Por volta dos anos 1986 a 1988, fiz muitas matérias para uma revista da Bemfam, uma Sociedade Civil de Bem-Estar Familiar no Brasil, muito ativa e pioneira, aqui no Rio, sobre planejamento familiar e prevenção às doenças sexuais transmissíveis, com alinhamento para tratamento a usuários de drogas.

Vivíamos um medo mundial chamado Aids (...).

Houve perdas de muitos jovens, de artistas, gente de nome, e a ignorância prevaleceu, mesmo com a imprensa “confiável” não se voltar à cura; a pauta era tão-somente o sensacionalismo.

Era ato de coragem apertar as mãos ou dar um abraço de conforto àqueles portadores dessa doença mortal. A editora da revista propôs uma pauta superinteressante, que foi buscar focos, e uma dessas matérias visitei a Vila Mimosa, antiga, que ficava há mais de 100 anos num terreno ao lado da agora cidade da prefeitura, que abriga várias secretarias, central dos Correios, e próxima ao prédio do Departamento de Trânsito do Estado do Rio de Janeiro, e a nova Vila Mimosa.

A pauta também cobria a criação do Sindicato das Prostitutas do Rio de Janeiro, que recebia a presidente Nacional das Prostitutas, eleita no Sindicato da categoria no Recife (PE).

As associadas pretendiam legalizar a profissão vinculando na Consolidação das Leis do Trabalho, CLT, renda urgente para as associadas já idosas e aposentadoria por trabalhos prestados à sociedade, como também direito à “contribuição mensal” (desserviço ao povo) ‒ se eu mantivesse o valor investido em investimentos particulares das minhas contribuições ao INSS, teria no bolso equivalente a R$ 3 milhões.

Sem ser pejorativo, ou grosseiro, na entrada havia um arco amplo para passagem de carros e, ao lado, passagens de entrada e saída para pedestres nas laterais. O arco lembrava uma ferradura, com motivos interessantes endereçando o local e atrações.

Vi uma senhora seminua logo após o arco, aparentando idade mais de 70 anos, só de calcinha, com um colar e pingente do símbolo paz e amor pendurado entre os seios flácidos, ou o que deveriam ser seios.

Ela estava ao lado de uma placa ofertando serviço, que muitas mulheres negavam para seus companheiros, a R$5,00, valor comparado ao preço nominal da nossa moeda de hoje.

Além de gracejos, recebi informação de onde ficava a administração de vários quartos, uns misturando bar e camas separadas por grandes lençóis.

Acompanhado até lá por uma das “moças” trabalhadoras, fui bem recebido com um ótimo cafezinho, que sorvi meio que assustado, tal a pobreza, e fomos direto para a entrevista.

As reivindicações delas eram tantas, tais quais as de um sindicato desses vigentes no Brasil. Elencavam periculosidade e assiduidade, tempo de serviço retroativo, criação da federação e de um conselho federal. Trampolim para a política, também.

“Nada mais justo para a profissão mais antiga do mundo”, interrompeu a diretora cultural que, nesse aparte, pediu para eu ver suas composições.

Ela pretendia gravar, ou se a promessa fosse cumprida pelo frequentador componente de uma banda, que havia confirmado a leitura do líder e colocaria uma das músicas no próximo vinil; o cantor era conhecidíssimo.

Ainda, segundo sonhava, disse “aparecendo numa matéria da revista, e talvez, se você publicar no Jornal Tribuna de Imprensa...” (fui Secretário Gráfico do jornal, uma de minhas especializações em Comunicação), “ajudaria a levar meus sucessos para as gravadoras e ser sucesso por outros intérpretes”, entusiasmou-se a compositora.

Uma das letras, mostradas como obra prima, falava sobre o amor passional de um general de Exército por sua esposa, próximo das bodas de Ametista, que só conseguia êxito sexual quando frequentava o mesmo quarto há 30 anos e dormia após quatro a cinco horas de conversa com uma das meninas, a mesma, e raras vezes “fizemos amor”, se entregou.

Ele esperava num quarto especial, até que ela voltasse do bar, ou do quarto vapt-vupt, um local para meninos envergonhados que perdiam a virgindade: um provador de roupas especial facilitava o contato entre o casal e ninguém via ninguém.

Ela disse que só sentia o ‘espirro’.

Esse general era tratado como um gentleman da Vila, e as outras mulheres não tocavam nele; havia casos matrimoniais sem igreja, nem cartório: apenas naquele convívio e ai daqueles que se atrevessem ultrapassar aquele acórdão.

