Todos nós sofremos pela ausência de uma pessoa querida que pode estar longe, a dor maior é pelos entes já mortos e não mais serão vistos até que chegue a nossa hora também, ou não, pois há quem diga que no outro plano não nos reconheceremos como somos atualmente, isso só lá vamos saber... um dia.

A vida é um grande mistério para nós, os viventes, não sabemos o que vai acontecer logo ali, na próxima curva, nem se será uma curva e havendo uma curva, se será fechada ou bem aberta, e se for uma reta? Será ela uma estrada regular? Será que é esburacada, plana ou com aclives e declives? Nada sabemos. Não temos a menor ideia sobre o próximo segundo de vida, como poderemos saber o que encontraremos no seu final? O céu, o inferno ou o purgatório?

O fato é que as pessoas vão passando por nossas vidas, amigos, colegas de trabalho, pessoas que admiramos e nunca as conhecemos pessoalmente, mas que fizeram parte de nossa vida através de seu trabalho artístico, como cantores, atores e escritores. Parentes, pai, mãe e irmãos. Ainda não conseguimos aceitar que a vida tem seu fim, que ciclos são interrompidos para novos ciclos se iniciarem, ficam aqui a herança genética que vai se perpetuar através de nossa descendência, ou não, se não fizermos descendentes.

A dor da saudade, essa fica para sempre, enquanto estivermos vivos lembraremos das pessoas que fizeram parte de nossa vida, pai e mãe são lembrados com carinho, chega a um ponto em que dá saudade até daquela boa chinelada, eu tenho, porque sei que todas as chineladas que levei tinham muito amor envolvido, nunca fui espancado, era só chinelada mesmo para punir alguma travessura mais pesada, ai, como eu queria uma agora!

Mas a vida precisa seguir seu rumo, sem o colo da mãe, sem a chinelada, sem a presença daquelas pessoas que amamos tanto. É complicado levar adiante a vida, realizar os sonhos, sem saber se a pessoa querida está sabendo ou não que foram realizados, esperamos que sim, fazemos por elas e acreditamos que estão felizes lá de onde estão, será? Tomara! Não acreditar nisso é frustrante demais, preferimos essa crença que nos fortalece para alcançarmos outras conquistas mais.

Por isso é importante falar do amor que sentimos pelas pessoas, dizer a elas que sua presença faz falta e que desejamos estar perto delas o maior tempo possível, porque não adianta nada lamentar depois pelo que nunca foi dito, deixar esse grande peso nas costas e sofrer em dobro. É preciso falar do amor, da raiva, de qualquer sentimento na hora, não deixar nada passar, para não se arrepender depois, pois é isso que perturba e tira a paz.

Se você tem que fazer alguma coisa por uma pessoa, faça em vida, enquanto ela está com você. Ajude e, se for o caso, chame a atenção também. Diga tudo o que estiver engasgado, a gente não sabe o dia de amanhã, nem se ele haverá e se houver para nós, pode não haver para o outro e ficarmos com palavras engasgadas que nos prenderão em algum ponto do passado, no “e se...” da vida, “e se eu tivesse feito...”, "se eu tivesse falado...”, “se, se, se...”, é um peso duro de levar para o resto da vida.

O coração aliviado não fica preso no acontecimento ruim, ele aceita mais facilmente a perda, pois tem a certeza de que fez o que deveria ter feito, no momento que era para ser feito, não restando arestas a serem aparadas. Essas arestas é que nos deixam presos e não permitem que nossa vida siga em frente, e ela precisa seguir, a vida vai continuar e precisamos estar inteiros nela.

Podemos estar ao lado da pessoa amada de várias formas, se não pudermos fazer mais nada efetivamente, podemos segurar a mão dessa pessoa, dizer que estamos ali para aliviar sua dor e proporcionar bons momentos a ela. E isso não precisa ser dito em palavras, mas em ações, essa atitude por si só já mostra as intenções, podemos ser úteis até no silêncio, só o fato de dar a mão ao outro já faz a diferença.

A culpa dói mais do que a perda, faz muito mais mal do que não termos mais a presença de alguém. Ela é a causa da destruição de vidas, que definham pelo simples fato de não ter feito o que devia ser feito no momento certo de fazer. Ainda temos tempo, não sabemos quanto, de mudar o nosso sentimento, de apoiar quem precisa de apoio, de dar a mão a quem precisa dela e de dizer “eu te amo” a quem amamos.

Ao deixar essas coisas para depois corremos o risco de não conseguirmos fazer, é importante fazer isso agora, é hoje que estamos vivendo, e precisaremos seguir em frente depois, sem nada que nos deixe presos ao momento da dor mais forte da perda, quando choramos a falta que sentiremos e por não ter dito coisas importantes, que devíamos dizer quando ainda havia a vida.

A vida seguirá mais leve se nos desprendermos de nossas culpas. As lamentações contínuas são as culpas vindo se mostrando, são a arrogância de não pedir o perdão na hora certa, ou de acreditar não ser preciso dizer “eu te amo”. Cada vez que dizemos “ah, eu podia...”, estamos trazendo para nossa vida frustrações pelo que não fizemos. É melhor dizer “eu fiz tudo o que pude...” e manter só a saudade boa, de coração leve e pronto para tocar a vida, mesmo com a tristeza, que com o tempo alivia.

A morte é um fato, é a única certeza que temos sobre a vida, um dia ela vai acontecer, querendo ou não, é impossível fugir dela. Vamos deixar tudo o que fizemos e o que fomos, bens materiais ficarão, até os ossos ficam, não sei o que levamos, talvez a alma, que é o que realmente somos. Se pudermos deixar junto ao resto a certeza de que fizemos a coisa certa, que fizemos alguém feliz e não nos frustramos com a vida, talvez nossa partida para a vida eterna seja bem tranquila. Amém!