Este artigo discute os desafios estruturais enfrentados pelas comunidades situadas em zonas recônditas em Moçambique e sua intervenção no seio da agricultura familiar. São destacados problemas como falta de infraestrutura, analfabetismo elevado, ausência de serviços básicos e dificuldades de comercialização. Além disso, são propostas soluções baseadas em políticas públicas robustas, investimento em tecnologia social e promoção de igualdade regional. Conclui-se que é possível transformar o setor agrícola em um motor de desenvolvimento socioeconômico e inclusão social, desde que haja compromisso político e mobilização de recursos.
Introdução
O desenvolvimento rural em Moçambique enfrenta múltiplos obstáculos que limitam o progresso socioeconômico das comunidades rurais. Entre os principais desafios estão a falta de infraestrutura, analfabetismo elevado, ausência de serviços de saúde e educação e dificuldades de comercialização dos produtos agrícolas. Esses fatores afetam negativamente o rendimento das famílias.
Portanto, com o objetivo de apresentar os estímulos essenciais e estruturais do meio rural moçambicano este artigo visa propor perspetivas de desenvolvimento rural com base em políticas públicas integradas e investimentos em tecnologia social. A partir de uma revisão crítica da literatura e dados secundários, busca-se oferecer sugestões práticas para superar as barreiras existentes e promover o crescimento sustentável do setor agrário.
Infraestrutura e logística agrícola
A presença de infraestrutura qualificadas é essencial para impulsionar as atividades agrícolas e aproximar o meio rural do urbano. No entanto, em Moçambique, as estradas, armazéns e redes de comercialização são insuficientes e mal distribuídas, especialmente nas regiões centro e norte do país (Favareto & Berdegué, 2018).
Isso resulta em altos custos de transporte e perda de produtos agrícolas nas zonas de produção. Muitos agricultores vendem seus excedentes logo após a colheita, a preços baixos, devido à falta de armazenamento adequado e pressão financeira. Essa prática prejudica sua renda e perpetua o ciclo de pobreza (Cândido, 2010).
Além disso, a rede de energia elétrica é extremamente limitada no campo. Menos de 15% das áreas rurais têm acesso à eletricidade, dificultando o uso de máquinas agrícolas modernas e equipamentos de irrigação (INE, 2019). Esse cenário reforça a dependência climática e limita o aumento da produtividade.
O Ministério de Agricultura e Segurança Alimentar de Moçambique (MASA, 2015) aponta que apesar da introdução de programas destinados a aumento da produção e produtividade, o baixo uso de tecnologias agrárias pelos agricultores, contribui negativamente nos processos produtivos. O fraco uso destas, pode estar associado, por exemplo, pela falta de condições sociais, econômicas, culturais dos agricultores, uma vez que a importação de técnicas majoritariamente de base industrial exige do agricultor altos investimentos e a necessidade de um acompanhamento técnico especializado.
(Mateus João Marassiro)
Analfabetismo e acesso à educação
O analfabetismo atinge cerca de 39% da população moçambicana, sendo ainda mais alto nas áreas rurais (INE, 2019). Esse problema limita o acesso a informações técnicas, políticas públicas e mercados. Além disso, afeta negativamente o desenvolvimento humano e a capacidade dos agricultores de adotar novas tecnologias e práticas produtivas.
O fraco funcionamento do sistema de saúde também contribui para o elevado número de mortalidade infantil e baixa estimativa de vida especialmente em zonas rurais distantes dos centros urbanos (Cândido, 2010). A falta de escolas e profissionais qualificados reforça o ciclo de exclusão social e econômica dessas populações.
Perspetivas de desenvolvimento rural
Como forma de mitigar os desafios arrolados deve-se:
Investir na construção de estabelecimentos resilientes em zonas rurais (estradas, armazéns, redes de energia);
Promover acesso a tecnologias sociais e adaptação às condições locais;
Fortalecer os programas de extensão rural e educação agrícola;
Implementar políticas públicas inclusivas que reduzam as desigualdades regionais.
A integração entre o meio rural e urbano pode ser facilitada por meio de sistemas de comercialização mais eficientes e valorização dos produtos locais. Além disso, o uso de tecnologias agrícolas que estejam ao alcance dos agricultores pode impulsionar a produtividade bem como a diversificação da renda dos agricultores familiares.
De acordo com Mosca (2014), este tipo de agricultura gera excedentes e poupança que podem contribuir na modificação da estrutura do cultivo na gestão de forma industrializada. Isso requer políticas públicas consistentes e maior apoio institucional ao setor agrário.
Importância das tecnologias sociais e adaptação local
As tecnologias sociais representam uma alternativa viável para melhorar a produtividade sem exigir grandes investimentos. Consistem em soluções simples, desenvolvidas localmente ou adaptadas às realidades específicas dos pequenos produtores. Exemplos incluem técnicas agroecológicas, sistemas de irrigação simplificados e métodos de conservação de alimentos acessíveis.
Segundo Noda (2006), essas tecnologias podem ser particularmente úteis em contextos de escassos recursos, como o encontrado no meio rural moçambicano. Além disso, permitem maior participação dos agricultores no processo de inovação, aumentando a aceitação e eficácia das práticas introduzidas.
Conclusão
O desenvolvimento rural em Moçambique enfrenta desafios estruturais que exigem intervenções urgentes e coordenadas. A falta de infraestrutura, o analfabetismo elevado e a ausência de serviços básicos são obstáculos que limitam o progresso socioeconômico das comunidades rurais. Contudo, com políticas públicas robustas, investimento em tecnologia social e fortalecimento da atividade agrícola nas comunidades, é possível transformar eta tipo de agricultura num motor de desenvolvimento e inclusão social.
É urgente que o governo moçambicano implemente estratégias mais eficazes de combate à pobreza rural, com foco no fortalecimento das cadeias produtivas locais e o melhoramento do modo de vida dos camponeses.
Referências
Bittencourt, E., & Bianchini, E. (1996). Agricultura familiar do agronegócio: importância e características.
Cândido, M. C. A. (2010). Desenvolvimento sustentável e pobreza no contexto de globalização: O caso de Moçambique (Dissertação de Mestrado em Ciências Políticas e Relações Internacionais).
Cunguara, B., & Thompson, T. (2018). Mozambique: Desk Study of Extension and Advisory Services. Developing Local Extension Capacity (DLEC) Project.
FAO. (2012). Consultoria eletrónica: Agricultura familiar e segurança alimentar e nutricional na CPLP.
Favareto, A., & Berdegué, J. (2018). Mudanças globais e locais – implicações para o futuro do enfoque territorial do desenvolvimento rural na América Latina, 1–22.
Freitas, A. F., & Dias, M. M. (2012). Mudanças conceituais do desenvolvimento rural e suas influências nas políticas públicas. REVSTA, 46(6), 1575–1598.
INE – Instituto Nacional de Estatística. (2019). Relatório Anual de Indicadores Sociais e Económicos.
MINAG – Ministério da Agricultura. (2012). Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Sector Agrário - PEDSA.
Mosca, J. (2014). Agricultura familiar em Moçambique: ideologias e políticas. Revista Nera, (38), 68–105.
Noda, E. (2006). Agricultura familiar na Amazônia, Segurança Alimentar e Agroecologia. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Coordenação de Pesquisa em Ciências Agoeconómicas.