[Interior do Kremlin, dia]
Estamos de novo na sala que contém aquela compridíssima mesa de reuniões. Putin está, desta vez, reunido com Lavrov, Ministro dos Negócios Estrangeiros, e Prigozhin, o líder do grupo Wagner. O ambiente é tenso e constrangedor. Lavrov não olha para Prigozhin e este olha para ele com desdém. Putin está numa ponta da mesa e os outros na outra.

Putin: (para Prigozhin, com censura) Lindo serviço…
Prigozhin: Chefe, aquela pequena tentativa de golpe de estado não era nada contra si, era só contra estes maricas do governo.
Putin: O Governo sou eu.
Prigozhin: Certo, mas…
Lavrov: Que vergonha! Avançar com tropas contra o nosso querido líder. Mas estamos no seculo XX ou quê? Que coisa mais deselegante!
Prigozhin: Convocar-me a Moscovo e reservar-me o último andar do Hotel Central não é deselegante?
Lavrov: Não havia quartos no rés do chão.
Prigozhin: Eu não vou morrer duma estranha queda de janela como todos os que desafiam o poder do Kremlin. Querem executar-me, olhem-me na cara e deem-me um tiro. Acho que ganhei esse direito.
Putin: Foi o que eu sugeri ao nosso Ministro da Defesa, mas ele diz que não quer sujar as mãos.
Prigozhin: Esse Shoigu é um maricas.
Lavrov: Para ti toda a gente é maricas.
Putin: Para mim também…
Lavrov: (Atrapalhado) Para mim também, claro. Mas quero alertar o querido Líder de que, matar este dissidente, traidor e terrorista não pode ser em forma de execução. Isso ia dar uma péssima imagem da Rússia.

Putin e Prigozhin desatam a rir.

Prigozhin: A imagem da Rússia. Boa piada.
Putin: Agora podemos cometer todo o tipo de atrocidades que a nossa imagem já não será afetada. Não podemos ter pior imagem.
Prigozhin: Há que aproveitar.
Lavrov: Então, tudo bem, o Shoigu que dê um tiro em Prigozhin e o assunto fica resolvido.
Prigozhin: (rindo) Ele que tente.

A porta abre-se e entra Shoigu.

Shoigu: Querido Líder, eu…

Ao ver ali Prigozhin, Shoigu assusta-se e dá meia-volta. Sai.

Putin: Shoigu! Anda cá!

Timidamente, Shoigu volta a entrar.

Putin: O Prigozhin não te faz mal. Senta-te.

Shoigu vai sentar-se a meio da mesa, sempre de forma assustada e sem tirar os olhos de Prigozhin, que sorri, divertido.

Putin: Notícias da guerra na Ucrânia?
Shoigu: Guerra?
Putin: Operação especial, desculpem.
Shoigu: Agora que o grupo Wagner saiu, está tudo a correr muito bem. Tirando a parte de estarmos a perder terreno.

Prigozhin ri. Shoigu contém a sua fúria.

Shoigu: O querido Líder disse que ia mandar matar este bandido.
Putin: Pedi-te que o fizesses.
Shoigu: Ele recusou-se a ficar alojado no último andar do hotel, e todos sabemos que atirar um indivíduo de uma altura baixa não é garantia de morte.
Putin: Ele sugere que o executes com um tiro.
Shoigu: A imagem da Rússia não pode ser afetada com…
Putin: (Corta) A nossa imagem é a de um estado selvagem, podemos fazer tudo. Até usar armas nucleares. Estamos imunes a qualquer tipo de censura.
Lavrov: (Desolado) Ninguém nos respeita.
Shoigu: Se até os terroristas internos deixamos imunes!
Prigozhin: Mata-me lá se tens coragem, vá.

Putin tira do casaco uma pistola e fá-la deslizar até Shoigu. Este hesita. Lavrov levanta-se rapidamente e sai de perto de Prigozhin para não ser atingido.

Putin: Eu depois mando limpar a carpete.

Shoigu quebra e começa a chorar, escondendo a cara. Depois levanta-se e sai da sala a correr. Prigozhin ri. Putin abana a cabeça, enfadado. Lavrov volta a sentar-se.

Lavrov: Ele sofreu muito bullying durante os tempos de escola e...
Prigozhin: (A Putin) E se eu fingisse ir para a Bielorrússia?
Putin: Pode ser…