No artigo Significado linguístico: uma análise semântica, aqui publicado no mês de junho de 2024, defini semântica como o ramo da linguística que tem por objeto o estudo do significado das expressões, palavras e frases das línguas naturais. Algumas pessoas que leram o artigo me perguntaram se as palavras significado e sentido designam o mesmo objeto de estudo, ou seja, se são palavras sinônimas. Neste artigo, procuro esclarecer isso.

Na linguagem corrente, os termos significado, significação e sentido são usados praticamente na mesma acepção. Assim, a expressão significado de uma palavra tem o mesmo valor semântico de sentido de uma palavra ou de significação de uma palavra. Até os dicionários não fazem distinção entre esses termos, deixando entender que são equivalentes. O Dicionário Houaiss, em seu verbete significado, é explícito: “conteúdo semântico de um signo linguístico; acepção, sentido, significação, conceito, noção” (destaques acrescidos). O mesmo verbete é assim definido no Dicionário Aurélio: “Sentido de uma palavra, termo, frase, texto; sentido, conceito. Definição atribuída a um termo, palavra, frase, texto; acepção, significação” (destaques acrescidos).

Os lexicógrafos e linguistas, no entanto, fazem distinção entre significado, significação e sentido. O lexicógrafo e linguista Francisco da Silva Borba, na obra Organização de dicionários: Uma introdução à lexicografia, publicada pela Editora Unesp, afirma que

O termo significado indica o valor individual e paradigmático de um item do léxico. Toda unidade tem potencialmente um ou mais significados disponíveis para o falante [...] Já o termo significação ou sentido é o valor semântico resultante da combinatória de unidades na sequência. Logo, o sentido não é simplesmente uma soma de significados porque engloba todos os elementos significativos necessários à comunicação, aí incluindo-se o contexto, a situação a até mesmo as atitudes e disposições do falante / ouvinte.

O linguista francês Oswald Ducrot, tomando por base a distinção entre frase e enunciado, afirma que a significação é relativa à frase, enquanto o sentido é relativo ao enunciado, que é manifestação particular ou ocorrência de uma frase num contexto. Ducrot exemplifica essa diferença, mostrando que a frase faz bom tempo, dita por duas pessoas diferentes, ou até mesmo pela mesma pessoa em dois momentos diferentes, constituirá dois enunciados diferentes. Em decorrência disso, um mesmo enunciado poderá ter sentidos diferentes. Crê ainda que talvez seja possível formular leis que expliquem a significação de uma frase a partir de sua estrutura léxico-gramatical e, a partir disso, explicar o sentido dos enunciados.

A linguista brasileira Ingedore Koch, por sua vez, afirma que a significação tem a ver com a relação linguagem / mundo, sendo, portanto, de domínio da semântica. Para essa autora, o sentido tem a ver com a relação entre linguagem / homens, sendo, pois, pertencente ao domínio da pragmática.

Normalmente, tem-se preferido usar os termos significado e significação com referência a noções propriamente linguísticas, isto é, com referência a palavras e frases, sem levar em conta o papel de seus usuários, enquanto o termo sentido tem sido usado preferencialmente quando se faz referência às realizações das palavras e frases pelos falantes / ouvintes em situações concretas e observáveis de uso.

Sinonímia (do grego: synonymia, semelhança de sentidos) é identidade de significados. Normalmente, numa perspectiva referencial, aquela em que o sentido é dado por uma relação entre linguagem e mundo, duas palavras são sinônimas quando têm o mesmo conteúdo referencial, ou seja, a mesma realidade extralinguística. As palavras abóbora e jerimum são usadas para designar um mesmo referente: o fruto da aboboreira. Jerimum e abóbora são, portanto, sinônimos perfeitos. O mesmo ocorre com as palavras tangerina, mexerica e bergamota, que designam um mesmo referente: o fruto da tangerineira.

Os sinônimos perfeitos só existem em função de comunidades de falantes diferentes, ou de registros diferentes. Em determinadas regiões, o fruto da aboboreira é chamado de abóbora; em outras, de jerimum. No sul do país, o fruto da tangerineira é denominado bergamota; em outras regiões é chamado de mexerica ou tangerina. As palavras xixi e urina ocorrem em registros diferentes: dizemos que a criança fez xixi na cama, mas que iremos fazer exame de urina.

A relação de sinonímia entre palavras deve sempre levar em conta a situação de uso. O filósofo Ludwig Wittgenstein (1889 – 1951) adverte: “Não procurem o significado de uma palavra, procurem o uso que dela se faz”. Ressalta, porém, que o uso deve estar sujeito a regras e baseado em convenções para que as palavras tenham sentido. Segundo esse filósofo, estabelecer o significado de uma palavra seria observar empiricamente suas ocorrências em contextos diversos.

Um teste usado para verificar se as palavras são sinônimas consiste em substituir uma pela outra para verificar se o sentido se mantém. Exemplificando: na frase "O médico recomendou-lhe uma dieta porque estava gordo", gordo é sinônimo de obeso, pois é possível a substituição por "O médico recomendou-lhe uma dieta porque estava obeso". No entanto, em "Não gostava de comer carne gorda", gorda não é sinônimo de obesa, pois o sentido da frase não se mantém, acarretando uma frase bastante estranha: "Não gostava de comer carne obesa".

Evidentemente, a troca de uma palavra por outra, implica alterações de nuanças de significado. Nos sinônimos, um pode ser mais formal que o outro, ou mais técnico ou mais adequado a um determinado contexto. As palavras morte, falecimento e óbito funcionam como sinônimas, mas dizemos atestado de óbito e não atestado de falecimento, ou atestado de morte. Num anúncio fúnebre, dizemos nota de falecimento e não nota de morte ou de óbito. Dizemos que uma pessoa está jurada de morte e não que está jurada de falecimento, ou jurada de óbito. Falamos naturalmente que uma planta morreu, mas não diríamos que ela faleceu, ou entrou em óbito.

Na linguagem popular, é comum as pessoas estabelecerem relação de sinonímia entre palavras que na linguagem técnica, o jargão, não são sinônimas. Assim, as pessoas em geral consideram que as frases "Roubaram meu celular" e "Furtaram meu celular" fazem referência a um mesmo fato. No entanto, na área do Direito, as palavras furtar e roubar são empregadas para designar coisas diferentes. Roubar é usado para qualificar o crime de subtração de coisa alheia móvel, quando há emprego de violência ou grave ameaça. Furtar é empregado quando a subtração se consumou sem uso de violência, por isso a pena aplicada aos crimes de furto é menor do que a aplicada ao crime de roubo. Alguém que estaciona seu carro na rua, vai ao cinema e quando retorna não encontra mais o veículo, não pode dizer que roubaram seu carro, mas que o furtaram.