No contexto brasileiro, muito embora se defenda, em campanhas políticas, a valorização do professor, na prática, em muitos estados brasileiros não se paga sequer o piso básico do salário de professor, estabelecido pela Lei Federal nº 11.738/08, também conhecida como Lei do Piso Nacional do Magistério. Tal situação leva a um aviltamento salarial. Aquisição de livros e aprimoramento são medidas sempre proteladas em razão dos ínfimos proventos que não permitem sequer vida digna, o que um gera consequente desinteresse da juventude pela carreira docente. Professores que recorrem à greve são criticados, mas há que se considerar que é a maneira extrema de se pedir a justa reposição salarial.
Família e escola são parceiras fundamentais na elaboração de políticas públicas para a formação das futuras gerações e, se os professores não são valorizados, acabam se desmotivando para assumirem sua nobre função. Quando falamos em valorização do professor, não falamos apenas de salário, as condições de trabalho também precárias. Salas superlotadas na educação básica acabam por tornar quase impossível o trabalho docente, fora a indisciplina que é gerada juntamente com muitas outras situações de estresse que comprometem o aprendizado.
Evidentemente que toda profissão tem seu mérito, mas a carreira docente tem um mérito especial porque nenhuma pessoa se torna um grande profissional sem a iniciação em bancos escolares que ensinam a ler e a escrever. O professor forma todas as profissões. Se queremos que a profissão do professor tenha pretendentes no futuro, é relevante que os governos passem a valorizar o professor.
Paulo Freire, patrono da educação brasileira, defendia que “a educação não transforma a sociedade, a educação transforma pessoas e pessoas transformam a sociedade”. Nesse sentido, é de grande importância uma educação emancipadora que leve cada estudante a pensar por si próprio e a aprender a conviver democraticamente na sociedade. A educação intermediada pelo professor tem o poder de transformar a vida dos alunos e estes a construírem uma sociedade do futuro mais fraterna, mais justa e mais solidária.
O grande ideal para uma educação do futuro é a emancipação, seguindo os ideais de uma educação pública laica e emancipadora. Em uma educação emancipadora, não se transmite apenas conteúdos, mas conduz o aluno a pensar por si próprio, para que, assim, aprenda a contribuir na comunidade em que vive, respeitando o próximo, agindo ética e autonomamente.
Desafiador é garantir um ambiente agradável e saudável de trabalho, tendo em vista que as estatísticas demonstram ocorrências de afastamento por motivos de saúde mental dos professores que sofrem com a sobrecarga de trabalho em razão das péssimas condições. Nesse sentido, muito se defende tecnologias na educação e elas realmente vieram para revolucionar a sociedade. É preciso entender, no entanto, que não vivemos sem educação mediada pelo professor; em outras palavras: quem educa são sempre professores, seres humanos. Utilizam-se, sim, tecnologias, mas a educação será sempre uma atividade mediada pelo ser humano, pelo professor.
Não é só o Estado que precisa valorizar os professores, mas principalmente os pais são convidados a serem grandes parceiros dos professores, primeiramente dando a educação de bons modos e cobrarem que seus filhos sejam disciplinados no ambiente escolar. Num segundo momento, na medida do possível acompanharem as tarefas, os cadernos de seus filhos, sempre buscando acompanhar de perto a realização ou não das tarefas pelos filhos e também acompanhando as reuniões de pais e responsáveis.
Sem mudanças educacionais não poderemos mudar o cenário com que nos deparamos mundialmente. Os professores são líderes muito importantes na transformação da sociedade que buscamos para o mundo. Educar para a paz, para o respeito da dignidade da pessoa humana são valores essenciais de uma sociedade que respeite os valores essenciais de uma sociedade pluralista, diversa, mas respeitosa com as diferenças e procurando valorizar aquilo que nos une enquanto ideal de uma sociedade em que as desigualdade sociais não sejam tão gritantes.
Paulo Freire nos indica sobre a primazia da justiça social em frente a questão da caridade. É importante sim caridade, mas mais importante ainda é a questão da justiça social. É por meio da justiça social que temos condições de perceber as transformações da sociedade em que vivemos com o respeito pelos direitos mínimos de todo cidadão.
Enfim, no Brasil e no contexto internacional, a carreira docente vem ganhando um desmerecimento que precisa ser revertido. Países que investem na valorização docente tendem a serem mais promissores no âmbito da educação, assim, é fundamental que busquemos valorizar a educação como fonte de transformação social.
É inegável que sem mudar os parâmetros e as condições de trabalho para os professores discursos sobre valorização da educação não passa de demagogia. Portanto, uma educação de qualidade passa pela concretização da parceria entre professor e escola e também pela melhoria de condições de trabalho para professores, apoio à saúde mental dos mesmos e remuneração com plano de carreira condizente e de igual valorização à profissionais de outras áreas com a mesma graduação de estudos.