É bastante antiga a tendência em se agrupar os textos literários em classes. A mais antiga classificação que se conhece na cultura ocidental remonta a Platão, que em sua obra A República, faz menção à comédia, à tragédia, à epopeia e ao ditirambo, composição poética em louvor ao deus grego Diónisos.

Também na Antiguidade grega, outros filósofo, Aristóteles, propunha uma classificação dos gêneros literários que se observa ainda hoje. Para esse filósofo, os gêneros literários devem ser classificados de acordo com sua função estética.

Para entender a classificação aristotélica, temos primeiro de nos debruçar num conceito fundamental: o de mímesis. Em termos mais amplos, mímesis designa imitação, representação.

Platão considerava que a arte era imitação (representação) das coisas, que, por sua vez, eram imitação das ideias. Para Aristóteles, os gêneros literários seriam formas de imitação (representação) e variariam em função do objeto, do modo e do meio.

Para Aristótes, quanto ao objeto, arte pode representar os homens melhores, piores ou iguais a nós. Na epopeia e na tragédia, os homens são representados melhores do que os homens comuns. Na comédia, pelo contrário, os homens são representados piores do que os homens comuns, sendo a representação dos maus costumes, particularmente do ridículo. Em suma: na epopeia e na tragédia, a melhoração, enquanto na comédia há pejoração, sempre em relação ao homem comum.

Ao falar em melhores ou piores que um modelo (o homem comum), Aristóteles ressalta que os seres representados pela arte (seres ficcionais) têm características éticas como os seres reais. Se levarmos em conta, o modo como ocorre a representação, temos a narração (diegesis), que é o relato da ação, e o drama, uma forma de representação que coloca as personagens em ação diante de nós.

No contexto da Poética, de Aristóteles, o épico corresponde à narrativa em versos metrificados, como ocorre nos poemas épicos Ilíada e na Odisseia, atribuídos a Homero. O trágico consiste na representação de ações humanas de caráter elevado, visando à catarse, isto é, a purificação das emoções, como ocorre em Édipo Rei e Antígona, de Sófocles. O cômico consiste na imitação de maus costumes, de vícios, do ridículo, visando provocasr o riso, como faz Aristófanes em As nuvens e As rãs.

Aristóteles fala ainda que a imitação pode também variar segundo o meio, dependendo da forma como o verso é utilizado. Para esse filósofo, a mímesis tem como componente estrutural a verossimilhança, isto é, a imitação deve parecer verdadeira. Para isso, deve resultar da harmonia e do encadeamento lógico das partes, o que não impede que retrate acontecimentos fantásticos.

A verossimilhança diz respeito à organização interna da obra, equivalendo aproximadamente ao que denominamos atualmente por coerência. Na Poética, Aristóleles faz referência explícita a três gêneros: o épico , o trágico e o cômico.

O texto da Poética, considerado o marco da teoria literária ocidental, não é muito claro, pois chegou até nós com várias lacunas, por isso os estudiosos costumam apresentar uma divisão simplificada dos gêneros literários, classificando-os em lírico, épico e dramático. Essa classificação tem a vantagem de apresentar os gêneros literários com base na intencionalidade do produtor.

No lírico, a intenção é expressar o eu individual; no épico, narrar; no dramático, representar. Acrescentamos que essa classificação também pode apresentar problemas, pois agupa em gêneros coisas bastante heterogêneas. O romance, por exemplo, segundo essa classificação, pertence ao gênero épico, o que significa dizer que obras bastante diferentes como Dom Casmurro, de Machado de Assis, e Os lusíadas, de Luís de Camões, pertencem ao mesmo gênero.

Uma subclassificação dos gêneros literários quanto à estrutura composicional tem o condão de resolver esse problema, denominando a obra de Machado de Assis como romance e a de Camões como poema épico (poema porque está escrito em versos; épico porque narra ações memoráveis), ou epopeia.

Uma mesma subclassificação pode abrigar obras bastante diferentes, por isso costuma-se desmembrar uma subclasse em tipos. O romance, por exemplo, pode ser policial, de aventura, psicológico, histórico, de costumes etc. O conto pode ser fantástico, de fada, de terror, de mistério etc.

Podemos observar que, mesmo usando uma classificação em que se enquadram as obras em subtipos, o problema da classificação dos gêneros ainda persiste, pois chamamos de gênero formas de expressão (lírica, épica e dramática) e também o produto resultante dessas formas de expressão (o conto, o romance, a poesia etc.).

O termo gênero literário é empregado para designar categorias historicamente definidas como o romance, o conto, a epopeia, a novela etc. e modo literário é utilizado para designar as categorias meta-históricas (lírico, épico, e dramático), que representam potencialidades discursivas atualizáveis em textos pertencentes a um gênero. Assim, o romance e a epopeia seriam gêneros literários do modo épico; a tragédia e a comédia, do modo dramático; o soneto e a ode, do modo lírico.

O fundamental é encarar a questão dos gêneros literários não como uma tipologia fechada, uma vez que a classificação de uma obra num determinado gênero não deve levar em conta apenas os aspectos imanentes, mas também sua função social, valores culturais e os horizontes de expectativas do receptor, que guiará a leitura.

Ressaltamos ainda que pode ocorrer a interpenetração de gêneros e, do ponto de vista estilístico, podemos ter em textos épicos ou dramáticos trechos líricos (vide o episódio de Inês de Castro, um texto lírico, em Os lusíadas, um texto épico) e poemas líricos que são declamados na peças teatrais (como em Calabar: o elogio da traição, de Chico Buarque e Ruy Guerra).

Os gêneros historicamente podem desaparecer, metamorfesear-se, marginalizar-se etc.; enfim, o sistema de gêneros é aberto, uma vez que está conexionado ao sistema histórico-social. Tanto os gêneros quanto os modos literários são convenções de natureza social armazenadas na memória e que fazem parte da competência textual, ou seja, é esse conhecimento que possibilita ao autor produzir um texto literário e ao leitor compreendê-lo.

Nos próximos artigos, trataremos especificamente dos gêneros lírico, épico e dramático.