A única vez que este país teve uma polícia digna de respeito da comunidade e dos demais foi na Primeira República, onde a seleção para integrar as fileiras da polícia era rigorosa e iniciava nos bairros de origem com a auscultação comunitária sobre a conduta deste candidato a agente da polícia. A postura física era outro aspeto bastante importante para a questão da imponência diante de certas adversidades no trabalho do seu quotidiano como polícia. Com esta seleção saíam agentes de verdade que serviam as causas da nação e não olhavam para cores partidárias, e tinham o respeito do cidadão, respeito às normas e à forma de abordagem.
E os Direitos Humanos tinham espaço na polícia, e em todos os setores da vida pública. Com a morte do então presidente Samora Machel, o país entra para a Segunda República, liderada pelo presidente Joaquim Chissano. Com o passar do tempo, devido à falta de continuidade dos ideais do seu antecessor, houve um enfraquecimento da pujança por parte dos gestores ou comandantes da polícia, em continuar a manter o ritmo e a disciplina na polícia, sobre tudo na seleção de novos agentes da polícia e, aos poucos, ia-se assistindo ao assalto de autoridade na polícia.
O sistema foi infestado com novas doutrinas que alteraram o quadro geral e de comando na polícia. Os Direitos Humanos foram declinados para o último plano, instalaram-se os desmandos na polícia, e consigo vieram os atropelos à lei e aos Direitos Fundamentais do cidadão. As sevícias e torturas para a obtenção da verdade sobre os factos passaram a fazer parte da atuação da polícia.
A imagem da polícia caiu no desgaste e descrédito por parte do cidadão, e ninguém até hoje confia na polícia. A sua presença em locus delicti é vista como insignificante, pois, a própria polícia passou a servir-se da farda e das armas para intimidar e molestar o cidadão, no lugar de usar a inteligência e as normas para repor a ordem e a tranquilidade pública. Com o andar da carruagem, eles esqueceram o que é ser polícia de verdade, e passaram a comportar-se como “autênticos bandidos” no lugar de autoridade.
Com as mudanças sucessivas das Repúblicas, a imagem da polícia foi-se deteriorando de uma maneira que está difícil organizar e manter a ordem neste país. A fraqueza na formação e os esquemas que norteiam a seleção dos futuros agentes da polícia é um cancro difícil de curar. Até os requisitos mínimos de seleção dos futuros agentes da polícia foram ignorados e hoje temos polícias bandidos que entram para a polícia, se apoderam da farda e das armas para continuarem a fazer das suas, e com isso ter benfeitorias a custo individual no crime, em detrimento da proteção pública que é a sua tarefa.
Hoje assiste-se por todo lado a uma polícia fragilizada e que desmerece o respeito do cidadão por conta da sua má atuação. Mais do que alimentar os esquemas de corrupção na seleção dos futuros agentes da polícia, há uma necessidade de olhar para a questão da imponência e segurança quando se está diante de uma autoridade, e não essas crianças que até dão pena vê-las uniformizadas carregando uma arma AK47 que pesa mais do que o próprio salário, e sem nenhum conhecimento das normas e formas de abordagem ao cidadão da via pública.
Hoje, mais do que nunca, devido à imperícia no quotidiano, temos mais polícias a matar inocentes do que os próprios bandidos. É triste ver crianças na polícia sem nenhuma postura física adequada para o trabalho que fazem, e ficam vulneráveis aos criminosos com mais destreza que por vezes lhes arrancam as armas, e sem nenhum recurso de defesa, ficam impávidos, pois, a sua formação é fraca e desprovida de sentido.
Há que se pensar numa reciclagem da polícia na questão física e intelectual de modo a alterar o quadro geral. Que tal ginásios nas esquadras e salas para formação contínua? Ensinar a polícia a se defender com ou sem arma, aprender a desarmar uma mente criminosa sem força e nem violência, que tal aprender um pouco sobre as leis, que tal respeitar os direitos fundamentais do homem, que tal agir dentro da lei, que tal ter uma convivência mútua e respeitosa com o cidadão, que tal resgatar o respeito e a confiança da sociedade, que tal deixar as armas e a farda de lado e pensar como povo.
Uma polícia bem formada e treinada com recursos suficientes evitaria a tragédia das 924 mortes resultantes do despreparo e fraca formação e treinamento deficiente, que dia após dia vai aumentando este número. A nossa polícia tornou-se assassina e o povo ficou distante da polícia e nasceu aqui uma hostilidade inegável entre a polícia e o povo. Hoje a polícia mata um civil e a população, por sua vez, mata um polícia. Que diferença faria uma boa formação e capacitação constantes na mente destes homens que normalizaram matar gente indefesa mesmo sem motivo aparente?















