A Educação brasileira está cada vez mais crítica e questionadora sobre a relevância das tarefas de casa como uma estratégia pedagógica. Recentemente, uma reportagem trouxe à tona o aumento das discussões entre especialistas em educação sobre a possibilidade de abolir essa prática no Brasil. Embora essa ideia possa parecer nova em nosso país, vale ressaltar que é um tema amplamente estudado e debatido por algumas das melhores nações em educação do mundo, como o Canadá e a Finlândia.

Diante desse contexto, surge a questão: as lições de casa realmente têm um impacto significativo no processo educacional ou não? Para responder a essa pergunta, é necessário aprofundarmos nossa análise sobre o assunto.

Um dos estudos mais relevantes sobre esse tema foi conduzido por John Hattie em 2009, que realizou uma minuciosa metanálise envolvendo mais de 800 estudos científicos. Os resultados revelaram um valor pouco significativo de efeito (de 0,29) para as lições de casa. Ainda que haja um impacto moderado no desempenho acadêmico dos alunos é importante ressaltar que a qualidade das tarefas atribuídas desempenha um papel crucial nessa equação. Quando as lições de casa se limitam a exercícios repetitivos, desprovidos de estímulo à criatividade e ao pensamento crítico, elas podem, na verdade, desmotivar os estudantes e provocar um efeito contrário do esperado.

Diversas análises científicas reforçam a importância de adotarmos uma postura crítica em relação à aplicação das lições de casa no sistema educacional brasileiro. Em um estudo realizado em 2006, o Dr. Harris M. Cooper, professor de psicologia e neurociência na Duke University, conduziu uma revisão abrangente que não encontrou evidências suficientes para comprovar que as lições de casa têm um impacto significativo no desempenho dos alunos. Além disso, uma análise minuciosa realizada por Trautwein e Koller (2003), envolvendo mais de 7.700 alunos, revelou que a quantidade de lições de casa não está diretamente relacionada ao desempenho acadêmico e pode, na verdade, aumentar os níveis de estresse dos estudantes. Outro estudo, conduzido por Maltese et al. (2007) e abrangendo mais de 7.000 alunos na área de ciências, constatou que as lições de casa não possuem uma influência significativa no desempenho dos alunos nessa disciplina. Essas evidências adicionais reforçam a necessidade de uma reflexão cuidadosa sobre a prática das lições de casa no contexto educacional.

Considerando essas evidências contundentes, é crucial que repensemos a quantidade e a qualidade das tarefas de casa atribuídas aos alunos brasileiros. Em nosso sistema educacional, há diversas práticas que precisam ser revistas, mas a questão das lições de casa é uma em que podemos chegar rapidamente a um consenso e agir de forma coordenada.

O cenário pós-pandemia trouxe consequências graves para o bem-estar emocional de todos os alunos. Portanto, é urgente que olhemos com cuidado e afeto para o equilíbrio entre a vida escolar e pessoal dos estudantes, promovendo uma aprendizagem significativa e enfrentando as desigualdades socioeconômicas. Nesse contexto, as lições de casa devem ser avaliadas com base em evidências sólidas, direcionadas especialmente para os alunos mais velhos, com objetivos claros e abordagens que estimulem o engajamento e a criatividade.

A sala de aula é o espaço ideal para aplicar atividades, lições, produção de conhecimento e exercícios, não a sala de casa. O que deve ser feito é deixar de lado o caráter unicamente expositivo das salas de aula e buscar envolver os alunos em atividades práticas e experimentais. Quando essa abordagem ganha destaque nas escolas, a abolição das lições de casa se torna uma possibilidade ainda mais plausível.

E se, mesmo diante de todas as evidências e reflexões apresentadas, você, como pai/mãe, ainda desejar proporcionar uma lição de casa para seu filho? Que tal uma abordagem diferente?

Leia! Leia para ele, leia com ele.

A leitura compartilhada é uma forma poderosa de despertar o interesse pelo conhecimento, promover a imaginação e abrir portas para discussões enriquecedoras.

Você também pode incentivar a participação de seus filhos em atividades rotineiras dentro de casa, promovendo vínculo, gerando curiosidade e formando o caráter de seus filhos em torno dos valores de sua família.

A ideia desse ensaio é repensar o conceito tradicional de lição de casa, explorando alternativas já existentes que estimulem o desenvolvimento integral de nossas crianças, mas acima de tudo que as façam ter prazer pelo o aprendizado, e, assim motiva-las a continuar aprendendo por toda a vida, conceito chamado de Lifelong Learning, haja vista que essa será uma atitude e habilidade essencial para ter sucesso no futuro.

Ao priorizarmos uma educação que estimula a curiosidade, o pensamento crítico e a autonomia dos alunos, estamos preparando-os para enfrentar os desafios do futuro de forma mais confiante e próspera. O aprendizado prazeroso e contínuo é um fator determinante para a construção de uma sociedade mais criativa, adaptável e preparada para as constantes mudanças e incertezas.

Portanto, caros colegas e educadores brasileiros, uni-vos em busca das alternativas relevantes à nossa realidade nacional que inspirem nossas crianças a se tornarem eternos aprendizes apaixonados pelas descobertas ao longo da vida. É fundamental que estejamos abertos a questionar o status quo e desbravarmos novas abordagens pedagógicas inovadoras, levando em consideração as características e necessidades de nossos alunos, bem como as demandas e desafios do mundo contemporâneo.

Ao cultivarmos um ambiente de aprendizado estimulante, participativo e significativo, conseguiremos cumprir nossos papéis e preparar nossas crianças para enfrentar qualquer desafio do futuro com entusiasmo, criatividade e resiliência.