Venho com este artigo atualizar alguns detalhes deste tema vanguardista que, a pedido dos estudantes de Relações Internacionais da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, convidaram-me a explorar e, apresentar-lhes.

Primeiramente dentro do estudo da Economia, precisamos relembrar que após momentos de grande escassez excessivamente duradouros, teremos sim um enorme crescimento económico e produtivo inercial, depois do período em questão. Isso é óbvio pois, toda a retenção de demanda e oferta desprender-se-á e, libera todo um imensurável desejo e necessidades económicas, que o estado de exceção contraiu artificial mas, necessariamente. Não podemos negar que, convém algum evento inédito ou imprevisível para destravar o crescimento económico, o qual tenha sido contido por alguma ação anti-concorrencial, recessão ou mesmo sanções comerciais diversas e até, um excesso de protecionismo.

O caso Russo e Ucraniano é um exemplo real e contemporâneo destes efeitos, que inclusive sugere estudos controversos dos resultados esperados e alcançados, como o de que o objetivo principal seria para enfraquecer um dos lados ou, principalmente o agressor bélico ou, o adversário econômico. Relatam as últimas pesquisas sobre sanções económicas que, em 30% sim resultariam nos objetivos esperados1. Entretanto, é um número bastante expressivo quando avaliado segundo os seus resultados económicos, não sendo então desprezível, como técnica de ação em determinado momento e para fins específicos.

Curiosamente, quando tratar-se de uma potência económica de expressão, e como é no caso destas duas nações vizinhas e líderes nas produções mundiais de algumas commodities, relevantes e indispensáveis para os mercados internacionais, variações de resultados podem aparecer e se confirmarem. Esta escassez vai seguramente resultar numa inflação de preços bem como, uma possível maior lucratividade aos intervenientes que, provocarão o aparecimento de algum mercado paralelo, consequentemente mais bem remunerado, devido aos riscos envolvidos e ao aumento considerável da demanda.

Essas sanções estabelecidas contra pessoas, empresas, regiões e para determinados produtos, interferem diretamente no comportamento mercadológico em questão bem como, nos próprios preços, principalmente. Tratando-se do mercado de importação e exportação global, interfere em toda a cadeia mundial de produção, distribuição e comércio. Este artigo vem mesmo a ser complementar nos meus livros de Diplomacia Moderna, Económica e Comercial, preparados, editados e com lançamento neste mesmo período de 2014 á 2024, que não especificaram este assunto no seu todo. Mas em partes e, subtilmente deixando margem às mesmas interpretações, a partir dos conceitos e considerações dos seus assuntos principais e correlatos.

No caso Russo, muitas empresas ocidentais que abandonaram aquele mercado foram substituídas, encampadas, absorvidas ou controladas então por concorrentes, empregados ou ainda assim, pelo próprio governo e seus representantes económicos. As demandas e as oportunidades continuaram existindo dentro dos limites nacionais e do seu povo porém, multinacionais presentes nesta atmosfera, passam a correr riscos políticos e económicos das mais diversas matizes, mais ou menos cinzentos: desde o fim do fornecimento de condições logísticas ou de matérias-primas, até o estrangulamento financeiro, de pagamentos ou repatriação de lucros. O que seguramente interfere de forma vital, na sobrevivência global de qualquer multinacional económica. Um dos itens principais desta questão, refere-se ao sistema de pagamentos internacionais, o famoso SWIFT2. Outro exemplo, foi a extinção da rede de fast-food McDonald's naquelas paragens.

No caso Ucraniano por outro lado, primeiramente o ataque e a conquista da saída marítima e portuária da Crimea, em 2013/14, deu início ao processo bélico que se sucedeu após os novos imprevistos e comportamentos políticos, dos aliados internacionais destas duas nações antagonistas. Como grandes produtores e fornecedores mundiais de trigo, gás, petróleo, defensivos agrícolas, entre outras matérias-primas intermediárias, a dificuldade de produção e distribuição, interferiu diretamente nas disponibilidades e precificação ao redor do mundo.

