Fantasia misturada a realidade, com aspectos místicos e um pé no sobrenatural, as lendas nascem, crescem e se reproduzem mas, de fato, nunca morrem. Na verdade, sobrevivem na memória das pessoas e povoam nossa imaginação com fatos irreais, sem comprovações científicas ou verdades absolutas. Como “quem conta um conto, aumenta um ponto”, são repassadas de gerações a gerações e se mantêm vivas no imaginário de um povo.

Lendas são narrativas fantasiosas, de caráter fictício, que através dos tempos acabam sendo repassadas de geração para geração. Com fortes componentes simbólicos, seu conteúdo geralmente possui detalhes que podem ter realmente acontecido ou não, e que ao serem contados e recontados começam a ter um outro nível de realidade e imaginação. Na antiguidade, não conseguindo explicar os fenômenos da natureza através de explanações científicas, os povos criavam mitos para dar um sentido maior aos acontecimentos inexplicáveis. No Brasil, a miscigenação contribuiu fortemente para a origem de um grande número de lendas que, vindas de outros povos, acabaram fazendo parte da nossa própria história.

As lendas amazônicas, em especial, são muito famosas e difundidas pelos quatro cantos do país. A maioria têm origens indígenas, mas também trazidas pelos portugueses e africanos. Em maior ou menor grau, estão presentes em nosso cotidiano e acabam influenciando a formação cultural de cada brasileiro.

No Pará, principalmente em cidades do interior, as lendas têm uma grande influência sobre o povo, que acredita na veracidade de suas histórias. Basta um instante conversando com algum morador mais antigo para ser envolvido em uma aura mística. Conheça algumas das lendas que assombram até os mais céticos dos paraenses.

Boiúna
A Boiúna, de mboi (cobra) e una (negra), é uma cobra de tamanho imensurável. Tem olhos que “alumiam” feito tochas, e ao passar pelos rios e igarapés derruba embarcações e devora crianças ou adultos que se banham na beira dos rios. O povo paraense acredita que a Boiúna vive adormecida na cidade de Belém, entre a Cidade Velha e o bairro de Nazaré. E, quando ela acordar, irá afundar toda a cidade com seu movimento. Ao rastejar, a Boiúna vai deixando sulcos onde se formam novos igarapés. Vamos torcer para que ela nunca acorde, caso contrário, adeus bela Belém.

Boto
Segundo os ribeirinhos, um belo homem vestido de branco e chapéu cobrindo a cabeça costuma aparecer nas festividades de São João para escolher a moça mais linda. Sedutor e charmoso, ele a convida para dançar e com seus encantos leva a escolhida para o fundo do rio. Sempre que avistam um homem de chapéu nas festas os moradores costumam expulsá-lo, pois temem que ele possa ser o temido boto. Dizem que ele costuma usar o chapéu para esconder o rosto, já que sua transformação em humano não é completa. E também para camuflar as narinas, que ficam no topo de sua cabeça. E aí, toparia uma dancinha com ele?

Capelobo Presente em lendas da região Norte, principalmente no Pará, e também no Nordeste, lá pelas bandas do Maranhão, o capelobo é um bicho medonho. A lenda não explica bem como surgiu ou nasceu o Capelobo, sabe-se apenas que é uma mistura de anta com tamanduá e homem e, ainda por cima, tem pés em formato de fundo de garrafa. O Capelobo é uma besta que, de acordo com os causos contados, suga a massa encefálica de suas vítimas. Digamos que ele é um parente não muito distante do Lobisomem, e suas vítimas preferenciais são animais recém-nascidos, entre eles gatos e cachorros. Ele também não descarta um delicioso cérebro humano. Eu que não gostaria de cruzar com um desses.

Matinta Perêra
Também conhecida como Matinta Perê, reza a lenda que ela é uma pessoa que carrega a maldição de se transformar em uma velha com unhas incrivelmente compridas, vestida de preto, que solta um assobio estridente e assustador. Costuma andar pela noite assobiando e quem a escuta deve prometer tabaco a ela, que no dia seguinte irá a casa da pessoa buscar o prometido. Dizem que ela também se apresenta como um pássaro negro, conhecido como “rasga-mortalha”, e quando está para morrer diz “Quem quer? Quem quer?”. A pessoa que responder a ela, achando que irá ganhar algum presente ou algo precioso, acaba ganhando a maldição de se transformar em Matinta Perêra. Se escutar essa frase por aí, não vá responder, hein!

Outras lendas que valem a pena conhecer: Iara ou Mãe D’Água, Curupira, Mula-sem-cabeça e Vitória-Régia.

Veja
Ele, o Boto de Walter Lima Jr., com Carlos Alberto Ricelli, Cássia Kiss Magro e Dira Paes.
Lendas Amazônicas de Moisés Magalhães e Ronaldo Passarinho Filho.

Ouça
Águas de Março, que cita Matinta Perêra, de Tom Jobim.
Curupira do maestro paraense Waldemar Henrique.