Você já comemorou seu aniversário este ano? Pois se a sua resposta for não, leia este texto e entenda por que é uma dádiva completar mais um ano de vida e, como ao longo dos anos, houve uma intensa transformação sobre a forma de celebrar quando ficamos mais velhinhos.

No Antigo Egito, a prática de comemorar o aniversário com um bolo era uma espécie de oferenda aos deuses, ou melhor, à deusa Ártemis, uma importante divindade da mitologia grega conhecida por ser a deusa da fertilidade, da caça e da maternidade. Segundo a tradição da época, o "bolo" era uma espécie de pão adoçado com xaropes e frutas (como tâmaras e passas) que era oferecido à entidade celestial em troca de proteção e bênçãos ao aniversariante no ano que se iniciava. Além disso, devido à dificuldade de encontrar algumas especiarias, o bolo era uma tradição restrita às famílias mais nobres e abastadas da época.

Com o passar do tempo, as receitas foram adaptadas assim como as tradições. Com a expansão do Império Romano, as técnicas de fermentação foram aprimoradas e, com isso, a produção de bolos tornou-se mais parecida com a que conhecemos atualmente. Ademais, neste momento, introduziu-se a ação de assoprar velinhas e, mais tarde, a de fazer um pedido. Acreditava-se que as velas representavam um agradecimento aos deuses, pois a fumaça delas servia para proteger o aniversariante. Já em épocas mais modernas, o ato de fazer um pedido e apagar as velinhas dizia que a fumaça destas levava o desejo dos fiéis aos céus, para que fossem atendidos pelo Ser Supremo.

Mas, na tradição cristã, o que significa comemorar o aniversário? Segundo alguns grandes religiosos, o dia do aniversário é a data em que Deus renova a nossa licença de vida e nos dá a graça de celebrar mais um ano. Em teoria, essa tradição simboliza a plenitude da vida e o quanto a nossa fé nos sustentou por mais um período, mesmo diante das adversidades. No estoicismo, essa plenitude é conhecida como Amor Fati, que na tradução literal, significa "Amor ao Destino", ou seja, a aceitação integral da vida e do destino humano, mesmo que os acontecimentos sejam desafiadores e dolorosos.

Na casa da minha família, por serem todos crentes ou bastante espirituais (como eu, por exemplo), comemorar mais um ano de vida é mais do que uma tradição; é uma oportunidade de rever ou falar com amigos e parentes que estão longe e, mesmo assim, escolheram escrever uma palavra de amor no nosso dia especial.

Por vezes, não nos damos conta do privilégio que temos todos os dias de acordar e ter mais uma oportunidade de desfrutar da companhia de nossos familiares. Por muitos anos, eu fiz faculdade em outra cidade, então, nem sempre pude comparecer às festas da família. Mas, em um dia especial do ano, eu sei que sempre estarei ao lado das pessoas que eu amo – no dia do aniversário da minha mamis poderosa, como eu carinhosamente a chamo.

Celebrar o aniversário da minha mãe com ela é celebrar o máximo de amor que uma pessoa consegue sentir, pois foi ela que me deu a vida, ela que me gerou e, também, foi ela que não desistiu de mim e dos meus sonhos quando eu mesma já não tinha esperanças de dias melhores. Por isso, para mim, o dia do aniversário não é simplesmente um dia como outro qualquer; é o dia em que Deus renova a licença de vida das pessoas que eu mais amo no mundo, é o dia em que eu me lembro o que o amor puro e verdadeiro de uma mãe pode fazer por uma filha, é o dia em que eu vejo tudo o que eu conquistei com o apoio incomparável dela e todas as coisas incríveis que ela fez por mim. E acima de tudo, é o dia em que eu mais agradeço a Deus por tê-la comigo nessa vida e que, mesmo que eu ande pelo vale das sombras, atravesse desertos e lute com gigantes, eu não temerei mal algum, pois eu sei que ela está comigo e o amor dela me basta.

Com isso, agora eu te pergunto: E aí, você já celebrou a sua licença de vida este ano?