Meu segundo filho nasceu no último mês de março, e neste mês de abril meu outro filho, o mais velho, completa quatro anos. E eu no processo de aprendizagem: você aprende a ser pai, fralda a fralda, dia a dia, abraço a abraço. Você precisa "ser sempre necessário em vez de necessitar o tempo todo", como bem define a paternidade o escritor Jonathan Franzen em seu romance As correções.

No princípio, quando descobri que seria pai pela primeira vez, me senti como que caminhando sobre um tapete mágico, e era uma felicidade regada a sonho, mas também uma felicidade preocupada, pois tapetes voadores podem te derrubar. Ou seja, a dúvida que me martelava era: como ser pai? Mas só depois é que eu entendi como a paternidade vai se apoderando de você, e é uma fonte inesgotável sob o olhar dos deuses. Também entendi como a paternidade é também uma forma de literatura, pois afinal, tudo é literatura como já avisava o escritor chileno Alejandro Zambra no começo de seu livro Bonsai: "No final ela morre e ele fica sozinho. Embora na realidade ele ficou sozinho vários anos antes da morte dela, Emília. Bom, supomos que ela se chama, ou se chamava Emília, e que ele se chama, se chamava ou continua se chamando Júlio. Júlio e Emília. No final Emília morre e Júlio não morre. O resto é literatura".

Meu pai sempre conta que certa vez se atrasou para me pegar na escola, e que eu, ao invés de esperá-lo na porta da escola, sai caminhando. Eu não lembro de nada disso, tinha apenas oito anos. Mas, segundo ele, eu vim peregrinando pelos canteiros da antiga Avenida dos Estados, em Balneário Camboriú, e até encarei uma trovoada de fim de tarde, daquelas rápidas e torrenciais. Não me encontrando na escola, meu pai deu voltas pelos quarteirões próximos e retornou pelo caminho que fazíamos diariamente. Me localizou já próximo de casa, todo molhado e com cara de choro, caminhando entre os canteiros da Avenida. E toda vez que ele conta essa história, me diz que aquele dia, ao não me encontrar na escola e me ver todo molhado e desprotegido, foi um dos dias mais angustiantes da sua vida.

Algo semelhante acontece no início do primeiro capítulo de Formas de voltar para casa, outro livro do chileno Alejandro Zambra, que foi publicado pela editora espanhola Anagrama, em 2011. Nos primeiros parágrafos a personagem principal, ainda jovem, relata sua primeira grande adversidade, ao se perder de seus pais. Com exclusividade, traduzo para meus leitores: "Uma vez me perdi. Tinha seis ou sete anos. Vinha distraído e de repente não vi mais meus pais. Me assustei, mas em seguida retomei o caminho e cheguei em casa antes que eles (que continuavam me procurando, desesperados). Mas nessa tarde pensei que eles tivessem se perdido, e que eu sabia chegar em casa e eles não. Tomaste outro caminho, dizia minha mãe, depois, com os olhos chorosos. Vocês que tomaram outro caminho, pensei, mas não disse. Meu pai me olhava tranquilamente do sofá, pensando. Mas talvez não estivesse pensando em nada. Talvez estivesse apenas de olhos fechados, descansando, curtindo o presente com calma e resignação.

Superaste uma adversidade, e isso é bom, disse ele, sem titubear. Minha mãe olhou para ele com receio, mas ele continuou com um confuso discurso sobre a adversidade. Sentei no sofá da frente, e fingi adormecer. Meus pais começaram a discutir, e a cada cinco frases dela, meu pai soltava uma. As palavras mentira e negativo eram frequentes.

Nesta noite minha mãe me carregou para a cama e me disse, talvez sabendo que eu fingia dormir, mas que a escutava com atenção: teu pai tem razão, agora sabemos que não te perderás, que sabes andar pelas ruas. Mas deves concentrar-se mais no caminho. Tens que caminhar mais rápido. Escutei. Desde então caminhei mais rápido. Na verdade, um par de anos mais tarde, na primeira vez que falei com Cláudia, ela até me perguntou porque eu caminhava tão rápido".

Gosto de pensar que, de alguma maneira, ser pai é uma forma de voltar para casa. É quando você faz o mesmo caminho que seu pai, e por isso, passa a entendê-lo um pouco melhor. E o trajeto para compreender a paternidade pode ser sinuoso como o trilho do trem ou delicado como o folhear de um livro pelas mãos de uma criança, mas o importante é que é preciso perder-se para se encontrar.