O grupo CLAMP, ou somente CLAMP, é composto por quatro amigas, a líder Nanase Ohkawa e as três artistas, cujo os papéis mudam de obra para obra, Mokana, Tsubaki Nekoi e Satsuki Igarashi, juntas elas criaram um dos maiores grupos e uma das maiores marcas existentes no mundo dos mangás.
Inicialmente o grupo era composto por 11 pessoas e era voltado para a criação de Dojinshis (obras auto publicadas de fãs de alguma obra), contudo o grupo passou a criar obras próprias, estreando em 1989 com RG Veda, após isso o grupo se reduziu para sete pessoas e em 1993 mais três membros saíram, deixando apenas as quatro membros restantes do grupo.
O grupo publicou diversas obras (praticamente todas publicadas no Brasil), suas maiores obras (X, Magic Knight Rayearth (ou como ficou conhecido no Brasil, Guerreiras Mágicas de Rayearth), Cardcaptor Sakura e sua sequência Clear Card, xxxHolic, Chobits e Tsubasa) ganharam o mundo e os fãs e se tornaram verdadeiros best-sellers.
O grupo trabalha todo em um mesmo local, com Nanase atuando como porta-voz, escritora e produtora-diretora. Mokona atua como a chefe no design das personagens e Igarashi e Nekoi atuam fazendo o fundo e os cenários, contudo as três trocam de posições regularmente. O trabalho também, às vezes, é dividido entre elas na criação de personagens e fundos ou apenas uma delas lida com tudo, dependendo da obra. As três tentam “ficar o mais próximo possível” do design original de Ohkawa, que também as aconselha sobre quais cores serão utilizadas.
Mesmo que Ohkawa seja a pessoa que decida quais projetos o grupo aceita ou rejeita, Igarashi é a pessoa que decide qual o tempo e a ordem que o grupo vai trabalhar nos projetos, criando o cronograma que acomode o trabalho individual de cada membro. Elas não possuem nenhum assistente, pois dizem que eles iriam atrasá-las e não iriam entender os jargões que o grupo usa.
Assim que Ohkawa monta um storyboard, os membros se reúnem e discutem o propósito da história e de seus personagens. Após familiarizadas com a história, a líder esquematiza um fio condutor para a história e determina onde ela irá acontecer, além disso, todos os finais de cada história são predeterminados (contudo esse ponto é debativel, pois a várias obras do grupo que estão em hiato a muitos anos).
Ohkawa cria muitas das personagens logo no início da criação da história, com as personagens secundárias sendo criadas antes. Assim que Ohkawa desenha o contorno deles, as outras três artistas formulam o design dos personagens, criando fichas sobre eles, para evitar confusões. Após fazerem um esboço, mostrarem para o editor do grupo e receberem aprovação, a líder designa os papéis que cada uma das artistas vai desempenhar, escolhendo o estilo e o visual dependendo de fatores como a complexidade da obra, o estilo escolhido e a relação com os outros trabalhos do grupo. Ohkawa também faz um esboço para cada capítulo, detalhando diálogos, tamanho dos painéis, objetos, movimentos e as emoções das personagens.
O grupo também conta com características muito marcantes em seus trabalhos como os traços, a temática, o subjetivismo, temas considerados polêmicos e/ou tabus, a feminilidade de delicadeza e principalmente seu universo compartilhado.
Esse multiverso apareceu primeiramente em xxxHolic e Tsubasa, mas obras mais antigas já compartilhavam e/ou eram sequencias uma das outras, como por exemplo, Tokyo Babylon sendo um prequel da história de X, Wish sendo um prequel de Kobato, Angelic Layer um prequel de Chobits. Entretanto, xxxHolic e Tsubasa foram as primeiras obras a, além de compartilhar do mesmo universo, serem publicadas simultaneamente.
Tsubasa aliás foi criado pelo grupo para ser propositalmente uma obra que conectasse todas as obras do grupo em um mesmo universo. A maioria, se não todas, as obras do grupo são do gênero shoujo ou voltadas para o público feminino, mas de forma surpreendente elas acabaram conquistando todos os públicos, com Cardcaptor Sakura sendo sua obra de maior sucesso.
Esse sucesso se deu não apenas aos traços delicados e femininos das artistas, mas também pela sutileza com que suas histórias são escritas. Mesmo tocando em temas pesados, e alguns até muito controversos, as artistas conseguem lidar com eles de forma delicada, como por exemplo os seus diversos personagens LGBT+ espalhados por todas as obras, androginia, tipos diferentes de relacionamento e de amores (esse tópico criando uma verdadeira polêmica que obrigou as autoras a eliminarem uma personagem da continuação de Cardcaptor Sakura), bullying, e muitos outros.
Como dito anteriormente, o traço de cada obra varia conforme a obra, entretanto, muitos fãs preferem os traços de Mokona (Magic Knight Rayearth, Cardcaptor Sakura, Kobato) aos traços das outras duas artistas, por terem um estilo muito diferente e os personagens acabarem desproporcionais com braços e pernas muito compridos (xxxHolic e Tsubasa). Aliás, é possível saber qual das três é a artista principal da obra apenas pelo traço:
Mokona: RG Veda, Homem de várias faces, Tokyo Babylon, Clamp School Defenders, Clamp School Detectives, X, A lenda de Chung Hyang, Magical Knight Rayearth, Cardcaptor Sakura e sua sequência, Miyuki-chan no país das maravilhas, Clover, Kobato e Gate 7.
Tsubaki Nekoi: xxxHolic, Legal Drug, A pessoa amada, Wish e Suki.
Satsuki Igarashi: Angelic Layer, Chobits, Tsubasa.
Outro dos principais pontos das obras do grupo é “os diferentes tipos de amor”, sendo sempre um dos focos principais de suas obras. O mais fantástico é que em nenhuma das obras é demonstrada relações de afeto de forma explicita, mas são tão bem escritas que conquistam todos que as leem, mesmo que alguns relacionamentos e casais fiquem só na forma subentendida.
Aliás essa é outra característica extremamente marcante no grupo, nada é jogado de forma explicita para o leitor. O passado dos personagens, relacionamentos de personagens secundários, suas vidas pessoas e etc, tudo é tratado de forma subjetiva e nunca é o foco das histórias, o fio condutor da história sempre será a parte de maior foco na história, um dos maiores exemplos é a obra Angelic Layer em que a história foca totalmente apenas na trama principal e os relacionamentos, passado dos personagens e etc são deixados de fundo ou praticamente não são mencionados.
Esse subjetivismo pode ser considerado por alguns como um dos defeitos das obras do grupo, além do pouco aprofundamento dos personagens e do universo das obras. Além disso, o grupo também tem diversas obras em hiato, com X sendo o pior caso, pois está parada a mais de 20 anos e sem nenhuma perspectiva de ter um final.
Mas mesmo com isso, o universo CLAMP merece ser visitado por todas as pessoas. As obras do grupo continuam sendo atemporais e os temas tratados nelas também. Quem julgar as obras apenas pelos traços mais delicados acaba perdendo verdadeiras obras primas, por isso, se ainda não entrou nesse universo, pode ir sem medo, pois ele vai acabar te conquistando.