Aos poucos se percebe os crescentes anúncios de luzes e enfeites de Natal, sinal claro de que ele vem chegando, para nos brindar com toda sua genuína essência de nascimento. Toda época festiva do Natal é encantamento, luzes por todo canto, feiras, preparativos, lojas que seduzem com um tanto de beleza incomum, encontros que se espalham como pedaços de gentileza entre as pessoas. Calor para muitos e frio para outros tantos, nada tira a beleza instaurada.

O que falar da importância do Natal, e sobretudo iluminado, senão o quentinho da casa, família e um brilho que chega em todos os lugares e corações por menor demonstração aparente. Natal tem uma potência tão diferenciada que supera a passagem do ano. É com o Natal que esperamos a família de braços abertos por mais diferenças que existam, é quase um tempo de perdão para qualquer mazela, que certamente continuará existindo, mas não nesse tempo em que as luzes são mais claras que qualquer sombra.

Tempo de rezar quietinho, mas longe do desespero e angústia habituais, em todos os meses do ano. Uma reza diferente, leve, acolhedora na forma de um agradecimento, bem-estar e fé na vida, no homem, na natureza, no universo, em Deus, ou seja, lá no que cada um acredite.

Amo natais e seus rituais de repetição. O trabalho que dá para desencaixotar todos os enfeites, montar as árvores cheias de delicadezas e bibelôs de toda natureza, é pouco para o resultado de uma casa enfeitada para receber aqueles que ali brindarão o Natal.

Todo ano criam-se tendências novas para comemorar essa época, os tradicionais, mais rústicos, da modinha, orgânicos, recicláveis, minimalista ou rebuscados, com muita cor ou monocromático, e isso menos importa. O que realmente se quer é uma casa com aroma de Natal.

Encontrar presentes, criar peças teatrais temáticas para fazer refletir ou distrair a família, dinâmicas que são utilizadas enquanto a família se encontra em conexão, ou ainda preparar belos pratos saborosos que encherão de prazer todos os convidados gulosos é parte de tudo isso.

Acredita-se que papai Noel é um velho senhor da Lapônia que um dia resolveu presentar, ou melhor, atender aos desejos de todos os famintos de algum tipo de cuidado e carinho. Seja uma lenda capitalista, filosófica, cultural ou religiosa, a sensação de que ele existe é um alento. E por que não acreditar, não é mesmo? Que mal faz se sentir cuidado e acolhido por quem vai atender a um desejo seu.

O mundo mudou e certamente os Natais vêm mudando também. A correria dos afazeres, famílias que vivem distantes e por isso encontram mais dificuldade em festejar com os seus. Tudo isso vale uma reflexão sobre a falta de tempo, falta de desejo, uma bela desculpa para não ver uns aos outros, talvez uma preguiça do contato social tão estimado ultimamente.

A verdade é que não se quer gastar energia com diálogos intermináveis, histórias recontadas, piadas repetitivas, músicas tradicionais, manias e tiques nervosos das outras pessoas, como se com isso abolisse as diferenças, mantendo uma suposta proteção e por consequência afastamento. Se o indivíduo acha o outro estranho, a escolha é não lidar com as estranhezas que se apresentam. Para alguns Natal é não se reconhecer no outro.

Já tem um tempão que a “rabanada” uma comida natalina típica do Brasil virou fitness, e assim como ela muitas outras. Seja porque as pessoas estão cuidando da saúde evitando doces, ou porque num país que envelheceu as restrições alimentares são mais necessárias, ou ainda, porque se está muito cansado para lidar com o assunto comida, terceiriza-se o cardápio gourmentizando-o, e com menor variedades e guloseimas, há mais o politicamente correto infiltrado numa festa tão genuína e delicada.

Ainda assim é possível que mesmo dessa forma as pessoas encontrem felicidade nesses momentos.

Tem pessoas que não gostam da árvore de Natal, acham “brega”, cafona” ultrapassadas, porque sujam e são poluidoras visuais, tem muita informação, luzes e distrações. Para um indivíduo cansado e com hiperfoco em somente um assunto, a quantidade de adereços certamente vira um incomodo e qualquer motivo será sempre um bom motivo para desprezar essa comemoração.

O conceito de presente e lembranças para o Natal também mudou, talvez seja mais fácil presentar com um cartão bônus, pois assim não há o compromisso com a ida às lojas ou mesmo compras online, e lidar com as famosas trocas pós-natal, nem pensar. Que triste estágio onde servir ao outro e gastar tempo em função dele virou, na cabeça de muitos, uma perda de tempo e uma chatice.

Bem, há coisas lindas que acontecem para além da modernidade cada vez mais virtual, distante e fria, uma vontade imensa de reencontros, uma forma simplificada e natural de dizer que ainda se está vivo, perto fisicamente, e sobretudo que o outro importa. Importa tanto que ainda é bom recebê-lo, por mais divergente que sejam as ideias, caminhos tomados, trajetórias percorridas e amores escolhidos ao longo do último ano.

Natal é um tempo de perdão como deveria ser todos os dias, perdão por não se viver o melhor que conseguimos, por não entender que o outro é diferente, que há um tempo de espera, que como tudo que brota, nasce ou se cria exige um preparo de recepção, e como os Reis Magos puderam mostrar, a gentileza ainda é necessária, e o nascimento e os laços ainda são reais e não imaginários.

O Natal é um tempo iluminado, por pior que seja o momento que cada um esteja vivendo. O Natal é encantamento e ao se encantar é possível que o indivíduo também encontre maneiras de se curar.

Nos vemos já! já!