Ora, dezembro é o mês das reflexões acerca do ano prestes a terminar e onde também nos preparamos para o que está quase a começar – é o mês onde vamos, por assim dizer, limpar a casa: livramo-nos das coisas menos boas do ano presente e arrumar a casa para a chegada do novo, que acima de tudo se quer melhor do que anterior. Se não for melhor, pelo menos que não seja pior que o ano velho! Mas com tanta tristeza e miséria por esse mundo fora torna-se difícil acreditar nisso, que no meio de tanta maldade, ainda existe bondade nos corações das pessoas.

Porque sim, este mês de dezembro, também deveria ser o mês onde além das prendas que nos lembramos de comprar para toda a família, exclusivamente para esta data festiva, deveríamos lembrarmo-nos mais do outro. As festividades desta época do ano são propícias a isso, porque são as festividades da família, mas não nos deveríamos lembrar da família e de estar presentes apenas nesta data, mas sim durante todo o ano! O que é que tem a mais o dia 25 de dezembro do que qualquer dia do ano? Nada, a não ser a referência à data festiva, mas como se diz na gíria “o Natal é quando o Homem quiser!” e, por isso mesmo, é que acho que a família não deveria ser celebrada apenas nesta data, mas sim todos os dias.

Imagino que neste período surjam nas nossas cabeças muitas possíveis reflexões sobre o ano que está a extinguir-se começando pelas boas ações praticadas, mas antes das reflexões vêm as lamentações por tudo prometemos fazer e não fizemos desde; cumprir a lista de objetivos do novo ano e que a meio do primeiro mês caiu por terra, o dinheiro que deveria ter sido poupado e não foi, as coisas que deveriam ter sido feitas, mas que foram sendo adiadas e por aí fora. O processo é sempre o mesmo: no início do ano iremos traçar novos objetivos para sermos melhores pessoas, poupar determinada quantidade de dinheiro, fazer não sei quantas viagens, etc., mas no fim do ano irão surgir as mesmas lamentações por tudo aquilo que não fizemos… A ideia é boa, mas lá pelo meio, a pessoa perde-se. Se as pessoas sabem que não vão cumprir aqueles objetivos, porque é que se dão ao trabalho de os escrever se quer?

Por esta altura, já devem ter percebido que este artigo se prende com as coisas que me irritam no Natal. Sim, admito não é a minha festividade do ano favorita. Não me julguem, não podemos gostar todos do mesmo. Outra coisa que me irrita no Natal são as decorações, não as decorações em si, mas o timing em que são colocadas – ao longo dos anos tenho-me vindo a aperceber que as decorações são colocadas cada vez mais cedo. Por exemplo, em 2024 no dia de Halloween vi um centro comercial com decorações de Natal e de Halloween, quando faltava ainda um mês para o Natal! Colocarem-se decorações natalícias depois da meada de novembro, acho tendencioso, mas aceito. Agora, em outubro não me faz sentido.

Por último, mas não menos importante vêm os consumismos, não que estes me irritem, mas deixam-me a pensar. Compreendo que as crianças vivam para esta época, pois vibram com a ideia de que o Pai Natal vem pela madrugada e lhe deixa as prendas no sapatinho. Não consigo conceber que esta época, que deveria ser da família e de estar presente, sirva para gerar tais consumismos desenfreados por parte das pessoas. E quem se aproveita e fica a lucrar com tais consumismos nesta época?

As grandes marcas espalhadas por esse país e mundo fora. Percebe-se que o dinheiro tem de girar, pois não pode ficar parado debaixo do colchão e a riqueza também se faz através de trocas comerciais e transação de dinheiro, mas levar as pessoas a consumir “sem controlo” faz-me confusão. Sobretudo, nesta época em que o principal propósito parece ser dar a melhor prenda e a mais cara do que estar com as pessoas e ter tempo de qualidade com os nossos. Acho que os valores da nossa sociedade sofreram uma transformação de tal forma radical, que o mal de antigamente é o bom dos nossos dias e vice-versa. Entristece-me viver numa sociedade que se importa muito mais com as aparências exteriores e com os bens materiais que se possui ou não do que com os valores e educação transmitidos.

Irritações à parte que esta época festiva sirva para repensar nas atitudes que temos para com o outro, que sirva para deixarmos de ser sovinas com os sentimentos quando o outro mais precisa de um abraço. Deixemos as rivalidades e as vinganças para trás das costas, pois não nos trazem nada de bom. Que a maldade comece a dar tréguas e a paz impere por fim! Já chega de guerras e conflitos.