Falar deste santo, para mim, é um grande prazer. Depois que conheci a história deste homem, foi impossível não me apaixonar. Talvez este texto seja um dos mais prazerosos para mim em escrever. Por isso, este texto terá mais de uma parte.

Giovanni Melchior Bosco nasceu em um vilarejo chamado “Becchi”, na cidade de Castelnuovo D’Asti (no norte da Itália), no dia 15 de agosto de 1815, filho de Margarida Occhiena (mamãe Margarida) e Francisco Bosco, ambos camponeses.

Para contextualizar um pouco de sua infância, trago alguns elementos histórico-geográficos. Em 1789 explode a Revolução Francesa e surge a figura de Napoleão Bonaparte. Por volta de 1805, as tropas francesas começam a se deslocar para o sul da França e norte da Itália.

A família de Dom Bosco, especificamente sua mãe, acolhiam soldados em sua casa para oferecer-lhes algo para comer e beber.

Dom Bosco cresce neste contexto. Um cenário duro.

Filho de uma família pobre, dividia sua casa com dois irmãos, Antônio e Francisco, filhos do primeiro casamento do seu pai. Além disso, morava na mesma casa, sua avó, mãe de Francisco, já muito debilitada.

Com dois anos de idade, o pequeno Giovanni perde seu pai, Francisco, devido um agravamento de uma pneumonia. Sua mãe, se torna sua figura materna e paterna. Os filhos, por motivo de força maior, precisam trabalhar nos campos das famílias vizinhas.

A partir daí, o desenvolvimento de João passa, diretamente pela energia, fibra e carinho de sua mãe. Como toda criança, Joãozinho Bosco aprontava das suas. Conta-se que, certa vez, aos cinco anos, ficou encarregado, junto com seu irmão José, de sete anos, de cuidar dos perus que tinham em casa. Cerca de cinco ou seis. Abriram as cercas, cuidaram para que os perus fossem e voltassem com segurança. Porém, ao fazer a contagem dos perus para colocá-los novamente dentro do cercado, a surpresa: estava faltando um.

Os irmãos saíram apressados para procurar o peru que estava faltando. De repente, viram um pequeno vulto, de uma pessoa. Logo concluíram que era um ladrão. Foram ter com ele. João, com voz enérgica, pediu que devolvesse o peru ou começaria a gritar para os agricultores que estavam ao entorno.

Com medo, o ladrão devolve o peru, que estava em um saco, e afirma que tudo não passou de uma brincadeira.

Ao chegarem em casa, falaram para Mamãe Margarida o que havia acontecido e, tão logo, foram repreendidos. Segundo ela, “é melhor perder um peru do que levar uma surra”.

Outro fato curioso, que mostra o quão respeito, com afeto, Mamãe Margarida impunha, aconteceu quando João tinha, aproximadamente oito anos. Toda quinta-feira, Margarida ia até Castelnuovo para vender queijos, frangos e verduras, frutos do seu trabalho como agricultora.

Certa vez, enquanto jogava bilharda1 com os irmãos, um dos pedaços de madeira foi arremessado, acidentalmente até o telhado. João, porém, afirmou que em cima do armário havia outro pedaço de madeira que poderia ser usado. Para pegá-lo, precisou subir em uma cadeira e ficar na ponta dos pés. Em um movimento para buscar equilíbrio, derrubou um vidro de óleo no chão, que quebrou e manchou todo o assoalho.

Sabendo que haveria algum tipo de correção para este ato, João, após limpar tudo o que conseguira, foi até uma árvore, tirou um galho firme e flexível e se pôs a talhá-lo com um canivete.

Quando Mamãe Margarida chegou em casa, o pequeno João a recebe com alegria e logo lhe conta todo o acontecido, entregando a ela a vara feita por ele mesmo, para que ela o repreendesse.

Porém, com um sorriso, Mamãe Margarida o agradece pela sinceridade e lhe pede ajuda para arrumar mais um pouco de toda a bagunça.

Aos nove anos, ele tem um sonho que, segundo ele mesmo, ficaria profundamente marcado em sua memória.

Em seu sonho, João estava num amplo terreiro cheio de crianças se divertindo. Contudo, algumas delas discutiam, gritavam palavrões e agiam de maneira agressiva. Indignado com a situação, João tentou separar a briga se envolvendo na briga com violência. Foi nesse momento que surgiu um Senhor respeitável, com uma face tranquila e marcante, que lhe falou:

—Não com violência, mas com doçura e amor conseguirás conquistar esses teus amigos.

Atônito, João indagou como conseguiria realizar tal feito, uma vez que não conhecia aqueles jovens e não exercia qualquer poder sobre eles. O Senhor respondeu:

—Eu te darei a mestra.

No mesmo momento, apareceu uma Senhora grandiosa e luminosa, usando um manto que irradiava como o sol. Era Nossa Senhora. Ela levou João até as crianças e disse:

—Empunha teu poder; torna-te humilde, forte e robusto e o que vês acontecer agora é o que deverás fazer com meus filhos.

João então notou que as crianças rebeldes tinham se transformado em animais selvagens que brigavam e se mordiam. Mas, sob a regência de Maria, eles se transformaram de novo, agora em animais dóceis, que brincavam em paz.

O pequeno João questiona sobre como poderá fazer essas coisas sendo ele tão novo.

Finalmente, a Senhora esclareceu:

—Tudo a seu tempo, compreenderás!

Quando acordou, o pequeno João decide contar seu sonho para sua família. O irmão mais velho, cheio do cansaço de assumir os trabalhos de uma casa, diz:

—Acho que você será bandido!

O irmão do meio, querendo acalmar os ânimos, afirma:

—Talvez você seja pastor de ovelhas.

Sua vó, com voz já cansada por conta da idade, diz:

—Meu filho, sonhos são somente sonhos.

Sua mãe, com o coração cheio de sabedoria, fala:

—Quem sabe um dia não te tornas sacerdote?

João Bosco, como conta em sua autobiografia, afirma que concordou com a ideia de sua avó, de que sonhos são somente sonhos.

Após esse episódio, sua infância foi marcada por muitos estudos e trabalhos no campo. Aprendeu, desde cedo, a ler e a escrever (algo que não era tão comum na época) e a se dedicar aos trabalhos do campo. Em relação aos estudos, passou por dificuldades, pois a visão dos irmãos mais velhos não era tanto voltada à área intelectual, mas ao braçal.

E assim, o pequeno João Bosco crescia e se desenvolvia. Uma das suas atividades preferidas era participar de momentos com as crianças de sua idade. Como era muito habilidoso em algumas atividades, promovia momentos de interação com as crianças, como malabarismo, corda banda e outras brincadeiras. Sempre foi um líder em meio às crianças.

Nota

1 O "jogo da bilharda" refere-se a um jogo antigo em que um jogador usa um pau comprido para bater numa pequena bilharda (um pequeno objeto de madeira, muitas vezes afiado), fazendo-a saltar e tentando que caia num círculo ou "nicha" traçado no chão, com os adversários a tentarem apanhá-la no ar para ganhar o jogo ou a impedir o lançamento inicial. Breve explicação do que é esse jogo.