Surpreende atualmente, quando se observa o comportamento e os argumentos gerais de novas gerações e nem tão novas assim, sobre características arquitetônicas, linguísticas e comportamentais, presentes nestas sociedades siamesas e hereditárias. Colocações verbais sobre surpreendentes constatações de brasileiros ou portugueses descolonizados em África, a respeito de Portugal, o pai do Brasil, demonstram algum esquecimento de fatores históricos passados ou que são providencialmente ignorados, por parte destas populações descendentes. Diplomaticamente, algumas decisões políticas recalcadas no abandono português do império brasileiro, ignoram fatores e realidades anacrónicas e, inclusive antagónicas que a própria dinâmica histórica impôs e ainda impõe. Feridas psicólogicas que o passado revelou, através das novas e antigas novelas brasileiras e portuguesas, estão intercambiáveis pelo comércio da arte e também, do futebol. Incompreensões superficiais que uma falsa xenofobia ou racismo, insistem em ser classificados como tais.

O português africano descolonizado, trouxe também inconscientemente em seus descendentes uma possível mágoa da imigração compulsória, que foram forçados a aceitar. Por outro lado, os inconformados com as transformações políticas portuguesas dos anos 70, podem ter escolhido o Brasil, como seu novo Portugal original, que também os traiu pelos mesmos portugueses, que fundaram e independeram aquele Brasil de Vera Cruz. O brasileiro, é um ser originário da mistura de portugueses e demais europeus, com índios nativos e africanos imigrados, principalmente após a expulsão dos jesuítas educadores e evangelizadores de então. O Marquês de Pombal, dono do monopólio do Maranhão e Grão-Pará, teve forte influência sobre tal acontecimento, após ter sido também Embaixador na Inglaterra da Revolução Industrial. Não creiamos que portugueses de origem descolonizada, não tragam traumas ancestrais, absorvidas por seus pais. Também, não acreditemos que os mesmos traumas africanos de reinos vencidos não ajudaram o pequenino Portugal, a criar uma nação que sofreu diferentemente dos seus primos ibéricos - e estes sim, irmãos - criados por Espanha. Ainda, percebamos que a genética chinesa dos índios latinos-americanos - tenham vindo eles pelo estreito de Beringer ou, pelas grandes navegações asiáticas do Pacífico, nos barcos de junco através do oceano pacífico e que ainda sobrevivem no Peru - também colonizou o Novo Mundo.

Assim, acreditar em novas narrativas de antipatia colonial, não cabem mais, nem convencem os mais ilustrados. Fazem papel de tolos os desinformados; analfabetos intelectuais, os que se escondem atrás de novas falácias políticas ou psicológicas de mercado, que apenas contribuem com os novos reizinhos. Reis que destronados, foram destronando-se consecutivamente, para trazer novas verdades ou velhas mentiras, aos novatos incautos, analfabetos do futuro, que desconhecem sua origem ou pior, esconderam-se na história, com fantasias e alegorias de Carnaval.

Em 1879, a Armada do Brasil fez a primeira circum-navegação1 no Globo, para estabelecer um tratado diplomático de imigração com a China, rejeitado por estes, entretanto. Curiosamente, escolheu França como a sua "madrinha", esquecendo que o dono de Macau era o seu Pai, Portugal. Sob a alegação de que o Brasil não respeitava a sua mão-de-obra, a China do séc. XIX disse que não submeteria os seus nacionais àquelas desumanidades, nas quais os próprios brasileiros submeteram a sua marinharia da tal navegação. Grande parte pereceu de escorbuto, frio e anemia. Outros militares de baixas patentes desertaram daquela jornada, nos portos do caminho.

Este é o relato do livro, editado recentemente no Brasil e na China, para a esquecida comemoração do bi-centenário da independência, que quase passou desapercebido nos dois lados do Atlântico, como outros detalhes históricos, também têm sido. Ou pelo analfabetismo e desinteresse proposital quiçá, para a construção de uma nova Torre de Babel. Um experimento curioso e moderno, portanto... quiçá, digital! Ainda assim, o vovô Vaticano Romano, mantém os olhos bem atentos sobre suas crias rebeldes, no país que ainda hospeda a segunda Itália.

Notas

1 Primeira circum-navegação brasileira, E primeira missão do Brasil à China (1879), Marli Cristina Scomazzon e Jeff Franco, Dois por Quatro Editora, 2020.