Há uma série de livros e histórias infantis que deveriam ser literatura obrigatória para nós, adultos de plantão. Isso porque eles nos ensinam e relembram, na simplicidade da escrita para os pequenos, aquilo que a vida adulta muitas vezes nos leva a esquecer ou ignorar: valores, relações e reflexões.

Um desses livros é A Árvore Generosa (título original: The Giving Tree), escrito e ilustrado por Shel Silverstein. É uma obra bastante conhecida, publicada pela primeira vez em 1964. O livro conta a história de uma árvore que ama um menino e, ao longo da vida dele, oferece tudo o que tem para fazê-lo feliz. A narrativa é simples, mas carrega mensagens profundas sobre generosidade, sacrifício e o relacionamento entre dar e receber. A árvore, em várias etapas da vida do menino, oferece partes de si mesma — como folhas, frutos, galhos e, eventualmente, seu tronco — para satisfazer as necessidades e desejos dele. No final, a árvore fica apenas com um toco, mas ainda assim se sente feliz por ter ajudado o menino.

Gosto muito de utilizar a história da árvore para debater com profissionais da educação e da saúde sobre a importância de cuidarmos de nós mesmos para melhor poder cuidar do outro. Porém, hoje escrevo com o mesmo objetivo, mas pensando na relação que mais me move e motiva nos últimos anos: a maternidade.

Assim como a árvore, a mãe vê seu filho crescer. No início, ela o embala em seus galhos, oferecendo sombra e conforto, alimentando sua curiosidade com frutos de sabedoria e carinho. O tempo passa, o menino, agora crescido, volta-se para a vida, explorando o mundo além das raízes que o nutriram.

A mãe, muitas vezes, tal qual a árvore, assiste com um sorriso, pronta para oferecer o que tem, mesmo que isso signifique dar partes de si. Quando o filho precisa de apoio, ela está lá com seus ramos estendidos, oferecendo força. Quando ele busca aventuras, ela lhe dá o tronco para construir seus sonhos. E, quando ele retorna cansado e à procura de paz, ela, mesmo sendo apenas um toco, lhe oferece descanso e um lugar para se apoiar.

Há uma beleza silenciosa nesse ato de doação, uma poesia na maneira como uma mãe, sem dizer uma palavra, continua a dar e a amar, independente do que recebe em troca. Há uma beleza inegável no amor chamado incondicional de uma mãe — que não naturalizo, defendo que é construído a cada dia — mas também há certo risco. A metáfora da árvore generosa pode nos alertar sobre os perigos de um amor que se anula, que se perde a ideia de que, para ser uma boa mãe, é preciso dar tudo, sem deixar nada para si.

A verdade é que, para que uma mãe possa continuar a nutrir e amar, ela precisa também se nutrir. Não podemos esquecer que uma árvore também precisa de água, de sol, de espaço para que suas raízes cresçam fortes. Da mesma forma, uma mãe precisa cuidar de si mesma — de seus desejos, de sua saúde, de seus sonhos. A maternidade não deve ser uma jornada de autoesquecimento, mas sim um caminho onde o amor pelos filhos caminha ao lado do amor por si mesma.

Uma mãe que se dá por completo, sem nunca parar para cuidar de sua própria árvore interior, corre o risco de se encontrar, como a árvore do livro, exaurida, sem forças para continuar. A generosidade é um ato de amor, mas o autocuidado é um ato de sabedoria. Não se trata de dar menos, mas de dar de forma sustentável, onde a mãe floresce ao lado de seus filhos.

Assim, o desafio da maternidade não é apenas criar e sustentar, mas também aprender a dizer "não" quando necessário, a guardar um pouco da própria seiva para si, a lembrar que uma mãe saudável, feliz e realizada é o solo mais fértil para o crescimento de filhos igualmente saudáveis, felizes e realizados.

A generosa árvore nos ensina sobre a beleza da doação, mas nos convida também a refletir sobre a importância de cuidar de nossas próprias raízes, para que possamos continuar a dar, sem nos perdermos de nós mesmos. Porque, no final das contas, uma mãe que se cuida e se preserva é uma mãe que pode continuar a amar e a nutrir, não apenas hoje, mas por toda a vida. Assim, aprendemos que a maternidade deve ser uma jornada de amor compartilhado e cuidado mútuo. Devemos dar e amar, mas também aprender a receber e cuidar de nós mesmos. Porque, ao final, uma mãe que se ama e se cuida é capaz de dar um amor ainda mais profundo e duradouro. Ela é uma árvore generosa, mas também uma árvore que floresce continuamente, renovando suas forças para continuar oferecendo sombra e frutos, sem jamais se esgotar completamente.

E, tal como a árvore, uma mãe encontra sua felicidade no simples fato de ver seu filho viver, crescer e ser feliz. Mas ela também deve encontrar felicidade em sua própria jornada, acompanhando que sua própria sombra e frutos também são essenciais para sua alegria e bem-estar.