Lembrei dessa matéria, e de tantas outras, porque fui a um posto de saúde, próximo de minha casa, e vi quatro crianças, uma escadinha de 5 descendo para 1 ano, mais uma barriga de seis meses na mãe delas. Pela gritaria da mulher, ela precisava não só de banho, como de cuidados especiais, desde psicólogo, pré-natal a meios de sustentação.

Uma das crianças passou por perto e acenou, motivo próprio das crianças. Respondi com um largo sorriso, cortado ao meio pelos gritos da mulher vindo em minha direção, questionando se eu ajudava na criação do menino, comprava leite, pagava o aluguel do barraco dela, e por que estava brincando: “Você é o pai dele, por acaso”?

Levantei, fui ao banheiro, e puxei pela respiração.

De volta, diante dos olhares das pessoas e das enfermeiras, uma delas da recepção me cutucou e pediu que ignorasse, porque “ela já era caso perdido”.

Não vou entrar no mérito de necessidade de políticas públicas, porque existem várias secretarias, Ongs, muito dinheiro dentro dos orçamentos de prefeituras, estado e União, que não chega para o que foi verbalizado – corrupção no Brasil é endêmica.

‒Para onde vai?

Creio que hoje em dia, nem Deus sabe.

Há um ponto comum nesse questionamento social, uns com muitos, outros sem nada, ou por conta da esmola, oferta do governo federal. Traz o porquê estarmos aqui, para onde vamos, e qual é o equilíbrio dentro de uma sociedade para o bem comum, já que a semântica, comum, tal qual o significado de progresso, foi desmantelada, desfigurada.

O mundo está de ponta cabeça, e cá no terceiro mundo, onde as leis são ignoradas, o respeito é ignorado ou é propriedade dos mais antigos.

Cito como exemplo do desrespeito fulcral no dia a dia das pessoas, maioria.

Umas tantas buscando a honestidade acima de tudo, segue o caminho de que a verdade prevalecerá, e outras na primeira oportunidade faltam com a ética, eliminam a vergonha, e à luz do dia, promovem saques, acharques e enganação.

Exemplo.

Num acidente aéreo com avião da Transbrasil, lá na década de 1970, os sobreviventes, queimados, quebrados, atônitos eram assaltados, porque as pessoas que lá chegavam para ver o acidente, aproveitavam-se da situação e roubavam as carteiras e pertences dos passageiros acidentados, como que numa desculpa non sense, quem viajava de avião tinha mais poder aquisitivo.

Não mudou do século passado para o XXI.

É comum no Rio assalto a caminhões de carga. O acidente na esquina, ou numa autoestrada, pessoas aparecem para roubar, outras para filmarem: o vídeo é um troféu, furo de “reportagem”.

A carga é levada, os acidentados permanecem no espaço que foram arremessados.

É uma mola gigante que chega na parte baixar na mesma pressão que impulsiona a ignorância.

Há no miolo dessa mola, o anseio voltado para a configuração de famílias aos moldes das que foram as de meus avós, pais: própria de uma divisão maniqueísta, 50% bons, 50% maus.

O que tem a ver com essa aviltante ação dos 50% dos maus é má criação, necessidade de voltar à origem família, educação e respeito.

Das gerações do século passado, a honra valia tal qual o fio de bigode de um homem, referindo-se à palavra. Respeito aos mais velhos, cabelos brancos.

Nossos psicólogos foram cinto, chinelo, olhar severo, milho – no castigo comum ficávamos de frente para a parede ajoelhado em milhos secos, e a quantidade de horas é que definia o tamanho da travessura a ser repreendida.

Minha geração criou o tal diálogo, mesmo que eu, particularmente, tenha tirado o psicólogo “milho”; os outros permaneceram como ponto de negociação.

Vingou.

Detalhe interessante: minha geração perseguiu a necessidade de estudar, trabalhar como a de meus pais. Porque para a de meus pais o trabalho bastava; já na minha geração era vergonhoso apenas estudar, se os pais não tivessem condições financeiras.

O não trabalhar conceituava vagabundagem. Então, trabalhei e estudei, faço os dois até hoje.

Já meus filhos, retiraram todos os castigos, aqui retratados como limites e disciplina.

De vez em quando percebi ameaças com gritos “vou te bater...”.

As minhas idas nas casas ou nos apartamentos deles, sempre avisadas, modificavam a rotina e a frequência excluindo determinadas amizades, às consagradas no politicamente correto.

O que seria uma conversa cordial moldando educação e ensinamentos, mostra uma juventude outrora ‘degenerada’ para um monte que se esgueira em dancinhas, cabeças ocas, uma bela maioria encostada nos pais vidrada nas baboseiras trocadas nos celulares e numa linguagem inconcebível.

