Viver está ligado às múltiplas funções que temos a partir do despertar, do acordar. Quando me levanto, qual será minha primeira escolha? Minha primeira decisão do dia? Vou à academia, vou dormir por mais tempo, vou comer pão integral, pão de queijo, tomar café ou suco...

Essas são escolhas corriqueiras, mas que, a longo prazo, podem ser decisivas. Entretanto, existem decisões mais complexas que podem estar relacionadas a posicionamentos profissionais, pessoais, conjugais, entre outros. A questão é que, a partir do momento que acordamos, fazemos no mínimo 35 escolhas por dia, desde as mais simples até as mais difíceis.

O assunto nos convoca a entender esses processos do dia a dia. Parar, analisar e formar uma opinião do que fazer ou não fazer é difícil! Temos que ter discernimento e sabedoria dos nossos limites, habilidades, o que queremos alcançar para traçarmos metas concretas dentro das nossas possibilidades.

Aventurar-se em projetos novos, em caminhos diferentes, apostar em uma nova concepção de vida também é uma escolha, basta medir e desenhar todos os riscos. Ter uma margem para as frustrações, dificuldades e desencontros faz parte do processo de construção. Se formos analisar todo o contexto, em qualquer das escolhas, sabemos que teremos desafios e dificuldades, portanto, qual será o seu difícil? Se pensarmos por essa ótica, nos auxilia na decisão, mas não exclui percursos de altos e baixos.

Nos conscientizar de que o caminho ensina de todas as formas é abrir novos horizontes que vão além do que calculamos ou do que almejamos. Quando chegamos a esse lugar de segurança, de foco, estamos aptos a entender que tudo é aprendizado. Para algo maior acontecer, é necessário passar pelos processos de pensar, imaginar, desafiar, mudar... Promover pensamentos criativos, que distinguimos da mera informação ou do conhecimento recebido, pôr em causa certezas, expandir sentidos, partilhar o entendimento... Todo esse contexto contribui para a transformação do ser, do estar e do fazer.

A nossa liberdade de escolha está atrelada ao nosso Eu, a partir de tudo que sou, de tudo que fui e, ainda vou ser, vou me constituindo, encaixando peças, criando movimentos, traçando rotas, construindo passagens! Esse conceito de liberdade parte da igualdade, diversidade, aprendizagem, envolve a participação, autonomia e criação.

Olhar para o entorno, para o outro, notar atitudes, vontades, valores, escolhas, parte do entendimento histórico das nossas frustrações, desejos, alegrias e conquistas. É dar sentido ao que está vivendo no momento presente; todas as escolhas e decisões estão pautadas ao que vive no agora. Atribuir consciência a isso é construção, escuta, proximidade do eu, entender-se, conhecer-se para novas formas de decisões. Assim podemos perceber a expressão facial, o olhar de quem vive o corpo em movimento, as diferentes entonações de voz e os gestos, em uma composição, um conjunto de informações, que falam muito sobre esse ser, sobre o que sou, sobre o que me compõe.

António Nóvoa diz que a liberdade que é criação, a cultura é o que nos une ao nosso “elemento”, mas também nos permite sair de nós mesmos e aceder a novos mundos.

Tomando o preceito filosófico que diz que o corpo humano é uma entidade sábia, por meio das narrativas orais e escritas me aproximo do que pretendia desenvolver, um estudo interpretativo nos enlaces dos enigmas da vida cotidiana, isso para vencer o domínio da racionalização do conhecimento, que segue a tríade: reflexão, problematização e desnaturalização, para encontrar uma síntese, os nexos e compreender a beleza da vida, assim diz Antonio José Martins Filho.

A intenção é considerar que todos os caminhos, independentemente das escolhas, nos ensinam, nos mostram, nos fazem evoluir; mesmo nos mais difíceis, seguimos e traçamos novos enigmas para viver uma vida única.