No passado, em determinadas comunidades africanas como, por exemplo, na moçambicana, havia o costume tradicional da contação de histórias em comunidade familiar. Lembro-me, na infância, de ouvir os mais velhos contarem-nos histórias da vida para toda a família, na presença de crianças e adultos. Eram histórias fascinantes sobre a natureza, divindades, relações humanas e outros assuntos relacionados com moral e o respeito pelos mais velhos. Eram histórias que podiam demorar horas ou dias, mas que todos, em comunidade familiar, à volta do contador ou da contadora de histórias, ficamos a ouvir o tempo que fosse necessário, sem tédio e sem cansaço. No final da história, havia sempre uma lição aprendida, uma moral para todos reterem e viverem.

Como resultado dessa tradição de ouvir histórias na família, aprendi a gostar de histórias, de ler histórias e de escrever histórias. Foram as histórias contadas nesse ambiente de gente reunida em comunidade familiar, que nasceu um leitor e um escritor.

Hoje existem as chamadas comunidades literárias digitais, têm tido um papel fundamental na formação de leitores. Através de mídias sociais e digitais como o BookTok, BookTube, Bookstagram e outras mídias, grupos de interesse com afinidades comuns, estabelecem novas formas de ler, escrever, compartilhar livros e leituras.

Essas comunidades são mediadas por alguém que assume a função de mediador da comunidade, mas são também promovidas e mediatizadas pelos chamados influenciadores literários, que para um determinado nicho de literatura, compartilham e livros e compartilham suas experiências de leitura com os seus seguidores. Essa proximidade de interesses literários, cria um vínculo de confiança e afinidades, que conquista os seus seguidores para os hábitos de leitura e de compartilhamento de experiências literárias. Um outro aspecto a considerar, é o aumento da publicação de livros de livros independentes no Brasil, o que não sucedia a uns anos atrás no Brasil.

A Publicação Espaço do Conhecimento UFMG (março, 2024), refere sobre a questão do aumento da produção independente, que:

A publicação independente aumenta a visibilidade de novas histórias para o mercado editorial e para o público. Nesse processo, os influenciadores digitais se tornam aliados na divulgação dos livros para suas comunidades de leitores e na valorização de histórias que prezam cada vez mais pela representatividade e diversidade1.

Independentemente de haver ou não um consenso sobre o impacto das mídias digitais na leitura e na produção literária, o fato relevante é que a contribuição para a promoção e incentivo à leitura é evidente. Clubes de leitura, influenciadores, comunidades literárias, e outros projetos de leitura, têm transformado a leitura em algo acessível para todas as classes e comunidades nas cidades e nas periferias.

Por outro lado, em um mundo onde a tecnologia compete pela atenção das jovens e adultos, o desafio de cultivar o hábito da leitura se intensifica. Mas a leitura continua sendo um pilar essencial para o desenvolvimento cognitivo, social e emocional. Este artigo explora estratégias inovadoras para inspirar a paixão pela leitura em jovens e adultos, adaptando-se às demandas do século XXI.

Ambientes de leitura acolhedores e interativos

Transforme bibliotecas e salas de aula em espaços vibrantes, com cantinhos de leitura confortáveis, áreas para atividades lúdicas e espaços para socialização.

Crie uma atmosfera que convide à exploração de livros, sem a formalidade excessiva.

Conteúdo relevante e atualizado

Selecione livros que reflitam o mundo contemporâneo, abordando temas relevantes, como sustentabilidade, empatia, diversidade e tecnologia.

Utilize narrativas que promovam a identificação e o engajamento, despertando a curiosidade e o interesse.

Integração inteligente da tecnologia

Utilize aplicativos, e-books, áudio-books e podcasts como ferramentas complementares à leitura tradicional, tornando a experiência mais interativa e dinâmica.

Explore jogos educativos que incentivem a leitura digital, atraindo a atenção sobretudo das novas gerações.

Programas de leitura interativos e envolventes

Organize rodas de leitura, contação de histórias, desafios de leitura e clubes de leitura em escolas e bibliotecas.

Promova a interação social e o senso de pertencimento, incentivando a troca de ideias e a discussão sobre livros.

Parceria entre família e escola

Incentive os pais a participarem ativamente do processo de leitura, lendo com os filhos e compartilhando o prazer da leitura.

Promova eventos conjuntos, como feiras de livros e noites de leitura em família, fortalecendo o vínculo entre pais e filhos.

Personalização da experiência de leitura

Adapte o conteúdo à faixa etária e aos interesses individuais de cada participante, explorando diferentes gêneros literários e temas relevantes para suas vidas.

Ofereça uma variedade de opções de leitura, incluindo livros de fantasia, mistério, aventura e temas científicos.

Você não consegue ver graça na leitura? Sem problemas, comece assistindo filmes sobre livros famosos e discutindo sua opinião com outras pessoas

Você ama os clássicos? Procure autores que te representam em pensamento e leia suas histórias. Se você ama terror, existem vários livros sobre vampiros, lobisomens e até mesmo fadas que se popularizam todos os dias.

Estímulo à criatividade e produção

Incentive à criatividade, promovendo um ambiente de liberdade para cada um pensar em respostas diferentes e reflexões individuais.

Apresente desafios e casos que possam estimular a criatividade nas perguntas e respostas.

Faça sugestões de livros, filmes, vídeos, jogos, que produzam iniciativas criativas e vontade de buscar a leitura e o conhecimento.

Evite apresentar perguntas diretas que tragam respostas como “sim”, ou não”.

Prepare as discussões, de modo que os participantes da comunidade tenham liberdade e interesse em produzir propostas novas e criativas.

Nota

1 Comunidades literárias digitais e incentivo à leitura.