É, sem dúvida, o jeito de se expressar mais terrível de todos aqueles comuns aos seres vivos. Lamentavelmente, é algo que está cravado em nosso DNA, e que, seja lá de onde viemos ou para onde iremos, sempre estará em nós… C’est magnifique, mais ce n’est pas la guerre, c'est de la folie.
A frase em destaque é atribuída ao soldado francês Pierre Bosquet, que atuou na Argélia, Crimeia e talvez em outras sandices bem comuns à nossa espécie; mas, até quando? A nossa história está repleta de casos de barbárie: lutas por territórios, campos de extermínio, trabalhos forçados, Primeira e Segunda Guerras, chacinas e mais uma penca de ápices de crueldade, com registros desde que a história surgiu — muito antes da escrita.
Vale lembrar que o pano de fundo por trás de um trágico evento como os supracitados é, em sua totalidade, dos mais estúpidos de sempre: como economia, ajuda a um país amigo ou até mesmo a tentativa de evitar o avanço de uma pseudoideologia política — dessas que nunca passaram de um sonho — mas sempre serviram de desculpa para testar aquele novo armamento que foi produzido com uma centena de milhões, e serve para matar outros milhões com um simples toque de botão. O curioso é que esses mesmos milhões também poderiam gerar muito mais para os então defuntos. O problema é que alimentar as pessoas, permitir o acesso a escolas, empregos e coisas do tipo pode torná-los fortes — e um povo forte é algo muito perigoso.
O curioso é que a mesma mão que joga a bomba é aquela que depois pega na colher e no cimento para construir tudo de novo — só que agora com a gestão de um bonequinho patético azul que segura um escudo com uma estrela e se alimenta de hambúrguer e refrigerante. E, depois de terminar tudo, ele ainda vai lhe convencer a matar e viver por ele.
Eu não sei, e sinceramente não sei se ainda quero saber. Mas, no passado, às vezes eu me perguntava… Os humanos são filhos da guerra ou o contrário? Talvez nunca saibamos a resposta. Mas talvez o nunca não exista. Assim, mesmo que a paz seja algo que nunca será comum à nossa espécie, a única certeza que temos é: a guerra e a paz lutam no nosso íntimo.
Peloponeso, Vietnã, Paraguai… poderíamos citar tantas que daria um livro infinito. Porém, o que todas elas têm em comum é que os atores são exatamente os mesmos: o homem contra o espelho. Pois nenhuma guerra é travada contra um inimigo novo, tampouco contra algo diferente ou difícil de compreender. Toda e qualquer luta não é local, e sim interna. A questão é que o homem não gosta da própria espécie. Homem. Todo e qualquer conflito é absolutamente consigo mesmo, e já ocorreu ou está em andamento em um plano interno, tão intrínseco que é difícil perceber.
Repare bem e reflita: aqueles foguetinhos que podem fazer uma cidade inteira sumir do mapa dão mais lucro do que um navio cheio de arroz, carne ou afins. Aquele submersível movido a energia nuclear é mais importante do que um equipamento cirúrgico. E a minha caranga de última geração vale mais do que você cruzando a sua maldita faixa de pedestre… É isso mesmo: pelos mais banais motivos, ou pelos mais importantes, os humanos estão há séculos sempre dando um jeito de destruir tudo aquilo que dá vida — o Ser.
Agora, faça-me um favor: dedique um pouco mais de atenção e tente responder à seguinte pergunta — depois que nós, humanos, pisamos a face deste planeta, para onde foi a paz?
Os Titãs, banda brasileira de sucesso até os dias de hoje, falam o seguinte em uma de suas melhores canções, Homem Primata: “Desde os primórdios até hoje em dia, o homem ainda faz o que o macaco fazia…”
Eu não sei se por pura inspiração, investigação ou coisa do tipo, mas esta música repousa na imensidão da certeza errada do que fala o trecho mencionado. Pois a vida era mais vida quando vivíamos nas árvores e nos alimentávamos de tudo o que a natureza nos dava. Ao menos, não existia a pólvora.
Foi o começo do fim: salitre, enxofre e carvão. Hoje em dia, uns cálculos mais bem elaborados, um pouco de urânio enriquecido e um reator de água pesada… acabou-se. Era uma vez uma espécie. Confesso que desisti de tentar encontrar algo similar no reino animal, mas não creio que algo se compare a nós. O planeta está repleto de exemplos esdrúxulos de países que vivem na míngua, mas têm um artefato nuclear para chamar de “nosso”. É superpotência, em desenvolvimento, subdesenvolvido e até mesmo uns que são bem menos que isso — mas têm, ao alcance de um general de constelação, um botão. E o fim.
Um dia, eu sonhei com um planeta onde o homem cultuava a vida — nada mais que a vida pela vida. Nesse planeta, ninguém matava ninguém e, quando havia alguma divergência, todos sentavam, bebiam, comiam e tudo se resolvia. E era esse o jeito: o homem fazendo o que o macaco fazia.