A caminho do restaurante, a Mulher Maravilha conversa com o Capitão América sobre a última do chefe. Comenta que ele solicitou algo supercomplexo pela manhã e queria pronto em apenas uma hora, que ele não fazia ideia do quão difícil é levantar e organizar todas aquelas informações num prazo tão curto, mas que apesar de não ter conseguido fazê-lo no prazo determinado, conseguiu entregar antes do horário do almoço e por isto foi possível sair para almoçar.
O Capitão América responde que é sempre assim, que acham que é tudo fácil e, comenta o que lhe está afligindo: a troca de controle societário da empresa em que trabalha. Que o burburinho sobre as possíveis integrações com a equipe da empresa adquirente e as consequentes demissões decorrentes deste fato tem lhe tirado o sono. “Fazem as coisas sem o menor tato com os empregados atuais. Sempre acreditam que os melhores já estão com eles e nem param para avaliar a equipe que estão encontrando no local!”
Agora nada mais importa...
Mariana coloca a sua fantasia de Analista Financeiro e cai na farra. Marcou de se encontrar com alguns colegas do trabalho na Faria Lima, na altura da Vila Olimpia, o Carnaval de rua mais chique de São Paulo. Lá se encontra com outros Faria Limers. De cara se depara com o Cadu com a sua fantasia de camisa social e colete puffer. Compram umas cervejas no primeiro ambulante e vão em busca dos demais amigos, enquanto acompanham e ouvem o Bloco do Abrava.
Desperta...
O Capitão América, em outro almoço com a Mulher Maravilha, comenta que o seu colega de trabalho, Banheiro Ambulante, está lhe boicotando. Descobriu isto quando foi buscar umas impressões e encontrou um material feito por ele, porém assinado por Banheiro Ambulante. O confrontou e apenas ouviu de resposta um simples “desculpe!” e argumentos de que devia ter se confundido no momento da edição e impressão do relatório.
A Mulher Maravilha não se surpreende. Relata que já havia passado por uma situação parecida com Banheiro Ambulante. No final do ano, enquanto estava elaborando o orçamento plurianual da área de negócios a que pertence, também já o havia flagrado em uma situação idêntica tentando apenas copiar o seu orçamento, como se isto fizesse sentido. Ficou imaginando se ele acreditava que o Mestre da Bateria não iria perceber as incoerências.
Agora nada mais importa...
Em Pinheiros, Miguel, trajando terno, esquenta o bloco com alguns comandos para os ritmistas. A Mariana, em seu tailleur, está eufórica. É seu primeiro ano na bateria do bloco. De tanto o seu diretor comentar sobre a experiência, resolveu experimentar, entrou nos ensaios ao longo do ano anterior e aquele momento era o seu Grand-debut. Ansiava que o Cadu chegasse logo para que pudesse vê-la. Há quase um ano nutria uma paixão platônica por ele e acreditava que aquele momento de descontração poderia ser ideal para deslanchar um possível romance.
Desperta...
Na pausa do café, a caminho do almoço, no almoço, na cafeteria... ruídos e ruídos...
O enfermeiro, a noiva, o bombeiro, a bailarina, o policial, a noviça, o padre...
—Ontem discuti com a minha esposa, pois ela queria viajar para...
—Hoje meu chefe está enlouquecido, parece que...
—Você viu como ela estava vestida hoje?
—Não tenho ideia de como conseguiremos vender o que ela imagina...
—A marca rival está investindo milhões...
—Recebi uma mensagem absurda do meu chefe, como se eu não soubesse fazer o meu trabalho. Justo eu que...
—A arquiteta disse que as obras terminarão dentro de quatro meses...
—O bairro todo ficou sem luz ontem em função das chuvas...
—O chefe informou que a meta será maior este mês em função das frustrações recentes...
—Onde você normalmente toma café após o almoço?
Agora nada mais importa...
Ainda em Pinheiros, dentro da bateria, a Mariana enquanto segue atenta com o seu compromisso de percussionista também espera e busca ansiosamente por Cadu. Olha em todas as direções e não consegue localizá-lo. Já se passaram dois terços do percurso do bloco e nada. Em alguns momentos erra alguma batida, algum acorde. Volta a se concentrar nos acodes e se desconcentrar na busca. Imagina que este vai e vem é a razão de não enxergar o Cadu.
De repente, enxerga, a distância, o Banheiro Ambulante sem a sua fantasia de “Faria Limers”. Não entende! “O que ele está fazendo aqui? Não comentei para ele sobre este desfile! Será que conhece alguém do bloco? Ou apenas gosta do Carnaval em Pinheiros?”
Pouco depois vê distante o Cadu se aproximando. Seu coração dispara! Imagina que finalmente eles terão o “grande encontro” de descoberta romântica. Que ele se encantará ainda mais em vê-la na bateria com a mesma competência que apresenta no trabalho. Olha, olha, gesticula, grita, mas Cadu parece não olhar em direção ao bloco. Parece olhar disperso a multidão ao redor. Seus neurônios e hormônios estão a mil impulsionados pelo som ensurdecedor da bateria e pelo teor alcoólico já elevado.
De repente percebe que ele abre um grande sorriso. “Para quem ele está sorrindo? Não acredito que marcou com outra pessoa no local e bloco que eu o convidei! Seria muita falta de sutileza. Será? Não! Deve ser algum outro colega.” Após alguns segundos de busca entre a balbúrdia, descobre finalmente para quem ele sorri. Do outro lado entre a multidão localiza Banheiro Ambulante. “Não acredito que está sorrindo para aquele cretino! Deve ser por educação.”
Capitão América caminha firme em direção a Banheiro Ambulante, seu sorriso e olhar se intensificam ainda mais, mais que isto, brilham, cintilam... Ficam cara a cara. Parecem não manter mais nenhuma distância corporal. Banheiro Ambulante fecha a cortina. Mariana nada mais vê.
Desperta Mulher Maravilha...