Entre tantos desafios relacionados à educação escolar atual, quer-se dedicar este artigo à discussão sobre as estratégias de ensino. Para os professores, a busca por conhecimentos sobre como ensinar é uma constante iniciada na graduação, persistindo ao longo da atuação profissional. Dado que os conteúdos a serem ensinados são estipulados pelos currículos escolares, seguindo as diretrizes fornecidas pelos documentos oficiais, cabe aos professores decidirem o como irão ensinar cada conteúdo.

Para tanto, é usualmente recomendado iniciar o processo de planejamento por meio de uma avaliação diagnóstica. Esta visa identificar o nível de conhecimento prévio de cada estudante sobre o conteúdo a ser apresentado, sem objetivar classificar o desempenho dos estudantes. Tal identificação é de suma importância para o planejamento docente, dado que os educandos não são “tábuas-rasas” que chegam às escolas sem conhecimentos. Ao contrário, sabe-se que os estudantes, atualmente, são expostos à inúmeros estímulos, como programas educativos, sites educacionais, livros e outros tantos materiais de divulgação de conhecimento, pelos quais foram construindo certos saberes e adquirindo conhecimentos ao longo de suas vidas.

Uma vez realizada a avaliação diagnóstica, segundo a teoria de Vygostky, o professor é capaz de identificar o nível de conhecimento real de seus estudantes. Portando tal informação, o professor estabelece um objetivo de ensino, visando conduzir o processo de aprendizagem de modo que o estudante mude seu nível de desenvolvimento, como se subisse um degrau: do nível de desenvolvimento real (primeiro degrau) atinja o nível de desenvolvimento potencial (segundo degrau).

O trabalho do professor é atuar para auxiliar os educandos a alcançarem o seu desenvolvimento potencial. Cabe ao professor planejar o ensino do conteúdo de modo a proporcionar que o estudante desenvolva novas habilidades e competências, construindo novos saberes. Considerando que as classes escolares são compostas por pessoas de distintas características é esperado que em cada curso haja níveis de desenvolvimento e de conhecimento diferentes. Portanto, planejar as estratégias a serem utilizadas para o ensino de conteúdos coloca-se como um importante desafio docente.

Segundo a Teoria da Autodeterminação, quanto maior a autonomia percebida pelo estudante, maior o aprendizado. Investigações fundamentadas por essa teoria identificaram que estudantes submetidos a instruções redundantes e expostos a práticas pedagógicas direcionadas, que limitam a autonomia dos alunos durante o processo de aprendizagem, demonstram níveis mais baixos de motivação para aprender e índices de desempenho mais baixos do que alunos expostos a práticas pedagógicas que incentivam a autonomia para aprender.

Para compreender os efeitos das práticas pedagógicas direcionadas versus as práticas pedagógicas que promovem autonomia, pesquisadores dedicaram-se a investigar esses processos de ensino e o modo como os estudantes reagiam a cada um desses processos. Dentre os resultados, destaca-se aqui uma revelação importante: o efeito reverso. Entende-se que o efeito reverso acontece quando a estratégia de ensino utilizada pelo professor promove a aprendizagem de alunos que se encontram em um nível básico de desenvolvimento, porém não proporciona aprendizado para os estudantes da mesma classe que estejam em um nível de desenvolvimento mais avançado, além de diminuir a motivação para aprender desses estudantes.

As crianças do ensino fundamental parecem necessitar de mais apoio durante o processo de aprendizagem do que os estudantes mais velhos. Deste modo, parece ser interessante ampliar o nível de autonomia dos estudantes para aprender ao longo dos anos: quanto maior a idade, maior a recomendação de autonomia.

Quando analisados de acordo com o desempenho acadêmico, identificou-se que estudantes com baixos rendimentos se beneficiam de práticas pedagógicas mais direcionadas. Já os estudantes com desempenho acadêmicos mais altos podem se desmotivar frente a práticas pedagógicas direcionadas e redundantes. Para estes as práticas pedagógicas que promovem a autonomia durante o processo de aprendizagem são mais indicadas.

Como pode ser observado, as pesquisas realizadas sobre as práticas pedagógicas direcionadas versus autónomas revelaram que tanto a falta de assistência instrucional, quanto o excesso destas pode prejudicar o aprendizado dos educandos. Isto posto, faz-se necessário conhecer as características dos estudantes: suas motivações, seus níveis de inteligência e de conhecimento prévio, para então, prosseguir com o plano de aula e decidir quais as estratégias de ensino são mais adequadas à cada classe e/ou subgrupo de alunos.

Ao meu ver, as evidências constatadas pelas investigações sobre práticas pedagógicas aqui, brevemente, relatadas contribuem para destacar a importância do ensino por meio de projetos. A prática pedagógica realizada por meio de projetos poderia ser considerada um “coringa”, dado a flexibilidade que esta proporciona tanto ao professor, quanto aos estudantes. Por um lado, por meio de projetos os docentes podem oferecer maior auxílio e orientações didáticas aos alunos que necessitam de maior apoio durante o processo de aprendizagem. Por outro, o ensino por meio de projetos possibilita aos alunos que tenham maior facilidade para aprender mais autonomia.

Pelo visto, o ensino por meio de projetos constitui-se como uma importante estratégia pedagógica a fim de se motivar os distintos educandos, independentemente de seus níveis de desenvolvimento reais. Além dos benefícios anteriormente comentados, o ensino por meio de projetos pode ser um excelente recurso para: a inclusão de educandos que necessitem de maior apoio docente e ritmo de aprendizagem mais tranquilo; como também para os educandos com altas habilidades, cujo ritmo e interesses costumam ser dinâmicos.

Estimular a motivação para aprender constitui-se como uma importante tarefa docente, a qual pode ser facilitada via o ensino por meio de projetos. Esse pode ser um caminho para se evitar o efeito reverso, mantendo tantos os estudantes com altas habilidades, quantos os estudantes com dificuldades motivados, recebendo a intervenção pedagógica justa para proporcionar que todos os educandos atinjam os seus níveis de desenvolvimento potencial, seja qual seja.

Nota

O relato completo dessa pesquisa pode ser encontrado em: Leonard Tetzlaff, Bianca Simonsmeier, Tabea Peters, Garvin Brod, A cornerstone of adaptivity – A meta-analysis of the expertise reversal effect, Learning and Instruction, Volume 98, 2025, 102142.