Num passado nem tão recente, estas ferramentas económicas e financeiras que eram inconstitucionais, foram utilizadas pelo Banco Central do Brasil para alteração das cotações flutuantes e, os destinos, das exportações e importações, no final da primeira década deste século, até 2021, mais precisamente. Naquele período da crescente derrocada de bancos norte-americanos, devido aos derivativos mal regulados e a necessidade de emissão de moedas fortes, acesso aos seguro de crédito e ao crédito bancário e, o socorro aos empresários, investidores e correntistas, foi um momento internacional de viragem.
A financeirização internacional, como forma de desagravamento e liberação dos fluxos de capitais além fronteiras, se caracterizou numa das principais bases da nova realidade económica mundial que então se apresentava. Logo após as tais falências e, com a absorção ou fusão de Bancos renomados e outrora fortes, o socorro imediato restringiu-se aos investidores domésticos e locais do mercado norte-americano, como apresentou um livro da época, entitulado Boomerang1.
Esse livro, confirma alguma compensação aos prejuízos de investidores norte-americanos mas, nem tanto aos dos estrangeiros. Inclusive, o início da tal bancarrota económica do crédito barato, deu-se na Islândia, vizinha à Groelândia. Também sugerem hipóteses, de algum dos 'gatilhos' terem acontecido na Grécia, originalmente. Os barris de petróleo então, alcançaram recordes históricos de valorização das suas cotações mundias, chegando quase aos $200/barrel. Hoje (Abril/2025), em pleno início da crise das tarifas internacionais de comércio exterior, quando escrevo este artigo, esta guerra comercial novamente provocou um aumento destas cotações, avisa o noticiário: pouco acima dos $60/barrel ou seja, três vezes menos pra ser mais exato.
E com todos estes arredondamentos numéricos. Naquela altura, o Presidente Obama, nomeou como 'seu homem' o Presidente do Brasil, governo este que é também o maior acionista da empresa estatal de capital misto, no monopólio nacional brasileiro do 'ouro negro'! Dependendo da proximidade entre eles, 'That ' ou 'This is my Man!' foi o que disse o homônimo norte-americano mas, que não foi devidamente bem traduzido para o português, na época.
Assim, de repente, sem nenhuma pós-graduação ou doutorado em macroeconomia internacional, para ser redundante, uma nação de terceiro mundo, emergente, torna-se mister em negócios transnacionais e vira modelo?! Para os mais escaldados, a experiência brasileira em inflação e juros altos tinha outra utilidade em tal momento, de excessiva necessidade de emissão de moeda e, endividamento governamental. Além da bancarrota de bancos, que também foi experenciada havia poucas décadas, naquele hemisfério sul da mesma América.
Hoje, notoriamente definida como a época das altas tarifas aduaneiras para as importações norte-americanas, quando o mundo se espanta e inquieta-se com reciprocidades de impostos de importação acima dos 20% para Europa e, 30% para a Ásia, o Brasil viu mais uma vez compensada a sua vizinhança. Com apenas 10% de sobre-agravamento, não percebeu nem dissimulou um tal comedimento tarifário, devido à sua pequena participação mundial no comércio mundial de mercadorias e serviços, que ainda é representada por menos de 2%. Desde o século XVI, tem no agronegócio o seu maior estandarte.
Com muita tecnologia importada em equipamentos, engenharia e serviços, também importados - inclusive os fretes marítimos, por exemplo - disponibiliza o seu solo e o mar portuário para tal exportação de suas matérias primas. Como são geralmente os grãos e sementes geneticamente modificados, reagiriam exclusivamente aos defensivos agrícolas assim casados com a mesma tecnologia que, advindos de uma origem técnica multinacional, não surpreenderá deduzir que não iriam os norte-americanos tributar-se a si mesmos, inflacionando a competitividade das suas próprias re-exportações de commodities produzidas em solos internacionais.
E, fretados nos seus próprios embarques marítimos, também segurados por suas multinacionais financeiras, que quanto mais volumes embarcam, mais serviço assessório de porto, alfândega e fretes, será agregado. Menos margem de lucro por tonelada de matéria-prima! Consequentemente pois, o preço nas bolsas de mercadorias internacionais, estabelecem uma pauta de preço médio e máximo, criando um tabelamento técnico nos mercados. Quanto mais área para a produção em escala, mais recursos naturais são necessários para tal escalonamento. Sejam a água, o sol e as terras. Esta fertilidade, manipula-se...
E assim foi, quando os bancos centrais de países com economias em desenvolvimento, ou emergentes, recorreram à valorização cambial, via swaps de commodities, para financiar importações de bens de capital e insumos, necessários para produção que, por escala inversa, chineses e russos, ou indianos e norte-americanos, exportavam melhor e com valor agregado mais competitivo. Esta atuação momentânea durou dez anos - e, como um antigo contemporâneo presidente do Banco Central do Brasil2 confirmou, em suas recentes entrevistas - inconstitucionalmente mas, por um acordo de independência, ainda inédita entre as partes.
Exportadores foram substituídos por importadores, turistas e intercâmbios encaminhados no estrangeiro, mas sem nenhum hedging3 cambial. Tudo isso, durante um momento sensível ainda de estabilização do último novo plano monetário Real$ que, dentro da macroeconomia, ainda era de curto prazo e de nem uma ou nem duas, gerações. Passaram-se então apenas, entre dez e quinze anos, do início e princípio de tal tentativa de consolidação neo monetária. Obviamente que as gerações subsequentes, haverão todo o perfil para repetir períodos inflacionários ou de instabilidades económicas de outrora. E sem instrução cambial possivelmente, terão uma possível miragem do novo modelo de endividamento externo, no seu horizonte... Nada que um curioso não prefira reviver e repassar, a aprender com o passado ancião.
Esse é o curto prazo microeconómico globalizado, que hoje tão experientes, as nações desenvolvidas aprenderam com as economias emergentes e vice-versa. Antigas receitas aplicáveis aos novos cenários, para crises originárias de momentos populistas e das soluções temporárias. O planejamento e a organização económica também passam por desequilíbrios momentâneos, que naqueles períodos de transição geracional das lideranças, sofrem para a readaptação e reaprendizados de gestão administrativa, jurídica e legislativa. Ficam as instituições reguladoras do Mercado, pelo Estado, enfraquecidas pelo vácuo intelectual e prático, naturais. Os novos pontos de equilíbrio depois de esticados, reacomodam-se todos no estágio anterior mais indicado, pelos seus novos atores democráticos envolvidos.
Os chineses outra vez importantes, estão a participar ativamente neste teatro diplomático comercial global moderno de vanguarda, como atores principais e coadjuvantes, dependendo das novas cenas e dos confins onde a Nova Rota da Seda singra. Antagonistas respeitados, souberam treinar as gerações microeconómicas para a transição macroeconómica do futuro de mercado, mesmo que seu maior parceiro, em público pareça adversário. Curiosamente, ao rebater as tarifas de importação, da China, se percebe que existirá alguma acomodação na reação diplomático-económica mútua, após tal ação indutória. Talvez, haverão de submeter-se já às esquecidas práticas de mercado universais e suas regras uniformes de competitividade.
Notas
1 Michael Lewis.
2 Henrique Meirelles.
3 Seguro da variação cambial.















