O Big Data e a história digital estão transformando a maneira como a história é produzida e consumida.
As questões postas pela História Digital se movimentam transdiciplinarmente e se desdobram por todos os âmbitos do fazer historiográfico. Elas tornam tênues as fronteiras tradicionais entre produção, circulação/consumo e armazenamento do conhecimento, além de apontar para novas formas de pesquisa, de ensino e de extensão. A produção historiográfica precisa, nesse sentido, levar em conta, por um lado, os novos agentes envolvidos nesses processos e as suas formas de combinação e de contribuição, indicando, assim, um novo entendimento da noção de autoria (como, por exemplo, podemos pensar a relação entre humanos e inteligência artificial?). Por outro lado, a historiografia deve se atentar a teorias da interpretação possíveis capazes de articular métodos, técnicas e ferramentas de pesquisa com (e a partir de) objetos digitais em seu caráter simbólico e material.
(Revista de Teoria da História, UFG)
História ambiental
Estudiosos como José Augusto Pádua têm trabalhado na interseção entre história ambiental e social, examinando como as mudanças ambientais influenciaram as estruturas sociais e as experiências individuais ao longo do tempo.
José Augusto Pádua é um importante nome no campo da história ambiental. Ele contribuiu significativamente para a compreensão das relações entre sistemas sociais e naturais ao longo do tempo. Vamos explorar algumas de suas ideias:
História ambiental como investigação aberta
Pádua define a história ambiental como uma investigação aberta e não reducionista das interações entre sistemas sociais e sistemas naturais. Em vez de simplificar essas relações, a abordagem ambiental considera sua complexidade e dinâmica.
Mudanças no entendimento do mundo natural
Pádua destaca três mudanças cruciais no entendimento humano do mundo natural:
A noção de que o homem pode causar sérios impactos no meio ambiente e levar à sua degradação.
A ampliação dos marcos cronológicos da Terra para bilhões de anos.
A percepção da natureza como um agente histórico, sujeita a processos contínuos de construção e reconstrução.
Conexões com outros Processos históricos
Além das transformações urbanas e industriais, Pádua relaciona o surgimento da consciência ambiental a outros processos históricos anteriores. Ele destaca como a natureza desempenha um papel fundamental na história humana, influenciando e sendo influenciada por nossas ações.
Em resumo, a história ambiental nos permite entender como as mudanças no ambiente afetam as sociedades e como as ações humanas moldam o mundo natural. José Augusto Pádua é um dos estudiosos que nos guiam nessa exploração interdisciplinar e crítica.
História das mulheres e gênero
Pesquisas sobre a história das mulheres e das relações de gênero no Brasil, como os trabalhos de Mary del Priore, utilizam tanto análises estruturais quanto relatos pessoais para explorar como as mulheres experimentaram e influenciaram processos históricos maiores. A trajetória da formação do campo historiográfico intitulado História das Mulheres e das Relações de Gênero no Brasil é um tema relevante.
Desde a década de 1980, obras publicadas e pesquisas têm contribuído para esse campo. As categorias “mulher”, “mulheres” e “relações de gênero” são frequentemente discutidas e disputadas. Além disso, a historiografia brasileira tem explorado o cotidiano feminino, sexualidade, maternidade, educação, trabalho e participação política das mulheres ao longo dos séculos.
Vale ressaltar que, durante a ditadura militar no Brasil (1964–1985), mulheres também estiveram envolvidas em ações políticas contra a censura e a tirania. A história das mulheres e das relações de gênero continua sendo um campo em construção, com potencial político e subversivo.
História subalterna
Influenciados por teóricos como Gayatri Spivak e Dipesh Chakrabarty, historiadores brasileiros têm buscado dar voz a grupos subalternos, integrando perspectivas micro e macro para revelar as complexidades da história do país. É fascinante observar como os historiadores brasileiros têm se inspirado em teóricos como Gayatri Chakravorty Spivak e Dipesh Chakrabarty para explorar a história do país de maneira mais abrangente e inclusiva. Vamos dar uma olhada mais de perto em alguns desses conceitos:
Gayatri Chakravorty Spivak
Spivak é uma crítica e teórica indiana, conhecida por seu artigo Can the Subaltern Speak? (Pode o subalterno falar?). Nesse texto, ela aborda a questão da subalternidade, referindo-se às vozes e experiências daqueles que são marginalizados e oprimidos dentro das estruturas de poder dominantes.
Ela também explora a divisão internacional do trabalho como um mecanismo epistemológico para desconstruir o imperialismo e o discurso colonial, revelando a profundidade pré-discursiva dessas configurações.
Dipesh Chakrabarty
Chakrabarty é um historiador indiano que contribuiu significativamente para os Estudos Subalternos. Ele enfatiza a importância de integrar perspectivas micro e macro na pesquisa histórica. Isso significa considerar tanto as experiências individuais quanto os contextos mais amplos para entender as complexidades da história.
Grupos subalternos
Os historiadores brasileiros têm se dedicado a dar voz a esses grupos, que muitas vezes foram excluídos dos registros históricos tradicionais.
Ao integrar perspectivas micro (indivíduos, comunidades) e macro (estruturas sociais, políticas), eles conseguem revelar nuances e desafiar narrativas dominantes.
Em resumo, a influência desses teóricos tem enriquecido a pesquisa histórica no Brasil, permitindo uma compreensão mais completa e sensível das complexidades do passado.
Conclusão
A combinação dessas abordagens permite uma compreensão mais rica e multifacetada da história do Brasil, reconhecendo a importância dos grandes processos históricos enquanto valoriza as experiências e vozes individuais. Este esforço contínuo reflete a vitalidade e a evolução da historiografia brasileira no século XXI.
A abordagem que você mencionou é fundamental para uma compreensão mais completa da história do Brasil. Ao considerar tanto os processos históricos em larga escala quanto as experiências individuais, os historiadores podem capturar a complexidade e a diversidade desse país. A historiografia brasileira continua a evoluir, adaptando-se às novas perspectivas e desafios do século XXI.
Referências
1 Desafios do historiador na Era Digital.
2 As bases teóricas da história ambiental.
3 História Ambiental: historiografia comprometida com a vida.
4 A história ambiental no Brasil e os seus clássicos.
5 A emergência da pesquisa da história das mulheres e das relações de gênero.
6 História das Mulheres no Brasil.
7 A relevância social e política da história das mulheres no Brasil.
8 Gênero e história das mulheres na historiografia.
9 Spivak, pós-colonialismo e antropologia: pensar o pensamento e o colonialismo-em-branco dos nossos conceitos.
10 O pensamento de Gayatri Chakravorty Spivak: o lastro material da performatividade do tropo.
11 Quem é: Gayatri Chakravorty Spivak na Filosofia.