O Manuscrito de Voynich é considerado um dos maiores mistérios da história da criptografia, da linguística e da biblioteconomia. Descoberto no início do século XX, esse livro antigo desafia estudiosos até os dias atuais com seu conteúdo incompreensível, linguagem desconhecida e ilustrações peculiares. O manuscrito é um verdadeiro quebra-cabeça que instiga curiosos, linguistas, historiadores e cientistas de diversas áreas, todos tentando desvendar seus enigmas.
A descoberta do manuscrito
O manuscrito foi descoberto em 1912 por Wilfrid Voynich, um livreiro e antiquário polonês naturalizado britânico, durante uma visita à Villa Mondragone, um colégio jesuíta em Frascati, próximo a Roma, na Itália. Os jesuítas, enfrentando dificuldades financeiras, decidiram vender discretamente parte de sua coleção de livros antigos. Foi nesse contexto que Voynich adquiriu o volume que mais tarde levaria seu nome.
Voynich imediatamente percebeu que tinha em mãos algo incomum: um livro escrito em uma linguagem que ninguém reconhecia, com páginas repletas de ilustrações estranhas. Fascinado, ele dedicou anos de sua vida à investigação do manuscrito, buscando decifrá-lo e entender sua origem.
Descrição física e conteúdo
O Manuscrito de Voynich é um códice de aproximadamente 240 páginas (algumas se perderam ao longo do tempo), medindo cerca de 23,5 x 16,2 cm. Ele é composto por pergaminho de alta qualidade, feito de pele de bezerro, e apresenta textos manuscritos acompanhados de diversas ilustrações coloridas.
O conteúdo do livro é dividido, aparentemente, em seções temáticas, com base nas imagens que o acompanham:
Botânica: a maior seção, com desenhos de plantas, muitas das quais não correspondem a nenhuma espécie conhecida.
Astronômica: ilustrações de estrelas, sóis, luas e zodíacos.
Biológica: representações de figuras femininas nuas em sistemas hidráulicos e banheiras interligadas.
Farmacêutica: frascos e ervas organizadas de maneira sistemática.
Receitas: parágrafos curtos acompanhados de estrelas ou marcadores, sugerindo listas ou instruções.
A escrita e o "alfabeto Voynich"
O manuscrito está escrito em um sistema de escrita desconhecido, apelidado de "voynichês". Ele não corresponde a nenhum idioma conhecido ou código já decifrado. A caligrafia é fluida e parece ter sido escrita com grande familiaridade, sugerindo que o autor dominava esse sistema.
Estatísticas linguísticas revelam padrões similares aos das línguas naturais, com frequência de palavras e combinações que lembram idiomas estruturados. Contudo, nenhuma correspondência foi encontrada até hoje. Isso gerou inúmeras hipóteses: seria uma linguagem codificada? Uma língua artificial? Ou um elaborado embuste?
Atribuição de autoria e datação
Não se sabe ao certo quem escreveu o manuscrito. No entanto, uma carta que o acompanhava quando foi encontrado mencionava que ele teria pertencido ao imperador Rodolfo II do Sacro Império Romano-Germânico (reinou entre 1576 e 1612), que acreditava que o autor fosse Roger Bacon, um frade franciscano e filósofo inglês do século XIII. Contudo, essa teoria é considerada pouco plausível atualmente.
Testes científicos realizados em 2009 pela Universidade do Arizona, com datação por carbono-14, indicaram que o pergaminho foi produzido entre 1404 e 1438, ou seja, no início do século XV, em plena Idade Média. Isso coloca sua origem mais de dois séculos após a morte de Roger Bacon, descartando-o como autor.
A caligrafia e os pigmentos utilizados nas ilustrações também são consistentes com essa datação medieval. Ainda assim, o autor permanece desconhecido.
Ilustrações misteriosas
As ilustrações do manuscrito são tão enigmáticas quanto sua escrita. Muitas plantas desenhadas não se assemelham a espécies reais conhecidas, o que levou alguns a sugerirem que seriam simbólicas ou imaginárias.
Na seção astronômica, há diagramas circulares e signos do zodíaco, enquanto a seção biológica mostra figuras femininas nuas, muitas vezes conectadas por tubos que parecem representar sistemas hidráulicos, vasos ou órgãos. Esses elementos levaram alguns estudiosos a teorizar que o manuscrito poderia ser um tratado alquímico, médico ou cosmológico medieval.
Teorias e tentativas de decifração
Ao longo do século XX e início do XXI, diversas teorias surgiram para explicar a origem e o conteúdo do manuscrito. Algumas das mais conhecidas incluem:
Códice cifrado: muitos acreditam que o texto está escrito em código, com um sistema de criptografia ainda não compreendido. Criptógrafos da Primeira e Segunda Guerra Mundial tentaram decifrá-lo sem sucesso.
Língua artificial: há quem acredite que o autor tenha criado um idioma artificial (como o esperanto), talvez como exercício filosófico ou esotérico.
Tratado científico perdido: alguns estudiosos supõem que o manuscrito seria uma enciclopédia de conhecimento medieval, escrita em uma língua vernacular codificada.
Embuste elaborado: uma das teorias mais controversas é a de que o manuscrito seria uma fraude, criada por um trapaceiro medieval ou mesmo por Wilfrid Voynich, para enganar colecionadores. No entanto, a complexidade e a consistência interna do texto, além da datação do pergaminho anterior ao nascimento de Voynich, enfraquecem essa hipótese.
Origem extraterrestre ou sobrenatural: como ocorre com muitos enigmas históricos, o Manuscrito de Voynich também foi alvo de teorias alternativas e pseudocientíficas, que sugerem contatos com alienígenas, mensagens ocultas ou conhecimento esotérico.
Mistério sem fim?
Apesar de mais de um século de estudos intensos, o Manuscrito de Voynich permanece indecifrado. Ele desafia linguistas, criptógrafos, historiadores e cientistas, que ainda tentam compreender sua origem e propósito. O que torna esse livro ainda mais fascinante é que, mesmo com os avanços tecnológicos atuais, como inteligência artificial e análise estatística de linguagem, nenhuma explicação definitiva foi encontrada.
Hoje, o manuscrito está preservado na Biblioteca Beinecke de Livros Raros e Manuscritos da Universidade de Yale, sob o código MS 408, onde continua a atrair estudiosos e curiosos do mundo inteiro.
O Manuscrito de Voynich é, ao mesmo tempo, um artefato histórico, uma obra de arte e um quebra-cabeça linguístico. Talvez, no futuro, novas descobertas revelem seus segredos. Até lá, ele permanecerá como um dos maiores mistérios não resolvidos da história da humanidade.