Pois bem é sobre o outro que nos fala de seu cansaço infindável que amolece o corpo, explode em preguiça e encolhe os relacionamentos. Assunto recorrente que já faz parte da nossa rotina, mas e se eu não me levanto em busca dos meus afazeres, quem o fará? Pergunta também comum cuja resposta é sempre a mesma: ninguém!
Não é à toa que se tornou popular um ditado que diz, “mesmo com medo vá com ele”. O chamamento é para ir, para algum lugar ou em frente ou para pegar alguma coisa ou alguém, enfim, seja o que for o movimento nos convida a ação.
Os médicos não dão conta de tantas consultas, os pacientes preocupados para além do normal com doenças ocasionais, perigos iminentes e sintomas sem sentido correm em busca de respostas. (Na minha análise geracional os de 28 a 40 anos são os mais afetados). E quando ele próprio, digo o médico, também se sente assim, se ausenta sem tempo de volta. É uma situação esquisita que esse quase Deus se sinta assim também, esgotado por alguma gravidade. Teria ele tal permissão para suas próprias dores?
Temos a sensação de que todos explodirão e que o amanhecer já nos convida para o anoitecer, pois uma suposta aquietação da noite invoca um esconderijo de nossos próprios medos e impossibilidades. Em tempos tão sombrios onde os coletivos que nos cercam parecem se derreter em tragédias das mais absurdas, ficamos atordoados com a sensação de impotência.
Podemos pensar que mesmo um indivíduo em seu paraíso particular de prosperidade, vivendo de alegrias e conquistas adquiridas com trabalho árduo permitindo-se um equilíbrio entre o ser e o ter, aproveitando sua jornada não ansiosa, mesmo assim seja afetado repentinamente por insônia, pânico ou fobia. Porque a tristeza profunda se instala e o medo dos relacionamentos aumentam de forma contundente, imagine aqueles que não entenderam a si mesmos.
Ouso dizer que aquilo que ouvimos e vemos, temos notícia ou até mesmo presenciamos como guerra, intolerância, crise, globalização, situações políticas e religiosas, questões ambientais, pessoas em sofrimento, angústias de toda ordem afetam a cada individuo com proporções enormes.
Quase conseguimos saber tudo em tempo real, então nem selecionamos, nem interpretamos ou se quer digerimos cada acontecimento. Tudo passa por uma ordem de comunicação tão imediata que nos tornamos reféns do mundo.
Mundo que chega recheado de informações trazendo um pacote de horrores, que nos assedia e invade. E querem saber, invade mesmo! A dor do outro, a impotência, o sentimento de injustiça, a revolta pela humilhação alheia o desprezo pela terra, tudo isso e mais uma gama de assuntos, sempre estiveram por aí de alguma forma acontecendo, a questão é a permissão que hoje nos impomos a tais notícias breves, imediatas, superficiais e amedrontadoras.
Toda e qualquer informação encontra algum jeito de entrar em nossa cabeça como uma larva maldita que se aloja em algum canto. A ela daremos tratamento certamente, esquecendo momentaneamente, fingindo não ter importância, sucumbido aos gritos da humanidade dentre outros mecanismos de defesa que utilizamos para seguir.
Entretanto toda essa gama de acontecimentos tem um impacto profundo sobre cada individuo e ele responderá ao seu modo.
Talvez seja esse um parâmetro de atenção para entender o que tem acontecido com os indivíduos, que por estarem perdidos, não sabem se tomam remédio para dormir, ou o oposto para se manterem acordados e produtivos, assim sendo optam pelos dois. Não é minimamente incoerente que o indivíduo brinque com seu próprio organismo dando-lhes mensagens equivocadas, transtornando-o e causando danos irreparáveis.
Que ao querer ter todas as informações e estar absolutamente equipado em seu tempo, sufocado com uma gama de tecnologia que aparece a cada minuto, poderá não apreender nada sobre qualquer coisa, imaginando ser um sábio sobre todas as coisas.
Ou ainda que negando o próprio convívio humano ou apelando para as inteligências que podem criar seres fictícios de relacionamento, dentro do seu desejo idiota de controle, se tornará um estupido ao lidar com o seu semelhante por falta do exercício mais lindo que é o desconhecido e incerto.
Pois se a poesia das relações é saber lidar com as diferenças, que o outro traz. Então porque negá-las fazendo do outro um boneco de seu próprio desejo. Talvez para uma concepção mais asséptica, validada, menos perigosa, mais óbvia ou ainda que não importune sua “solitude”, e dessa forma aparentemente mais controlável.
Precisamos pensar um pouco melhor sobre todas essas situações tão aclamadas que nos faz arrogantes solitários e incapazes de lidar com a existência do outro. Aclamação essa que faz de você um incapaz de lidar com a existência de outra pessoas.
Que nos rouba de nossa própria essência e preservação de uma quantidade satisfatória de informações, ações, percepções para maturidade, leveza e bem estar, e isso nada tem a ver com urgência, o tempo de maturação não se curva à forja.
Nos vemos já!Já!