhado de uma visão mais realista e menos apocalíptica do impacto da automação. Assim, quanto mais uma pessoa entende de IA, maior a sua capacidade de se adaptar às mudanças, identificar oportunidades e até criar novas formas de atuação profissional.
Em síntese, a inteligência artificial é um vetor inevitável de transformação no mercado de trabalho. Pessoas que conhecem essa tecnologia em maior profundidade apresentam, em sua maioria, um misto de preocupação e expectativa. Entre elas, uma parcela significativa, entre 50% e 70%, dependendo do setor e da região, teme que suas profissões possam desaparecer ou ser profundamente alteradas. Ainda assim, a adaptação é possível, e o futuro do trabalho dependerá não apenas da velocidade do avanço tecnológico, mas principalmente da agilidade com que as sociedades forem capazes de formar profissionais resilientes, críticos e aptos a conviver com máquinas inteligentes de forma ética e produtiva.















