A resposta à pergunta acima, nós a encontramos na forma como reagimos às surpresas que a vida nos reserva. Muitas vezes, teoricamente, racionalmente, temos uma opinião e uma concepção das coisas e presumimos que nos sentiríamos desta ou daquela maneira se tal coisa acontecesse. Entretanto, nos surpreendemos quando “na prática” somos pegos de “calça curta” e percebemos que não estávamos preparados emocionalmente ou não esperávamos, de fato, que aquela situação acontecesse conosco.

Nada como “sentir na pele” o episódio para termos a real dimensão do que aquilo significa. Sentir na pele representa algo como ‘aconteceu comigo’ ou aconteceu aquilo que ‘jamais poderia acontecer’, considerando as bases nas quais se apoia e se estrutura nosso equilíbrio emocional. Todos nós temos um núcleo que mantemos como intocável e que se configura em nossa reserva de força, proteção e segurança. O afeto por um animal de estimação, por exemplo. Ou o apego à pessoa de um filho (que pode ser entendido como uma projeção narcísica de si próprio ou a esperança de realização indireta dos próprios sonhos). Ou ainda, a relação com um parceiro amoroso que nos complementa admiravelmente e nos confirma em nossa identidade sexual. Imagine que, por circunstâncias da vida, da noite para o dia perdemos esse objeto sobre o qual projetamos nossos mais profundos sentimentos de afeto e que representa nosso sustentáculo, a fonte de toda nossa segurança e estabilidade emocional.

De um instante para o outro somos confrontados com o desafio de existir sem aquilo / aquele objeto que trazia sentido e cores à nossa vida. E assim, perdemos o nosso chão. Muitas vezes a reação imediata é cair em profunda melancolia1 .

Estar preparado para a vida implica, pois, em se manter de pé diante do pior. Isto nos faz lembrar do tão falado conceito de resiliência: capacidade do indivíduo de resistir à pressão de situações adversas da vida, adaptando-se às mudanças e não se deixando esmorecer diante dos obstáculos.

Mas é preciso ir mais além. Estar preparado para a vida significa estar cônscio e ao mesmo tempo pronto para a transitoriedade das coisas. Nada é perene ou eterno na vida, visto que, o que a caracteriza é o contínuo fluxo e movimento de seus elementos. O que ontem era e/ou existia, hoje pode deixar de ser. Em contrapartida, o que ontem não existia, hoje pode estar acontecendo. As colunas em que ontem nos apoiávamos, já não servem mais para o momento atual (isto é muitas vezes difícil de se perceber, pois temos a tendência de nos mantermos teimosamente agarrados aos antigos botes salva-vidas). Se quisermos viver melhor é necessário realizar constantes adequações e reajustes em nossa maneira de pensar / sentir e em nosso comportamento.

Quanto mais avançamos no tempo, mais cristalizamos determinados hábitos. Entretanto, alguns desses hábitos nem sempre são benéficos para nossa saúde física e mental. Somos assim chamados a empreender uma mudança de hábitos, o que resulta difícil para a maioria das pessoas, pois sempre há um ganho, uma zona de conforto ou um sentimento de vazio que está sendo preenchido através daquele hábito (o hábito de fumar, por exemplo).

Aplacar a ansiedade é um dos exercícios mais desafiadores do nosso tempo. Por isso, são tão comuns os episódios de síndrome do pânico e/ou transtorno de ansiedade generalizada (não há presença de crises neste último caso).

O desafio de lidar com a ansiedade começa no controle dos gatilhos que a fazem disparar. Identificar estes gatilhos e desconstruí-los é uma forma de intervir antes que eles desencadeiem as situações de crise.

A sociedade atual vive atormentada pelo medo: o medo de sair às ruas, medo de ser agredido(a), roubado(a), estuprado(a), violentado(a); medo que nos puxem o tapete, medo de perder o controle, em última instância, o poder. Além disso, perseguir os padrões de sucesso e felicidade estandardizados se tornou uma angústia sem limites. Com isso, o ser humano se distancia de si mesmo e de suas reais necessidades. Leva uma vida artificial e como consequência, está cada vez menos preparado para enfrentar a vida como ela é.

Segue abaixo a indicação de algumas ‘ferramentas’ que podem nos ajudar a viver melhor:

  • Mantenha sempre o contato com a realidade, pois, por mais difícil que ela seja, haverá sempre algo bom no qual você possa se apoiar e se inspirar;
  • Abdique à prática de inebriar-se no mundo de fantasias, fazendo uso ou não de substâncias psicoativas, visto que esta é uma forma de enganar a si próprio e iludir-se;
  • Procure algo que verdadeiramente possa te nutrir, em todo o espectro dos seus corpos físico, mental, emocional e etéreo;
  • Tenha coragem de ser você mesmo e fugir dos padrões estereotipados de sucesso e felicidade da sociedade consumista. Se não puder agradar a todos, sempre haverá alguém para apreciar sua conduta e seu modo de ser;
  • Procure ter uma visão clara e descomplicada das coisas. A verdadeira felicidade está na sabedoria da simplicidade, no modo econômico e minimalista de se viver. Evite sobretudo, o uso de viseiras, que o façam distorcer a realidade;
  • Tenha coragem para enfrentar momentos de dor, visto que todos nós somos capazes de sobreviver a eles;
  • Não tenha pena de si mesmo: esteja cônscio de que não é nem melhor nem pior que os outros;
  • Esteja consciente de seus alcances e limites e aprenda a ser mais condescendente consigo em relação ao que não conseguiu ser ou àquela expectativa que não conseguiu realizar. Altos níveis de exigência declinam fatalmente para a frustração;
  • Deixe fluir livremente aquilo que já brota espontaneamente de dentro de você. Aprenda a explorar e desenvolver seu potencial;
  • Seja gentil, paciente e cuidadoso consigo mesmo;
  • Aprenda a vibrar e funcionar em sintonia com o universo e com a ordem natural das coisas.

Em resumo, seja simples, aceite seu tamanho, respeite o seu semelhante, dê sempre o melhor de si... você vai ver que não há muito segredo no ato de viver.

Nota

1 Segundo Freud (1917), os traços mentais distintivos da melancolia são um desânimo profundamente penoso, a cessação de interesse pelo mundo externo, a perda da capacidade de amar, a inibição de toda e qualquer atividade e uma diminuição do sentimento de autoestima a ponto de encontrar expressão em autorrecriminação e autoenvilecimento, culminando numa expectativa delirante de punição. Para a psicanálise, a melancolia é o estágio mais extremo da depressão.