O caso da agressão envolvendo um atleta e sua namorada, em um elevador em Natal, Rio Grande do Norte, gerou grande repercussão em todo mundo. O agressor desferiu mais de sessenta socos no rosto da indefesa mulher, que nada pode fazer. È chegado a hora de parar, precisamos dar um basta! Chegamos ao fim do poço. A sociedade não consegue conviver com tamanha barbárie, principalmente as mulheres.

A violência contra a mulher é uma das formas mais cruéis e persistentes de violação dos direitos humanos. Em pleno século XXI, milhares de brasileiras continuam sendo espancadas, abusadas, humilhadas e mortas apenas por serem mulheres. Trata-se de uma tragédia silenciosa que, apesar das leis e campanhas de conscientização, segue normalizada em muitos lares, instituições e discursos. Mais do que um problema social, essa realidade representa uma vergonha nacional que escancara o machismo estrutural ainda presente em nossa cultura.

Um cenário alarmante

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2025, o Brasil registrou cerca de 1.450 feminicídios em 2024 — o que equivale a quase quatro mulheres assassinadas por dia. Além disso, mais de 27 milhões de brasileiras relataram ter sofrido algum tipo de violência física, psicológica ou sexual no mesmo ano. A maioria dessas agressões ocorreu dentro de casa e, em muitos casos, o agressor era o próprio parceiro ou ex-companheiro da vítima.

A subnotificação continua sendo um dos maiores desafios: muitas mulheres não denunciam por medo, vergonha ou falta de apoio. Esse silêncio forçado perpetua o ciclo da violência e dá margem à impunidade. É vergonhoso que, apesar de todos os alertas, o Estado e a sociedade civil ainda não tenham conseguido romper com esse padrão histórico de omissão.

Uma violência que escancara desigualdades

O machismo, quando aliado ao racismo e à desigualdade econômica, torna o cenário ainda mais grave. Mulheres negras representam mais de 60% das vítimas de violência letal. Elas são as que mais sofrem agressões, mas também são as que têm menos acesso a proteção, justiça e apoio psicológico. Essa disparidade racial é mais uma marca da exclusão estrutural e da negligência institucional que afeta milhões de mulheres.

Além disso, há regiões do Brasil onde o acesso a serviços de proteção é extremamente limitado. Em muitos municípios, não há sequer uma Delegacia da Mulher ou uma Casa de Acolhimento. Quando o Estado se ausenta, a violência se fortalece.

A vergonha não é da vítima

Muitas vezes, a sociedade impõe à mulher a responsabilidade pela violência sofrida. Questiona suas roupas, seus relacionamentos, suas escolhas. Isso é cruel e inaceitável. A vergonha nunca deve recair sobre a vítima. Ela pertence ao agressor — e também a todos que se calam diante da injustiça.

A violência contra a mulher não é um problema individual, é um fracasso coletivo. Fracasso das instituições que falham em proteger. Fracasso da sociedade que silencia. Fracasso de uma cultura que ainda enraíza o machismo em suas práticas cotidianas.

Reconhecer isso é o primeiro passo. O segundo é agir: com leis eficazes, educação de gênero, apoio às vítimas e, principalmente, com coragem para enfrentar essa vergonha de frente.

Enquanto mulheres forem agredidas, abusadas ou mortas por sua condição de gênero, não podemos afirmar que vivemos numa sociedade justa ou civilizada.

A violência contra a mulher é uma vergonha nacional e humanitária — uma chaga persistente que expõe desigualdades, silenciamentos e falhas estruturais profundas.

Por que é uma vergonha institucional?

  • Porque mais de 60% dos feminicídios ocorrem dentro de casa, muitas vezes diante de filhos pequenos;

  • Porque a maioria dos agressores já foi denunciada antes, mas continua solta;

  • Porque o sistema de justiça falha em aplicar medidas protetivas com rapidez;

  • Porque há cidades sem nenhuma Delegacia da Mulher ou casa de acolhimento.

Números da vergonha

Estados com mais feminicídios em números absolutos (2024), de acordo com o Mapa da Segurança Pública do Ministério da Justiça. Os estados que registraram o maior número de feminicídios em 2024 foram:

  • São Paulo – cerca de 4.327 casos;

  • Rio de Janeiro – aproximadamente 4.055 casos;

  • Minas Gerais – cerca de 3.665 casos;

  • Bahia – 3.071 casos;

  • Espírito Santo – 2.767 casos.

Embora esses estados tenham os maiores números absolutos, suas taxas por população podem ser menores. Estados com maior taxa de feminicídio (por 100 mil mulheres). Segundo dados de taxa proporcional, os estados com os maiores índices em 2024 foram:

  • Mato Grosso do Sul – taxa de 12,6 por 100 mil mulheres (maior do país);

  • Mato Grosso – 11,6 por 100 mil mulheres;

  • Rondônia – 11,3 por 100 mil mulheres.

Outros estados com elevadas taxas proporcionais incluem Piauí (1,18), Maranhão e Roraima, ambos com aproximadamente 0,98 por 100 mil mulheres.

É inaceitável que uma mulher precise morrer para que o Estado finalmente faça algo. É vergonhoso que tantas mortes anunciadas sejam ignoradas.

A situação da violência contra a mulher no Brasil é alarmante: apesar da legislação avançada e esforços institucionais, os índices de feminicídio e estupros continuam crescendo, atingindo marginalizações raciais e regionais.

Há avanços importantes, mas o Brasil ainda enfrenta sérios déficits na aplicação da lei, na prevenção territorial e na proteção efetiva das vítimas. A mobilização social e o fortalecimento de redes de acolhida e denúncia são essenciais para reverter esse cenário.