“Curitibano de coração, mas gaúcho de nascimento e de cultura”. É deste jeito que gosto de me apresentar quando perguntam sobre minhas origens. Sou um fiel apaixonado pela cultura gaúcha. Gosto e tenho o hábito de realizar muitas práticas comuns da cultura do Rio Grande do sul. Este texto é dedicado a contar um pouco das belas tradições que este Estado tem.
Em primeiro lugar, escrevo sobre o chimarrão. A revista Meer já possui um texto específico para falar sobre esta bebida. Um belo texto falando sobre as propriedades desta bebida. O que escrevo aqui vai um pouco mais além. Ressalto o valor do encontro que o chimarrão traz. Geralmente, é difícil encontrarmos pessoas tomando chimarrão sozinhas. Ele sempre acompanha uma roda de conversa, boas risadas e até conselhos sábios para a vida.
Vindo das influências indígenas, o chimarrão é, além de uma bebida medicinal, com qualidades diuréticas, uma oportunidade para “colocar o papo em dia”, se esquentando nos dias mais frios e aproximando pessoas. A erva, “ilex paraguanesis”, com sua cor verde e de sabor amargo é, sem dúvidas, o grande símbolo da cultura gaúcha.
Outro símbolo da cultura Rio Grandense é o churrasco, “iguaria campeira”, como diz a música de título homônimo, é, sem sombra de dúvidas, a comida que mais representa o Estado. Geralmente feito aos domingos, dia em que a família se encontra, nada mais é do que a carne assada na brasa, seja do carvão ou da lenha. A meu ver, é uma comida, embora simples, de bastante complexidade, pois cada pessoa possui um gosto específico para o ponto da carne, a quantidade de sal, tipo de tempero (geralmente não se usa nenhum tipo).
Sentar-se ao redor da churrasqueira ou do braseiro, contar causos, dar risadas, fazer algumas fofocas, enquanto o churrasqueiro (o mais experiente do grupo) prepara e cuida da carne, é de tamanha grandeza, pois une pessoas, reúne amigos, celebra a vida, enfim...
A música tradicionalista também é uma grande riqueza que o Estado faz questão de conservar. Com ritmos bem-marcados, sempre acompanhados da sanfona (gaita/acordeon), de um violão e instrumentos de percussão (cajon, bumbo leguero, pandeiro), são um convite para a festa. Para tanto, cito aqui grandes nomes e grupos da música regionalista que, embora pouco conhecidos no cenário nacional, são ícones e figuras marcantes da música gauchesca: Mano Lima, Porca Véia, Os Mirins (do saudoso Albino Manique), Os Monarcas, Os Serranos, João Chagas Leite, João Luiz Corrêa, Baitaca, Gaúcho da Fronteira, entre outros tantos que teria de fazer um texto específico para falar sobre cada um deles.
Talvez, no cenário atual, a música gaúcha tenha ganhado um pouco mais de visibilidade por conta da música “Do Fundo da Grota”, do Baitaca, que foi usada em alguns memes.
Para acompanhar a música, a dança também marca sua presença. Com ritmos fortes, como a vaneira e vaneirão, milonga, chamarra, xote, chamamé, valsa, que são herdados de culturas vindas de outros países, e o bugio, ritmo autêntico do Rio Grande do Sul. Destaco aqui este último ritmo, pois é o único que vem diretamente de influências sul riograndenses.
O ritmo do bugio provém do macaco de mesmo nome. O barulho que o macaco faz nas matas foi adicionado à baixaria da sanfona (som mais grave) e o jeito que o bicho anda, meio de lado, foi imitado na dança. O grupo “Os Serranos” é o que mais difunde o ritmo pelo Estado, com música como “Bugio Novo”, “Bugio do Chico”, “Bugio dos bailes”, “Bugio do Rio Grande”. Penso que, a quem tiver tempo, vale a pena dar uma conferida.
Continuando sobre a dança, o espaço utilizado para a realização de bailes é outra característica da cultura gaúcha. Além dos Centro de Tradições Gaúchas (CTG’s), qualquer salão, com espaço para dança, serve para a realização de festas e bailes. A prenda, sempre com um vestido longo, e o peão, sempre pilchado (camisa, lenço, bota e bombacha), são os protagonistas das danças. O detalhe é notar o nível de conhecimento sobre os passos. Quanto mais passos (afigurados), maior o indício de que a pessoa domina os ritmos das danças.
Ainda destaco o linguajar, com sotaque carregado e cheio de gírias e adágios que só um gaúcho entende. Palavras como o “bah”, “tchê”, “capaz”, já fazem parte do dicionário deste povo. Além das palavras, as frases que são ditas, em um contexto específico, mas que, apesar de parecer de duplo sentido, são muito claras para quem, conhecendo, as escuta. Destaco algumas:
- Me caiu os butiá do bolso!
- Não podemos se entregar pros home!
- Buenas e m’espalho.
- Te larguei para as cobras.
Por fim, embora a cultura gaúcha não seja tão conhecida Brasil afora, a riqueza e o significado dela é motivo de muito orgulho para o Brasil, pois fala da história de um povo que, tendo passado por diversas situações ao longo dos anos, como guerras, imigrações e, nestes últimos tempos, uma enchente.
Fica aí o convite para conhecer um pouco mais a cultura deste pedaço do Brasil!