Ter muito tempo livre pode ser bom ou mau depende se o sabemos usar ou não.
Quem está a fazer uma investigação académica, a tempo inteiro, sabe do que falo e do problema que pode ser se não nos soubermos organizar. Uma coisa foi a licenciatura, onde a cada semestre tínhamos cinco disciplinas diferentes, para as quais estudávamos e fazíamos trabalhos e, no fim do semestre, tínhamos a nota. E no próximo, a mesma coisa. Numa dissertação não é bem assim, há muita tendência em deixar as coisas andarem.
Quando iniciei a minha, também tive alguma dificuldade em organizar o meu tempo e em conseguir fazer face a tudo, não só ao “meu trabalho”, mas também à minha vida pessoal. Muita gente pode até discordar, mas ao longo destes meses percebi que sim, é preciso ser focado e organizado para atingirmos os nossos objetivos, mas não podemos desleixar a outra parte, o nosso bem-estar.
E, aqui, o tempo a mais que a dissertação me tem dado permitiu-me entrar em novos projetos e ser mais ativa nos meus hobbies que, com a licenciatura, desleixei um pouco. A começar pelo voluntariado, no ano passado fiz parte de três projetos de voluntariado: dois ligados à minha área de formação, nomeadamente a Revista Meer (para a qual escrevo desde fevereiro de 2024) e a Antena Web (da qual faço parte desde outubro de 2024), e a Instinto (uma associação de resgate animal da qual fiz parte até ao fim do verão passado).
Além de me ajudar a ocupar o meu tempo, tem-me ajudado a geri-lo de melhor forma, tendo em conta os meus outros afazeres, além de me permitirem fazer coisas de que gosto: escrever, editar som e estar com os animais. O meu hobbie que havia desleixado, mas que retomei em força quando comecei a dissertação, foi a leitura que graças à investigação académica, tenho conseguido diminuir a minha lista de leituras a olhos vistos!
No entanto, os dias não são todos iguais e, de longe, que são todos hiper-mega produtivos. Longe disso. Há dias em que simplesmente, não tenho vontade de fazer nada e não faço. O trabalho atrasa-se? Sim. Mas não sou uma máquina e, se tenho algum tempo livre, vou aproveitá-lo enquanto posso. Quando tiver um trabalho das 9h às 17h não vou poder parar quando quiser ou faltar quando me apetecer.
Mas há uns tempos que tenho sentido que os meus dias são um tanto monótonos, apesar das diversas tarefas que tenho para fazer, desde escrever os artigos para a revista e pesquisar por novos temas, a dissertação ou, mais recentemente, o trabalho voluntário que comecei a fazer para uma rádio online. Sem contar com as tarefas normais do dia a dia: levar o lixo, vestir, comer, tomar banho, limpar a casa, lavar e estender roupa, etc. — sim, porque uma estudante também cuida da casa, embora não pareça.
Apesar de estar sempre a fazer algo, nem que seja a fazer scroll nas redes sociais, sinto que é sempre mais do mesmo. Os dias tornaram-se de tal forma monótonos, que se porventura há um dia que saio da rotina imposta é um bicho de sete cabeças e um alívio. Por um lado, é um bicho de sete cabeças, porque é necessário coordená-lo com o resto das coisas a fazer naquele dia, mas por outro é um alívio por saber que vou fazer algo diferente do habitual. Nestes dias, pareço uma menina de 7 anos em pulgas para abrir as prendas de Natal!
Num dia normal, às 8 horas da manhã, arranjo-me e vou tomar o pequeno-almoço. Aprendi que não sou nada sem o meu galão pela manhã. Também aprendi que se acordar um pouco mais tarde, o dia já não é tão produtivo e isso deixa-me frustrada. É a vida.
Depois do pequeno-almoço, parto para mais um dia de trabalho na dissertação, mas não se iludam, não sou o tipo de pessoa que vai para a biblioteca ou para cafés trabalhar. Não, eu trabalho mesmo é do meu quartinho com vista para a Serra da Estrela — só o facto de pensar em ter de mover todas as minhas “bugigangas” para outro lugar, perco logo a vontade.
Por norma, às 9h30, estou a “picar o ponto” e a dar início a mais um dia de trabalho. Também aprendi que uma gestão eficiente de tempo se consegue com agendas e listas de afazeres — têm-me salvado a vida e já não vivo sem elas! E também me dei conta que um dia produtivo é quando fazemos várias coisas e não nos limitamos a trabalhar numa única coisa. Dessa forma, tenho planeado os meus dias para fazer várias coisas ao mesmo tempo. O que também acaba por ser benéfico no sentido em que não me aborreço com tanta facilidade, porque não estou sempre a fazer a mesma coisa.
Entre o meio-dia e as 13 horas, vou almoçar. Tento ter sempre alguma coisa preparada, mas se tiver de cozinhar de raiz, também não é problema e até agradeço, pois cozinhar tornou-se um momento de lazer e não apenas um momento chato em que tenho de cozinhar para comer. O meu almoço só termina depois de tomar o meu cafezinho para dar aquela energia extra para a tarde que se avizinha. Da parte da tarde, por norma, começo outra tarefa que tenha planeado para o dia, mas como esta parte do dia costuma ser um pouco crítica, porque dá aquela preguiça do fim do almoço, opto por fazer tarefas mais leves.
Há uns meses, desde que retomei o meu hobbie da leitura, antes de jantar tento ler um pouco e, por volta das 20 horas, dou o dia por concluído e vou jantar. Por isso, como veem, ter tempo livre pode parecer um bicho de sete cabeças, mas se for utilizado da forma correta não há muito por onde errar e, também se houver um dia em que for utilizado para procrastinar, também não há problema nenhum!















