Há pouco tempo, me inteirei de que as árvores podem ser consideradas seres sociais1. Há evidências de que estas, por meio de uma rede de raízes, trocam informações entre si, por exemplo: enviando hormônios e sons para avisar se estão passando por alguma situação estressante e/ou compartilhando recursos alimentícios. Tal informação me levou a pensar na prepotência humana, que se julgando superior às demais espécies do planeta, costuma se identificar como “ser social”, esquecendo-se de tantos outros seres vivos que, de fato, vivem em grupos, nos quais cada qual tem sua importância e seu valor agregando para o bem coletivo.

É sabido que, como humanidade, chegou-se no atual nível de desenvolvimento graças à vida coletiva e social. Uma organização, na qual cada mulher, homem, ancião, jovem ou criança tem o seu papel, um algo com o quê contribuir. Um recente estudo destacou a vital importância das experiências sociais coletivas como promotoras da percepção positiva de bem-estar e felicidade. Esse estudo, realizado com 200 mil participantes de 22 países, inclusive o Brasil, entende que o bem-estar e a felicidade estão compreendidos sob o conceito de “florescer”, definido como “a obtenção relativa de um estado em que todos os aspectos da vida de uma pessoa são bons, incluindo os contextos em que essa pessoa vive2”.

Segundo a perspectiva adotada nesse estudo, “florescer” é um conceito multidimensional, ou seja, é composto por dimensões, a saber: (1) felicidade e satisfação com a vida; (2) saúde mental e física; (3) sentido e propósito; (4) caráter e virtude; (5) relações sociais próximas; e (6) estabilidade financeira e material. “Florescer” é entendido como um processo que se desenvolve ao longo da vida, sendo percebido por cada pessoa de acordo com a própria subjetividade, a qual é interpretada de modo condicionado ao contexto em que dada pessoa está inserida.

A saúde mental é uma das dimensões mais significativas para o “florescer”. Em alguns países, como Israel e Polônia, a positiva percepção sobre a saúde mental contribui para que o “florescer” seja mais forte para todos os participantes, independentemente dos grupos etários. Em outra direção, estão países como o Brasil, Suécia e os Estados Unidos, nos quais as percepções sobre a saúde mental se diferenciam de acordo com os grupos etários.

Nestes países, os participantes mais jovens relatam baixas percepções de saúde mental, aspecto que influencia negativamente o “florescer”, diminuindo as médias obtidas. Já, os participantes integrantes de grupos etários mais velhos julgam sua saúde mental positivamente, contribuindo para fortalecer os índices de “florescer”. A negativa percepção sobre saúde mental dos jovens brasileiros e americanos constatada no estudo sobre “florescer” retifica o anteriormente evidenciado por inúmeras outras pesquisas que tem alertado sobre os preocupantes índices de saúde mental entre jovens, adolescentes e crianças.

A Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia recentemente divulgou os resultados de uma investigação3 realizada ao longo de três anos, durante os quais seguiu uma amostra de 11.876 crianças e adolescentes (quando o estudo começou a idade médias dos participantes era de 9,9 anos), dos quais 42% revelou sentir tristeza e/ou desesperança constantes. Por meio dos dados obtidos durante quatro momentos de coleta de dados, com os mesmos participantes ao longo de três anos, esse estudo identificou que quanto maior o tempo de uso de redes sociais, maior eram os sintomas de depressão clínica constatados.

Por outro lado, esse estudo verificou que o contrário não ocorria, ou seja: participantes que inicialmente eram deprimidos não passavam a utilizar mais as redes sociais. Sabe aquela história sobre quem veio primeiro: o ovo ou a galinha? Então, esse estudo evidencia que os usos das redes sociais implicam em maior índice de depressão entre adolescentes, não o inverso.

Por um lado, como brevemente aqui exposto, a juventude tem utilizado cada vez mais as redes sociais, diminuindo as interações sociais presenciais, fato que tem contribuído para os alarmantes índices de deterioro da saúde mental desse grupo etário. Pode-se perceber que a população mais jovem tem percebido mais negativamente sua saúde mental, como mostrado pelo estudo sobre o Florescer.

Por outro lado, segundo o constatado pelo estudo sobre o “florescer”4, a participação em atividade sociais presenciais, sejam elas cívicas ou religiosas, mostrou-se como um dos aspectos positivos mais importantes para a percepção sobre o viver bem e o florescer de cada pessoa. Não surpreendentemente, durante e após a pandemia Covid-19, os índices de saúde mental agravaram-se, justamente entre os mais jovens, aquele grupo que estaria aprendendo a conviver socialmente com seus pares durante a infância e a adolescência, forçados a interatuarem apenas digitalmente. Parece que na esfera digital ficaram e a convivência social, com todas as suas peculiaridades, ainda não foi retomada intensamente pela juventude atual.

Como sociedade necessitamos repensar os espaços de convivência destinados aos adolescentes e crianças. Cultivar espaços de lazer e cultura presencial, nos quais familiares e vizinhos possam conviver, retomando as conversas leves e cotidianas, os jogos e brincadeiras espontâneos, o contato com a natureza. Necessitamos repensar nossos modos de vida, abrindo espaço para o aqui e o agora.

Notas

1 ¿Los árboles se comunican entre sí? No es tan fácil como parece.
2 The Global Flourishing Study | What Contributes to a Life Well-Lived? 2025 Gallup, Inc.
3 Estudo de três anos traça caminho da rede social à depressão em crianças e adolescentes - Medscape - 30 de mai de 2025.
4 O estudo sobre o “florescer” aqui citado destaca a importância de várias dimensões que coexistem e possibilitam o florescer de cada pessoa, como comentado no texto. Cabe aqui, divulgar que os brasileiros participantes desse estudo demonstraram negativa percepção sobre a felicidade, a satisfação com a vida, a saúde física e mental, a estabilidade financeira e material. Positiva foram suas percepções sobre o sentido e propósito de vida, caráter e virtude.