Poucos sabem que os famosos Pogs, que fizeram tanto sucesso no Brasil através da promoção da Elma Chips, não foram criados em território brasileiro. Na verdade, a história desses pequenos discos colecionáveis remonta a muito mais tempo do que se imagina, sua primeira aparição data de 1603, no Japão feudal. A origem dos Pogs está intimamente ligada ao jogo japonês chamado Menko, praticado durante o Período Edo (1603-1826). Nessa época, governada pelo xogunato Tokugawa, o Japão vivia um período de isolamento e avanço tecnológico. Os Menko eram pequenas placas de barro decoradas com arte samurai, utilizadas em um jogo onde os participantes tentavam virar as peças dos adversários.
Séculos depois, durante a Grande Depressão americana nos anos 1930, crianças havaianas redescobriram essa dinâmica de jogo. Com a escassez econômica que assolava os Estados Unidos após o Crash da Wall Street de 1929, as famílias não tinham recursos para comprar brinquedos. Foi então que as crianças começaram a usar as tampas de leite das garrafas de vidro como entretenimento. A única empresa que continuava utilizando garrafas de vidro no Havaí era a canadense Stanpac Inc., com seu leite Haleakala. Essas tampas, que inicialmente eram apenas um subproduto, começaram a ser coletadas pelas crianças para o jogo de "virar tampinhas".
O nome "Pog" surgiu quando a Stanpac decidiu aproveitar o sucesso das tampinhas para promover outro produto: um suco feito com Paracujá, Orange (laranja) e Goiaba. As crianças passaram a chamar todas as tampinhas de "Pogs", independentemente do produto anunciado. Após décadas de esquecimento, os Pogs ressurgiram em 1991 graças à professora Blossom Galbiso. Preocupada com a violência de outros jogos praticados no recreio, ela reintroduziu o jogo de tampinhas de leite aos seus alunos. O sucesso foi imediato e se espalhou rapidamente pelos Estados Unidos.
A empresa Stanpac, percebendo o potencial comercial, investiu pesadamente na produção exclusiva de Pogs. A operação funcionava 24 horas por dia, com melhorias constantes na qualidade, incluindo hologramas e capas plásticas para proteção. Em 1995, os Pogs já tinham até mesmo um mascote oficial: o Pogman. A história dos Tazos brasileiros começa com a formação de gigantes do setor alimentício. Durante a Grande Depressão, H.W. Lay perdeu o emprego e decidiu empreender, fundando a H.W. Lay Inc. em 1932 com apenas 100 dólares. Paralelamente, Elmer Doolin criou a empresa Fritos, especializada em salgadinhos de milho.
Em 1961, as duas empresas se uniram formando a Frito-Lay, que posteriormente foi adquirida pela PepsiCo em 1965. Essa fusão criou um conglomerado com presença em mais de 90 países, incluindo subsidiárias como a Elma Chips no Brasil e a Sabritas no México. Em 1994, Pedro Padierna, vice-presidente de marketing da Sabritas, junto com seu assistente Fabián de la Paz, desenvolveram o conceito dos Tazos. Inspirados nos Pogs americanos e em um jogo mexicano tradicional chamado "Taco Nazo", eles criaram uma versão adaptada para o mercado latino-americano.
O nome "Tazo" derivava do jogo tradicional onde as crianças chutavam tampinhas com o calcanhar do sapato. A primeira coleção, lançada em 1994, foi dos Tiny Toons, escolhidos por seu apelo universal entre meninos e meninas. A Elma Chips, fundada em 1974 pela união da American Potato Chips e da Elma Produtos Alimentícios, já tinha experiência com promocionais colecionáveis. Antes dos Tazos, a empresa havia lançado diversas coleções, incluindo dicas de verão da Turma da Mônica em 1980, a coleção do Garfield em 1985, o Clube dos Thundercats e Snoopy na Copa em 1986, os Chipssauros em 1991 e os Gangssauros, discos holográficos, em 1993.
Em 1997, os Tazos chegaram oficialmente ao Brasil com a coleção Looney Tunes, causando uma verdadeira "Tazomania". A campanha publicitária era marcante: "Tazomania, agora na Elma Chips você vai achar um Tazo pra brincar e colecionar!" O sucesso dos Tazos no Brasil foi fenomenal. A empresa desenvolveu diversos acessórios e variações: o Tazo-mat, superfície oficial para o jogo, o Tazo-keeper, álbum para guardar a coleção, o Tazo-launcher, lançador de Tazos, e o Pega-tazos, dispositivo para capturar Tazos.
As coleções subsequentes exploraram diferentes temas e inovações técnicas. Em 1997 vieram os Animaniacs com peças encaixáveis e os Tiny Toons holográficos, em 1998 o Mask com pega-tazos, em 2000 o Pokémon com Evolu-tazos, em 2002 o Toon-Tazo Cup com temática da Copa do Mundo, em 2004 o Bob Esponja metálicos, e em 2013 os Pirate-tazos, que foi a última coleção oficial.
Um dos principais fatores para o desaparecimento dos Tazos no Brasil foi a mudança na legislação publicitária. A proibição de propagandas direcionadas ao público infantil na televisão brasileira eliminou o principal canal de marketing desses produtos. Sem poder anunciar diretamente para crianças, as empresas perderam a ferramenta mais eficaz para criar a demanda necessária. O custo crescente dos direitos autorais também contribuiu para o declínio. Personagens populares como os da Disney passaram a exigir royalties de 12% a 14% sobre as vendas, tornando muitos projetos financeiramente inviáveis. A burocracia crescente no licenciamento contrastava com a simplicidade dos anos 1990.
A multa de 174 milhões de dólares aplicada ao YouTube por uso inadequado de dados de crianças exemplifica as dificuldades atuais para marketing infantil. Canais com conteúdo direcionado a menores de 13 anos perderam parte de sua monetização, reduzindo as oportunidades de anúncio para produtos como os Tazos. Enquanto os Tazos desapareceram do Brasil, outros países mantiveram a tradição. No México, a Sabritas continua lançando coleções anualmente desde 1994. Coleções recentes incluem Dragon Ball Z em 2018 e Dragon Ball Super em 2019, ano em que também foi realizado o primeiro campeonato nacional de Tazos com prêmio de 50 mil pesos.
Outros países também tiveram coleções exclusivas que nunca chegaram ao Brasil, como Saint Seiya no México em 1995, Space Jam na Austrália em 1996 e Star Wars no Reino Unido em 1997. Uma pesquisa realizada com mais de 3.100 participantes brasileiros revelou que 47% comprariam novos Tazos "dependendo do tema", enquanto 17% "comprariam e colecionariam todos". Apenas 11% declararam nunca ter gostado do produto.
Esses números sugerem que existe um mercado nostálgico adulto que poderia sustentar o retorno dos Tazos. No entanto, as mudanças regulatórias, os custos de licenciamento e as limitações publicitárias continuam sendo barreiras significativas. A história dos Pogs e Tazos representa mais do que um simples fenômeno comercial: ela ilustra como tradições milenares podem ser reinventadas e adaptadas para diferentes culturas e épocas. Embora tenham desaparecido do mercado brasileiro, sua influência na infância de uma geração inteira permanece indelével, alimentando a esperança de um possível retorno futuro.















