A mulher migrante é uma borboleta com corações nas suas asas: os da lua, da saudade e os do sol, do sonho a concretizar...

Sofre um processo de transformação, desde o casulo, desde a casa como mundo, até ao vôo da borboleta, que faz do Mundo a sua casa:

Entre Mundos

Mulher borboleta
Asas corações
Num leva o sonho
No outro a saudade
A lua e o sol
Uma eternidade
Mulher borboleta

Voa
Transforma
A ida na volta
A casa no Mundo
A rua num horizonte

Mulher borboleta

Retrato paisagem!

A borboleta, na sua fase adulta alimenta-se do néctar das flores e o pólen do néctar dessas flores fica preso às asas da borboleta que, ao batê-las enquanto voa, espalha esse mesmo pólen pelos lugares onde passa, fazendo assim com que novas flores nasçam. A borboleta, é, assim, um agente polinizador....

Assim é a mulher migrante, que vai fazendo laços afectivos, alimenta os mesmos e vai deixando a sua marca por onde passa...; é uma fazedora de mundos e vai religando o seu Eu ao Mundo, numa dupla viagem, externa e interna! Assim, vai construindo a sua própria Mandala!

Interessante relembrar que a associação do arquétipo de Jung do Mago com o perfil do Viajante é bastante coerente devido às similaridades em suas abordagens espirituais e filosóficas. O Mago, neste caso, a Maga, conforme descrito por Jung, representa a busca pelo autoconhecimento e pela compreensão dos mistérios do universo. Ela busca transcender as limitações da realidade física e mergulhar nas profundezas da mente e do espírito. Da mesma forma, a Mulher Viajante procura uma conexão espiritual e uma compreensão mais profunda do mundo ao seu redor. Ela valoriza a simplicidade, a liberdade e a autenticidade, buscando harmonia com a natureza e com os outros seres.

Metáfora da vida:

A viagem pode ser uma representação da própria jornada da vida, com seus altos e baixos, aprendizados e desafios.

Em resumo, a viagem, como símbolo, pode ter múltiplas interpretações, mas todas elas apontam para um significado mais profundo do que apenas o deslocamento físico. Ela pode ser uma busca por si mesmo, uma aventura, ou uma metáfora para a própria existência.

Mas existe uma outra aventura paralela e não menos emocionante:

A viagem das Malas!

Agora é altura de recordar: fotografias das viagens; aeroportos, recordações; sorrisos e mais uma vez a espera interminável das malas!!! Pois é, meus caros leitores, as nossas amigas e companheiras malas também têm a sua viagem própria, com itinerários muito complexos, percorrendo túneis e corredores infindáveis até o seu destino coincidir com o nosso!

A viagem das malas está cheia de surpresas electrónicas; de lombas mecânicas, de mãos a imprimir impressões digitais…é uma viagem sinuosa e inquieta que termina só com o nosso olhar expectante em cima delas e as mãos conhecidas a afagá-la como se fosse um nosso familiar próximo que desejamos ver de boa saúde! É preciso LER, no sentido de interpretar, estas preciosas malas; esta preciosa bagagem, afectiva, cultural...

A Mulher viajante; a Mulher Migrante; a Mulher Borboleta, vai interpretar; decifrar obras, mundos; o seu, o dos outros, vai compreender melhor a sua / nossa contemporaneidade e a nossa identidade.

Neste processo de educação-comunicação-interpretação, desenrola-se uma gestação de emoções e valores que integram a personalidade. Conhecer o Outro já não é só acumular informações, sempre mais completas sobre um estranho e sobre os seus costumes, mas é participar na elaboração de um conhecimento comum, o que Ricoeur denominaria de “universais em contexto” (1991), um conceito que implica abertura e troca, em que as convicções são convidadas a elevar-se acima das convenções e aí os universais seriam reconhecidos “assim, o universal remeteria para uma percepção de uma existência humana partilhada”. No seu regresso, a Mulher Migrante Já é outra, dela Mesma; Já se deixou contaminar por outras histórias, por outras vivências, por Outros mundos...

E qual a melhor maneira de partilhar tudo isto, senão, narrativamente?

A linguagem passa a ser assumida como o próprio fenómeno psicológico. Como nos foi relembrando Vygotsky (1962), desde muito cedo que nós percebemos a realidade através da linguagem; daí que a narrativa, neste contexto, seja definida como “uma estrutura de significação que organiza os acontecimentos e acções humanas numa totalidade, atribuindo deste modo significado às acções e acontecimentos individuais de acordo com o seu efeito na totalidade” (Polinghorne, 1988,). A narrativa surge, assim, não como uma representação de uma realidade cognitiva essencial mas como um elemento central da experiência do indivíduo, uma forma de construir um conhecimento indissociável da experiência de existir.

Assim sendo, a Mulher viajante; a Mulher Migrante, não se sente isolada no cosmos, está aberta para um mundo que, graças ao símbolo, se torna familiar. Por outro lado e retomando a perspectiva ricoeuriana, as valências cosmológicas do simbolismo permitem-lhe sair da situação subjectiva e reconhecer a objectividade das suas experiências pessoais. Por outras palavras, quem compreende um símbolo não só se abre para o mundo objectivo como também consegue sair da sua situação particular e ter acesso à compreensão do universal.

E são estas narrativas, com apelos à memória e à imaginação; aos écrans gigentes das Palavras e às emoções que as fotografias podem fazer surgir, que em boa hora, a Associação da Mulher Migrante, que celebra 30 anos, criou uma Coleção de Fotobiografias-Mulheres- Entre Mundos- testemunhos simbólicos das vidas e viagens destas Mulheres!