Vou colocar mais ingredientes nesse bolo, desde a criação lá atrás do sindicato das prostitutas, a proliferação de doenças em massa, e a consagração de instituições internacionais, que desviaram o foco para enriquecimento ilícito dos diretores e dos colegas, mais o desvio de a manutenção da miséria consolidando fantoches, cabeças vazias, doutrinação nas escolas até o terceiro grau, se o jovem ultrapassar tais barreiras.

Fui à Bienal do Livro na cidade do Rio de Janeiro, de 13 a 22 de junho deste ano.

Lá, entre visitas a estandes e cumprimentos aos colegas, outros para negociação de trabalho, o tal networking, assisti palestra sobre adolescência, que teve como mediadora a escritora Talita Rebouças, referência na literatura para o público infanto-juvenil.

Vi psicólogo renomado cantar, segundo ele, poema excelente do cantor e compositor Arnaldo Antunes. Que para mim, não é referência para nada. O que chamou atenção foi um mote para ganhar like, estrelismo, um artista e não um profissional da psicologia que pode melhorar a cabeça das pessoas.

Da mesma forma, mais de 1h de palestras, a menina convidada, adolescente de 18 anos, “influencer”, disse que ainda não se encontrou...

Vi que é fruto da necessidade de presença dos pais, de família: aquela com pai, mãe, homem, mulher, crianças, educação em casa, ensinamentos na escola.

Na sequência, surgiu denúncia de um site de mutilações, envolvendo crianças, adolescentes, adultos. É um site proibido, que segundo a doutora e autoridade do Conselho Tutelar, as postagens são horríveis com agressões a animais e incentivo à autodestruição on-line, suicídio, para um público mórbido, ou ávido por psicopatias.

Não é novidade que exista o submundo das tragédias, psicopatias (no nosso STF STF tem um), doentes, crimes, pedófilos, e tantos outros que passaram a barreira da civilidade por cunhos emocionais, traumas da infância. Tem o sujeito que nasce com a índole ruim.

Identificar e corrigir cabem aos pais, com apoio da escola.

Repito: falta seio familiar.

Não existe o eu sozinho no mundo; o que aflora é a dilaceração da composição família. E a política desde o início dos anos 1980 para cá, envolvendo as instituições mundiais, que, inicialmente cuidariam dos povos mais necessitados, provendo de segurança alimentar, e saúde, principalmente, trabalham justamente para minar a população mundial.

A quebra da família é incitada; o embate entre etnias é alavancado ao extremo; a luta entre pobres e ricos é intensificada e exagerada; os menos favorecidos são obrigatoriamente molestados com esmolas, tirando-lhes o direito de ser ativo; associações, ongs, institutos, sindicatos, inverteram seus valores consolidando a máxima do meu pirão primeiro – os mesmos diretores, quando não saltam para a política, revezam-se nos cargos a cada “eleição” programada para si.

Todos os argumentos aqui comentados, perpassam para simples exemplo de explodir uma planta de um imóvel, no jargão da arquitetura e da engenharia.

Figurativamente, podemos comparar a planta de uma casa bonita, sustentável, como se fosse a família. Enquanto coesa, ergue se a construção que permanece forte, e bela projetada com amor.

Se explodir, ou modificar a pilastra de sustentação, como o casamento, ou um ente inclinar para o caminho errado, destroça tudo; veremos meninos perdidos nas escolas, as meninas caindo em propostas para ganhar dinheiro fácil e, assim, está boa parte de nossa sociedade: convive com a insegurança em sentido amplo.

Visite comunidades, as do Rio são a ponta do iceberg, e confirmará meninas de 11 a 12 anos se drogando, dançando não, quebrando os quadris numa forma chamada quadradinho, com as partes íntimas à mostra, e sexo é banal, corriqueiro; e os meninos, seguranças com idade de 12 a 15 anos portam armas de grosso calibre, arsenal de uso exclusivo das Forças Armadas.

Ah, o cheiro é de enxofre, misturado ao de cigarro de maconha batizada...

O futuro a Deus pertence, e nosso presente está na cruz.

O modelo político do Brasil e do mundo faliu.

Você aceita um bêbado e ladrão gerir seus negócios, seu condomínio, seu carro?

Estamos na calmaria das caravelas portuguesas antes de aportarem no Brasil, brasiliano. E, chegando em “terra à vista!”, seremos estados separados da Federação, é o que se mostra mais razoável no atual cenário geopolítico do País: as regiões se tornarem independente da União.

Exigirei a cidadania natal do Centro-Oeste e a do Sudeste, por escolha.