Engane-se quem acha que a teoria das elites é considerada um tema canónico ou “fora de moda” pois a temática das elites está bem presente nas sociedades que compõem cada Estado seja a nível nacional seja a nível internacional. E é a partir da década de 70 que o estudo da teoria das elites começa a ganhar asas, destacando autores como Charles W. Mills, R. Dahl e R. Putnam entre outros autores que contribuíram para a compreensão da formação das elites, como é o caso de Mosca e Pareto. Ainda na década de 70, em França, o sociólogo Pierre Birnbaum veio a aprofundar não só a composição das elites francesas como os seus meios de atuação para alcançar posições dominantes.

Não podemos olhar para as elites com uma visão simplista, unidimensional, ou seja, precisamos entender que existe mais do que uma elite, assim como precisamos entender quais os princípios de legitimação que estruturam as suas ações, as suas práticas, a sua atividade no seio de uma sociedade. E a esta lógica denomina-se por sociologia do poder. Numa abordagem empírica, é necessário retratar duas conceções que demonstram a diversidade tanto da forma como do poder das elites, e são elas: o elitismo e o pluralismo.

A primeira conceção, de Mills, Domhoff e Miliband, tinha como base a explicação de como as elites se organizavam socialmente, a sua relação com a mesma e a sua capacidade de continuar dominante. Remetendo assim para um aprofundamento da origem social como nas relações criadas entre os que detém posições privilegiadas, seja pela sua carreira seja pelo estatuto social.

Já a segunda, de Dahl (1961), Putnam (1973) e Hunter (1953), tinha como base o poder das elites, ou seja, se este seria constante ou flutuante, e se este seria utlizado pelas elites de acordo com um mesmo padrão. Ainda para os defensores do pluralismo, as sociedades vão-se estruturando e as elites vão acompanhando essa evolução, sendo que se adaptam às conjunturas, e o mesmo acontece com o poder, ou seja, este torna-se cada vez mais um desejo insaciável para estas elites cada vez mais heterógenas tanto na sua componente orgânica como no manuseamento dos próprios recursos para alcançarem o poder.

A partir da teorização das elites, o autor procura explicar o cerne da constituição das elites, assim como a sua formação inicial nas instituições escolares em sociedades contemporâneas como em França e Inglaterra. E são as próprias instituições de ensino os “viveiros” de novatos que compõem as elites.

Salta logo à vista as desigualdades que se geram nas instituições de ensino, tornando-se um paradigma repetitivo nas sociedades mencionadas anteriormente.

Recrutam as suas elites através de concursos públicos e selecionam os seus membros através do seu mérito, das suas competências técnicas, o que traduz uma nova forma de as elites perdurarem ao longo do tempo, aquilo que o autor refere como sendo uma “nova sociodiceia “(p.186) incutidas em sociedades onde as grandes écoles, como em França, têm uma enorme importância na formação de futuros quadros político-administrativos.

Contrariamente, a implementação de concursos públicos nas sociedades contemporâneas tende a motivar e a fomentar o progresso dos estudos e a angariação das soft skills, de certo modo, assiste-se a uma diminuição de indivíduos cuja carreira tenha dependido de “cunhas”, de clientelismo ou mesmo por laços familiares. O autor recorre maioritariamente a exemplos quer seja europeu quer seja norte-americanos para justificar o caso das elites brasileiras, pois conclui-se que as elites brasileiras são geradas dependendo da estrutura organizativa de outras elites.

No caso brasileiro, as elites formam-se e distribuem-se em duas formas diferentes, ou seja, através das “escolas de oficiais das Forças Armadas e o Instituto Rio Branco, escola de formação diplomática” (p.190). Os quadros político-administrativos brasileiros acarretam consigo ainda uma heterogeneidade e uma maior competitividade para a obtenção de cargos de poder.

A internacionalização das elites tem tido um grande relevo ao longo do tempo, pois tem sido um elemento de concorrência pelo poder. Apesar de não ser um fenómeno recente, a internacionalização dos atores tem sido visto como uma estratégia de consagração social de grupos mais abastados.

Mais recentemente, grupos intermédios têm procurado ir para outros países, adquirir competências, tais como, a aprendizagem de uma língua estrangeira, graduações e pós-graduações, especializações, doutoramentos e experiência profissional. Este fenómeno de internacionalização por parte das elites apresenta vários pontos interesse, no sentido em que depende da evolução das conjunturas mundiais, existindo uma seleção de padrões de interesse, dos quais as elites se aproveitam para o seu próprio desenvolvimento.

Segundo Dezalay e Grath (2002), existe uma reprodução de modelos a nível económico e de recursos humanos, por parte dos países da América Latina, provenientes dos Estados Unidos. Consequentemente, as elites criam estratégias para cada aplicarem na sua realidade.

Anne-Catherine Wagner (1998) identifica uma nova reformulação da elite — a sua mundialização, com a imigração de dirigentes profissionais, tais como executivos ou especialistas internacionais, para França a partir dos anos de 1980.

Assiste-se à expansão das escolas internacionais e do intercâmbio universitário, vias essas utilizadas pelas elites brasileiras, tendo a finalidade de formar novos quadros técnico-científicos, inovando assim o seu sistema de ensino, principalmente a nível superior com programas de intercâmbio noutros países, especialmente para a Europa, onde se localizam os grandes centros científicos e de investigação.

É importante sublinhar a grande cooperação entre países, por exemplo, na vinda de professores universitários norte-americanos para lecionar nas universidades de São Paulo e do Rio de Janeiro.

O autor deixa ainda explícito que os grupos duradouros readaptam também as suas formas de atuação, conseguindo assim estar presentes em várias posições sociais “(…) tendem a se diversificar-se e se complexificar à medida que os mecanismos de dominação e legitimação nas sociedades contemporâneas exigem novos e mais variados recursos (…)” (p. 201).

Por fim, considero que as elites não tendem a desaparecer, muito pelo contrário, elas reformulam-se e resistem às conjunturas e tal como refere Pareto, “A história é um cemitério de aristocracias”.