“Patriiiiiiiii, você tem de ouvir um dos maiores cantores da Romênia na atualidade”, falava empolgadíssima minha amiga Adi (Adriana Ghiorghila) e continuou, “e ele é brasileiro!”.

Pronto, bastou falar que o cantor era brasileiro para chamar minha atenção.

Perguntei o nome dele e o que ela achava, se ele era tão “bom mesmo”? A resposta da Adi veio em vários links na internet em romeno e “se você entrevistar ele, diga que ele é, para mim, absolutamente amazing (maravilhoso)! Ele realmente está virando um ídolo na Romênia mesmo estando lá há apenas cinco anos, nós só o descobrimos agora no The Voice”.

Bem, impossível não mandar uma mensagem para o baiano ídolo dos romenos para uma entrevista.

Sandro, me fala um pouco da suas origens. Você nasceu onde? Suas raízes musicais, você vem de uma família de cantores, músicos?

Eu nasci em Camaçari e morei em Dias D’Avila até os meus 8 anos quando mudamos pra Salvador (Bahia). Lá eu tive toda a minha vivência musical. Meu pai era músico, trompetista e tocou e compôs muita música nos carnavais da cidade antes de eu nascer. Meu irmão, Harrley, também é cantor e minha mãe tem uma voz linda e canta sempre em casa. Eu cresci cantando música gospel (evangélica), meus pais se tornaram evangélicos quando eu era bem pequeno e desde os 4 anos eu cantava em coros infantis e na igreja, minha família sempre me apoiou muito!

Como voce foi “parar” na Romênia?

Depois que acabei meu mestrado na Alemanha eu passei um período sem saber se eu queria mesmo fazer ópera… eu sabia que queria cantar, mas não sabia o que… Visitei a Romênia algumas vezes e fiz alguns amigos em Timișoara (antiga capital do país), a cidade que eu vivo atualmente. Em 2018, vim pra cá novamente e durante a viagem apliquei pra uma vaga de emprego para trabalhar como contador que pedia Português e Inglês fluentes. Fiz metade de uma graduação em Administração com Finanças anos atrás em Salvador, mas larguei para estudar canto na UFBA (risos). A vaga estava aberta há algum tempo, mas exigia experiência na área - que eu não tinha, mas fui na fé e na coragem. Eles precisavam tanto de falantes de língua portuguesa, que estavam dispostos a dar um treinamento intenso e assim fui selecionado e comecei a trabalhar na Bosch Service Solutions em Timișoara como contador, e trabalho aqui há 5 anos.

Eu tirei uma pausa da música e foquei no novo trabalho quando mudei de vez para cá. Nesse tempo comecei a querer cantar outras coisas e escrever minhas músicas e não tenho cantado ópera desde então - fiz apenas um pequeno concerto logo que cheguei aqui cantando música erudita brasileira. Hoje tenho minha banda, Funk28, e canto também numa banda de eventos.

Você é contador, quando voltou a ser cantor? Quais são as tuas principais influências musicais?

Então, de formação eu sou mesmo cantor. Tenho formação acadêmica na área. Fiz graduação em Canto na UFBA - Universidade Federal da Bahia de 2007-2011 e também estudei em Portugal por uma temporada, 2012-2013, na ESMAE - Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo do Porto além de ser mestre em Ópera pela Staatliche Hochschule für Musik und Darstellende Kunst Stuttgart - Universidade Estadual de Música e Artes Cênicas de Stuttgart, na Alemanha, nos anos 2015-2018.

Contabilidade se tornou mesmo uma coisa que eu gosto. E sou muito grato pela oportunidade que a vida me deu de ter aprendido outra profissão.

Eu gosto e ouço muita coisa diferente! Dentre esses tantos, eu posso citar: Djavan, Maria Bethânia, Jessye Norman, Ella Fitzgerald, Stevie Wonder… e artistas mais recentes, como Baco Exu do Blues e Sam Smith.

The Voice Romênia, quando surgiu a ideia de participar?

Em 2021, eu participei de um outro concurso nessa emissora (Pro TV) o Românii Au Talent (Romanians Got Talent). Recebi 4 sims, mas não fui adiante na competição. Porém a experiência nesse programa me fez perceber que um concurso voltado apenas para canto era mais “a minha praia”, mas eu quis dar um tempo e focar nas minhas músicas e montar minha banda, por isso não me inscrevi imediatamente para o The Voice. A banda começou em Novembro do ano passado, e chama-se Funk28. A gente canta até algumas músicas autorais, mas ainda não gravamos nosso EP. A gente canta Pop, Funk, R&B, MPB, Rock e ritmos latinos também. Não tenho gravadora, sou 100% independente.

Esse ano as coisas aconteceram naturalmente. Soube das audições pro Vocea României 2023 (The Voice Romênia) aqui na cidade onde eu moro, Timișoara e no último minuto decidi participar.

Você é um dos ídolos e um dos favoritos dos romenos para ganhar o The Voice, como você explica essa torcida?

Eu acho que é meio cedo para dizer que sou um dos favoritos (risos), porque o show acabou de começar e tem muita, mas muita gente boa. Mas o carinho que eu recebi do país todo foi algo que eu jamais poderia imaginar! São tantas mensagens, seguidores, compartilhamentos, comentários… Eu fico emocionado.

Eu realmente não sei o que dizer pra explicar o que está acontecendo (risos). A gente quando está no show, no processo todo, não tem muita noção de como vai ser aqui fora. Eu sou muito grato em poder ter sido 100% eu mesmo em frente das câmeras, com meu Romeno (ainda) imperfeito, com minhas inseguranças, minha arte e a música que eu tanto amo transmitir de cima do palco e ter o povo desse país lindo ressoando comigo, sendo tocado pelo meu canto.

Brasil ou Romênia? O que os dois paises e os povos tem em comum e o que significam para você?

Eu nunca acreditei em fronteiras. Somos todos moradores desse mundo imenso e todos sofremos, amamos, perdemos, ganhamos e por aí vai… seja aqui ou lá.

Eu sou privilegiado por poder chamar a Romênia de minha casa, meu lar e ter sido acolhido (muito antes de participar do programa) por esse povo tão altruísta. E sou muito grato por ter o Brasil sempre em mim! Eu sou quem eu sou por conta do meu povo, da minha gente. E amo os dois países e espero poder me estabelecer no mercado musical da Romênia, cantando tanto em Romeno como Português e Inglês, e espero também ter a oportunidade de levar minha música pro Brasil.

A Romênia me acolheu desde o momento que eu mudei pra cá. E eu passei momentos bem delicados da minha vida morando aqui - como a partida do meu pai, por exemplo. Meus amigos fizeram tanto por mim nessa fase… eu tava emocionalmente em pedaços e aí eu pude ver as pessoas incríveis que a Romênia colocou ao meu lado.

Este é um país muito amável e hospitaleiro. As pessoas puxam conversa fácil, oferecem ajuda se te vêem precisando, são muito prestativas. E isso é muito parecido com a cultura Brasileira e especialmente a cultura baiana.

Outro aspecto fantástico é a culinária, e algumas coisas se assemelham com o Brasil! Na maioria dos países da Europa que eu visitei, a comida romena é imbatível!