Dias de turbulência e tempestades um pouco por todo o lado são hoje comuns, demasiadamente comuns para o comum dos mortais…

Sina de humanos que somos desde os primórdios, a permanente e convulsiva evolução / revolução tem sido marca perene e permanente das nossas ínfimas existências no devir histórico. Não, a história não acabou, o mito fukuyano é só mais um mito… E mais vale habituarmo-nos a isso…

Dos dias que correm mais do que escorrem sentimos a falta apenas de mais companhia de outros humanos menos empedernidamente olhando apenas para o seu ínfimo umbigo narcísico e trumpianamente equívoco e sem rumo coerente, já destemperado pela senilidade própria de quem se aproxima do fim… Nos dias que correm mais do que escorrem talvez fosse útil e profícuo tentar-se aglomerar mais do que dividir… E não confundir adição com fusão - continuo a preferir salad bowl a melting pot, mas isso provavelmente porque confio mais na diversidade do que no unanimismo… Alas, cronista crónico dos dias que extravasam a correria do costume, é claro que ‘não quero ir por aí’… mesmo condescendendo que a maioria o faz mais por desfastio do que por vontade…

Do desconforto e do enviesamento informativo ao caos anunciado pelos mesmos do costume, mais interessados em embolsar mais poder e alarve lisonja, sempre a história que dizem querer fazer, os vai desmentido, feliz e livremente continua esta humanidade a trilhar caminho mais ou menos pedregoso e ínvio ou mais empenhado e motivado pela utopia do devir pacífico, solidário e sem limites…

Da perda sensível ao ganho acumulado, de experiência feito, erro e aprendizado, queda e ressurreição, desespero e fé, caminham, como sempre caminharam desde que temos memória… E dos deserdados e fracos também a história os devia relembrar… para memória futura…

Dos dias que nos escorrem, poucos são os relatos relevantes ou simplesmente relevantes para registo… Daí que tantos se espantem com as artes ou as literaturas… Aí a utopia criativa esquiva-se ao escrutínio censório do politicamente correcto ou corrente dominante… deriva ou regressa sem aviso ou premonição… Inova sem querer inovar, flui sem querer ser rio transbordante ou apenas fio de água em nascente escusa e difícil de descobrir…

Na natureza da criação algo de misterioso se mantém inescrutável mesmo para o mais esforçado algoritmo… E ainda bem que assim é…

Da memória dos dias de espanto e maravilha se faz a poesia do verso, da narrativa, da pedra esculpida ou da tela pincelada, da sinfonia ou do canto bluesy de escravo acorrentado…

E do desafiador espaço de página vazia para o desafio de a preencher vai todo um mundo e tempo incontrolável, incomensurável, por isso não aprisionável por qualquer algoritmo mestre… E ainda bem que assim é…

Do outro lado do quotidiano escorrem outros rios, ribombam outros trovões, não tão espampanantes e de primeira página ou prioridade… mas talvez menos tonitruantes apenas… porque avessos e fugidios à glória mediática dos dias que vão correndo…

Dos outros lados dos quotidianos nascem outros mundos e outras histórias da história, apenas menos salientes porque não facilmente tangíveis e necessitadas de famas ou glórias ad eternum

Desses outros universos podem ser apenas detectados os pulsares reconhecidos, manifestos, mas tantas vezes escapando aos radares e telescópios fantásticos da tecnologia pulsante e toda poderosa que conseguimos engendrar desde tempos imemoriais…

E na canção dos campos escravizados ou no pincel pintando turnerianamente uma paisagem bucólica talvez estejam todos e nenhuns sonhos ou pesadelos inimagináveis para o comum de nós… Uma tentativa apenas de furar a solidão acompanhada do momento que a criou ou foi criando…

E do criador ou pintor de telas ou páginas de rabiscos escusos e desordenados na aparência foram surgindo novas formas de romper o ensimesmamento da dita solitude acompanhada…

Nada, mas mesmo nada pode ter sido acaso, fúria ou desabafo expressivo, triturado ou logicamente explicável, apenas subjectivamente acedido e mais compreensivo e compreensível … Mas igualmente pode ser opostamente grito de revolta ou simplesmente sussurro buscando audição aleatória e não proposta ou propositada…

Difícil de entender as arquitecturas criativas tal como os quotidianos em que vamos escorrendo e vivendo… Alas, assim é e ainda bem que o é…

Será assim tão estranho que o poeta verse no meio da turba ululante da manifestação pró ou anti isto e aquilo? Será que o compositor se assuste com o trovão ou se esmere por traduzir em música o fluir da água no riacho?…

Será que o narrador e cronista histórico tem de tomar partido e assumir parte numa disputa que relata?… E se no fizer, perde a razão ou a capacidade de relatar?…

Só se responderá se se for questionado?…

Daí o título de texto, mais uma vez acabrunhado e toldado por tantas questões e mais algumas…

Da solidão acompanhada do escriba intermitente apenas se pode inferir o que se quiser e se se quiser fazer dos seu rascunho crónico, constantemente incoerente senão mesmo descontinuado e tumultuoso dos tempos que tenta narrar…