Segundo as novas classificações económicas mundiais, o PIB Russo cresceu. Sim, parece que as sanções valorizaram a economia Russa, ao invés. Entretanto, desde a crise bancária dos EUA em 2008/20103, quando a financeirização internacional colocada em questão precisou ser corrigida através de emissões de moeda, desvalorização e arranjos cambiais, valorização do Petróleo, além de alguma reinserção da economia digital, provocada pela intercorrente pandemia mundial.

Todos estes fatores, transformaram a geopolítica económica internacional irreversivelmente. Inclusive, ressuscitando insatisfações a leste e sul da Rússia, no Oriente Médio. Todos estes fatores e reflexos, direta e indiretamente de alguma forma nesta nova fase globalização mundial, estão correlacionados ou interligados. Sejam conscientes e inconscientes, os resultados alcançados sempre serão afetados pelo acaso imponderável e ainda, pelo excesso ou insuficiência das medidas adoptadas, além dos efeitos naturais, como os do clima.

Empresas, organizações e pessoas individuais relevantes, podem ser alvo destas sanções, sejam elas políticas, financeiras e/ou comerciais e económicas, no modo que melhor aprouver às tentativas de inibição e reversão das agressões em curso. Guerras tarifárias e cambiais também podem ter efeito nestas situações e, com o fim de inibir o comércio e o financiamento das operações e ações agressivas bem como, o escalonamento das mesmas. Dissuadir e reverter o processo bélico e destrutivo, pode ser do interesse de outros atores não participantes diretos no conflito mas, que também são afetados de diversas formas, por tais resoluções. Portanto, ações compensatórias não relacionadas ao evento, também podem estar obrigadas a acontecer, com o objectivo de equilibrar de alguma forma os prejuízos inerentes ao referido conflito.

Na entrada do novo ano de 2025, uma nova administração norte-americana, bem como novas administrações européias também, assumirão funções dentro em breve e, podem provocar novos rumos para essa realidade. Novos rumos estáveis, como sempre o é, após tempestades económicas, políticas ou não. Considerando que na ONU, o Secretário Geral e português, Dr. António Guterres foi acordado e alçado pelas lideranças de EUA e Rússia conjuntamente, quiçá combinarão com o Presidente Europeu também português e outro Dr. António, o Costa.

É também curioso saber que, Nubar Gulbenkian na sua autobiografia, diz:

...since Castro came into power and has taken over all the cigars factories..., my experience also shows the futility of trying to impose a boycott. Just before the revolution in Cuba, I sent out an order for cigars. I received a reply after the revolution which said that my order would be executed in due course and I would be advised when they were ready for shipment. A few weeks later, I was told that my cigars would be shipped by Russian airline from Cuba to Czechoslovakia and then by Czech airline from Czechoslovakia to London. I was asked, however, to pay for them not, as hitherto, in U.S. dollars, because Cuba's accounts in the States had been blocked, but by a cheque on Canada in favour of the Moscow Narodny Bank..."4

Portanto, as sanções são ações coercitivas para, ok diplomaticamente, se alcançar objetivos políticos, procurando evitar ou minimizar conflitos. Os conselhos de segurança e política externa da ONU e da UE, seguem nestas decisões, todos os preceitos regulamentares do Direto Internacional e dos Direitos Humanos, inclusive. E nestes casos multinacionais, veremos ainda a posição portuguesa como privilegiada e, de certa maneira, neutral, uma vez considerado o ponto de vista de haverem escapes estratégicos possíveis, através da CPLP5 e, com a participação do seu maior associado deste, o Brasil, também membro nos BRICS6, por exemplo.

Notas

1 Universidade Drexel, Diplomacia Coercitiva desde 1950.
2 Sistema financeiro internacional de pagamentos financeiros.
3 Lehmann Brothers, caso Madoff.
4 Pantaraxia, an autobiography. Hutchinson & Co. (Publishers) LTD, London, 1965.
5 Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
6 Brasil, Rússia, India, China e South Africa.
Sanções Económicas / Semana da Diplomacia Económica.