A palavra falácia provém do latim e significa "trapaça", "engano", "ardil". Falácias são argumentos logicamente falsos, muitas vezes usados para levar alguém a erro. Podem-se distinguir dois tipos principais de falácias: as decorrentes de erro na forma, como ocorre em silogismos inválidos, e as decorrentes de erros nos fatos apresentados. Apresento, a seguir, alguns exemplos de argumentos falaciosos.
Argumentação redundante
Trata-se de uma forma de enunciado muito utilizado por pessoas que, quando não têm argumento para sustentar o ponto de vista que pretendem demonstrar, repetem com outras palavras o que já foi afirmado, ou seja, valem-se de redundância. Consideram provado justamente aquilo que deveriam provar com argumentos.
Quando alguém afirma, por exemplo, “fumar é prejudicial à saúde, porque prejudica o organismo”, não está expondo nenhum argumento que comprove a afirmativa de que fumar é prejudicial à saúde. Na verdade, aquilo que seria a justificativa (porque prejudica o organismo) simplesmente repete, com outras palavras, o ponto de vista que pretendia demonstrar. Há redundância, portanto.
Tautologia é uma palavra formada de dois elementos gregos: tauto (= o mesmo) e logia (= palavra) que significa dizer uma mesma coisa com outras palavras. As tautologias são um exemplo típico argumentação redundante, pois se repete aquilo que já foi afirmado sem que se acrescente qualquer informação nova ou aprofundamento para que se compreenda o que já foi afirmado. Trata-se de uma espécie de pleonasmo vicioso, em que se afirmam obviedades. É o que ocorre em frases como:
Ele morreu porque deixou de viver.
O atleta foi o primeiro colocado porque chegou em primeiro lugar.
O ouro é valioso porque tem muito valor.
Uma pessoa solteira é uma pessoa que ainda não se casou.
Embora as tautologias possam produzir frases verdadeiras, elas não têm valor argumentativo, não produzindo efeitos persuasivos.
Falsa causa
Esse argumento falacioso é conhecido por post hoc ergo propter hoc, expressão latina que significa depois disso, logo por causa disso. Consiste em assumir como causa algo que, na verdade, não é causa de um fato, mas simplesmente algo que antecedeu ao fato. Nem todo acontecimento que precede a um outro é causa deste.
Muitas crendices e superstições apresentam falsas causas. Alguém que, por exemplo, tenha passado embaixo de uma escada e depois lhe tenha sobrevindo algum acontecimento ruim passa a associar o fato de passar embaixo de escada como sendo causa de acontecimento ruim, e passa a afirmar que “passar embaixo de escada dá azar”. Na verdade, o que ocorreu é um acontecimento (passar embaixo de escada) ter precedido o outro (acontecimento ruim) sem que houvesse entre eles relação de causa e efeito. Não são poucas as pessoas que acreditam que passar embaixo de escada, entrar em casa com o pé esquerdo e ver um gato preto são coisas que dão azar. Trata-se, evidentemente, de uma falácia.
Muitas vezes, entre o fato dado como causa e aquilo que se julga seu efeito, a relação é apenas de coincidência. Uma afirmação como “A Seleção brasileira de futebol perdeu porque não jogou com a camisa amarela” é uma falácia uma vez que aquilo que é dado como causa (jogar com a camisa amarela) não foi o motivo pelo qual a Seleção brasileira perdeu o jogo, houve apenas uma coincidência. Nas redes sociais, podem-se encontrar muitos outros exemplos desse tipo de falácia.
Argumento de autoridade
O argumento de autoridade consiste em se recorrer ao testemunho de alguém para justificar um ponto de vista. Quando se apela para a autoridade de pessoa reconhecidamente especialista no assunto que se discute, temos uma forma válida de argumentação. Não se trata de uma falácia, portanto.
Muitas vezes, no entanto, para dar validade a um argumento, apela-se para o testemunho de alguém com muita popularidade, mas que não possui conhecimento específico numa determinada área do saber para recomendar comportamentos que estão fora de seu campo de saber. Na internet, não são poucos os exemplos de vídeos e posts em que influencers sem nenhuma formação em nutrição recomendam dietas milagrosas.
Generalização apressada
Nesse caso, aquilo que é exceção é tomado como regra. Trata-se de um erro de raciocínio decorrente de uma generalização precipitada. Quando alguém, tentando argumentar em defesa do cigarro, afirma “É mentira que o fumo é prejudicial à saúde. Meu avô fumava muito desde muito jovem e morreu aos 96 anos”, a afirmativa “É mentira que o fumo é prejudicial à saúde” é falaciosa porque decorre de uma exceção, baseada numa amostra insignificante. No exemplo apresentado, um caso particular (meu avô).
Uma afirmação como “Se um dia eu for processado, defendo-me por conta própria, porque todos os advogados são desonestos” é falaciosa, pois se trata de generalização apressada. O fato de haver advogados desonestos não permite concluir que todos os advogados sejam desonestos. Tomou-se a exceção pela regra, o particular pelo geral.
Esse tipo de falácia pode ser observado em enunciados que são manifestações preconceituosas. Afirmativas como “O índio é preguiçoso”, “Os brasileiros só querem saber de futebol e carnaval”, “Motoristas de aplicativos são mal-educados”, “Todo político é corrupto” são exemplos de generalizações apressadas.
Para finalizar, uma observação importante. Os conceitos aqui apresentados tiveram por finalidade fornecer-lhe alguns subsídios importantes para reconhecer falsos argumentos nos textos e para que evite usá-los em seus próprios textos, sobretudo aqueles em que a argumentação se faz presente. Dentro dos limites deste artigo, limitei-me a apresentar, em linguagem simples, rudimentos dessa matéria tão complexa. Caso queira, ou sinta necessidade de aprofundar-se no assunto, sugiro a consulta a obras que tratam do tema.