
Minha primeira lembrança com leitura foi aos cinco anos, minha mãe disse (em 1990) que se eu não largasse a mamadeira não poderia ir à escola. Eu amava minha mamadeira, mas meu sonho era aprender a ler. Consegui com seis anos, lia todos os outdoors e placas no caminho da escola, vício que preciso controlar até hoje. Devorei todos os livros infantis que tive oportunidade, com oito anos já lia livros com cem páginas ou mais. Durante o Ensino médio conheci meu ídolo maior, Machado de Assis, fazendo um seminário sobre Memórias Póstumas de Brás Cubas. Logo fui atrás de Dom Casmurro e Quincas Borba e continuei buscando mais do bruxo do Cosme Velho.
Outra paixão que nasceu na mesma época foi o fascínio pela mente humana. Busquei aprender tudo que podia sobre psicologia/ psiquiatria. Aos 34 anos tive oportunidade de fazer uma faculdade e, apesar de detestar gramática, optei pelo curso de Letras. Durante o primeiro semestre senti o desejo de trocar de curso, mas esperei terminar o segundo semestre para me transferir para o jornalismo. Logo no começo percebi que tinha tomado a escolha correta.
Em dezembro de 2022 comecei um estágio voluntário escrevendo para um site de variedades. Gostei bastante de me desenvolver na área de redação durante os oito meses de experiência que tive. No ano passado estagiei como social media, na área de marketing onde adquiri muito conhecimento. Nunca gostei de ser definida pela minha deficiência. Tenho uma doença rara, chamada Atrofia Muscular Espinhal tipo 2. É uma doença degenerativa que faz com que eu perca força muscular ao longo dos anos, no meu caso tipo 2 não permitiu engatinhar nem andar. A primeira perspectiva dos médicos após o meu diagnóstico aos dois anos de idade era que eu não passaria dos cinco anos.
Em maio completei 40 anos. Atualmente faço uso de um medicamento custeado pelo SUS que estaciona a minha deficiência, existindo a possibilidade de haver melhoras na minha mobilidade. Após o diagnóstico fiz tratamento na AACD até meus oito anos. Meus três primeiros anos escolares também foram lá. Devido ao fato de morar longe, minha mãe conversou com a diretoria e professores sobre me transferir para uma escola comum. Todos foram unânimes ao afirmar que eu me adaptaria bem, o que realmente aconteceu. Sempre me esforcei muito na escola, nunca pedi facilidades ou regalias. A única aula que não participava era Educação Física. Minha mãe se esforçou muito para que eu pudesse estudar e o mínimo que poderia fazer era tirar boas notas. Acabei ficando nerd mesmo.
Aos 17 anos terminei o Ensino médio e não tínhamos condições financeiras para que eu continuasse os estudos. Logo depois minha mãe teve problemas de saúde (consequências da sua dedicação aos meus cuidados e descaso consigo mesma), um tumor benigno no cérebro. Ela se recuperou bem, mas não pode mais se forçar tanto nos meus cuidados. Em 2017 minha mãe teve um AVC que a deixou com muitas dificuldades motoras, daí em diante passei a ser cuidada pela minha irmã e por cuidadora, que pagamos o salário através de doações. Continuei lendo muito durante os anos após terminar os estudos. Nesta época eu já tinha acesso à internet há uns dez anos, fiz alguns cursos gratuitos online neste período.
Minha irmã decidiu “patrocinar” minha faculdade em 2021, meses depois o governo autorizou meu BPC (Benefício de Prestação Continuada) e pude assumir meus gastos. Além da literatura gosto muito de séries, filmes e música. Também sou apaixonada por futebol, particularmente pelo Palmeiras. Sou viciada em conhecimento, geralmente na área de Humanas e estou sempre fazendo algum curso. Também sou religiosa, em busca de me tornar um ser humano melhor. Não tenho muita vida social, mas gosto de frequentar shows.
