Ao lutar pela tão sonhada graduação, muitos jovens enfrentam uma grande transformação de vida, não apenas por saírem de casa e mudarem de cidade, especialmente para aqueles que vêm de cidades pequenas, mas também por terem que adquirir uma certa maturidade e responsabilidade nessa nova jornada, onde perceberão que são responsáveis por si mesmos.

A faculdade é a porta de entrada para ser um bom profissional e ter boas oportunidades no mercado de trabalho e, como consequência disso tudo, alcançar a tão sonhada independência financeira. Porém, esse caminho tende a ser bastante desafiador, pois, para a maioria dos estudantes, não se limita a estudar, mas também a arrumar um estágio remunerado na área ou algum outro emprego para se sustentar e aprender coisas que antes não eram necessárias se preocupar devido ao apoio diário dos pais.

Segundo o G1, mais de 12 milhões de pessoas moram sozinhas no Brasil (2022) e, em pesquisa realizada pela empresa Euromonitor International, estimou-se que, entre os anos de 2019 e 2030, os lares ocupados por uma só pessoa irão crescer 23,4% em todo o mundo. Além de ser um ato corajoso, principalmente para aqueles que saem de suas cidades natais, isso significa arriscar sair da zona de conforto, levando toda sua vida para um lugar desconhecido.

É uma experiência que todos deveriam ter, não somente para adquirir independência, mas também para se autoconhecer, para cultivar o amor-próprio, se sentir seguro com sua própria companhia e não deixar de viver momentos incríveis por não estar ao lado de alguém, pois, muitas vezes, desistimos de nos divertir por conta do julgamento alheio.

Pensamentos como “será que vão pensar que sou solitária, que não tenho amigos ou que sou introvertida?” sempre vêm à cabeça ao ter que tomar a decisão de ir a um lugar novo sozinho, e essas reflexões muitas vezes geram frustrações e arrependimentos quando não aproveitamos o que queríamos ter vivido por medo.

Conforme a Revista Galileu, um artigo publicado pelo Journal of Consumer Research, conduzido por cientistas das universidades de Maryland e Georgetown, revelou que aqueles que pensam que se sentiriam constrangidos por fazerem programas sozinhos podem estar equivocados, além de salientar que esse medo de “parecer sem amigos” deve ser superado até mesmo por aqueles que realmente têm poucos amigos, pois sair é uma forma de conhecer pessoas e não de entrar em um ciclo vicioso de não sair por não ter amigos e não fazer amigos por não sair de casa.

Bruno Roger, que se formou em Direito na Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas (Facisa), em Itamaraju - Bahia, dedica-se hoje a auxiliar outros estudantes da área a se posicionarem nas redes sociais e construírem uma imagem profissional ainda na graduação. Ele se considera uma pessoa completamente diferente após a mudança de cidade e a experiência de morar sozinho.

“Me mudei para uma cidade a mais de 600 km de distância onde não tinha nenhum amigo ou familiar. Precisei aprender e desenvolver hábitos para aproveitar minha própria companhia, o que me fez adquirir uma grande independência. Hoje me considero uma pessoa totalmente diferente, pois tive que amadurecer e mudar minha visão de mundo e ideais. Foi uma fase de grandes descobertas também, o que moldou o profissional que me tornei hoje”, declarou Bruno.

A aluna Mila Cavalcante, graduanda em Direito pela Faculdade Independente do Nordeste (Fainor), em Vitória da Conquista - BA, de origem humilde e criada por uma mãe solo, inicialmente demonstrou receio quanto aos custos da mudança e da graduação, mas se mostrou entusiasmada com a nova etapa que enfrentaria, que envolveu uma variedade de sentimentos como medo, angústia, dúvida, ansiedade e felicidade.

“É o primeiro passo para conquistar o que eu mais quero: a formação e, posteriormente, a aprovação na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Foram muitos dias chorando, na verdade, ainda tem sido assim [risos], mas a cada obstáculo superado me sinto mais realizada. A dúvida e o medo que eu tinha no início foram caindo por terra e percebi que foi a melhor escolha que tive na vida! Com a mudança, adquiri responsabilidades e passei a enxergar com outros olhos o valor de cada coisinha ao meu redor”, disse Mila.

Portanto, mudar-se para um lugar diferente implica em se adaptar ao novo, sentir saudade, ter medo, insegurança e descobrir que o mundo não é um lugar perfeito e que é preciso ser forte para conseguir sobreviver a ele. É também uma forma de aprender a valorizar a própria companhia, a se amar e enxergar valor nas coisas mais simples da vida, além de, é claro, se aventurar!