Parece que os únicos trabalhos que os jovens hoje conseguem arranjar são em regime de voluntariado. Nada contra o voluntariado, eu própria já fiz e continuo a fazê-lo, mas não é isso que nos vai permitir ser independentes dos nossos pais e começar, por fim, a nossa vida.

Ao longo do tempo que escrevo para a revista tenho debatido muito a situação precária dos jovens que saem das universidades à procura do primeiro emprego e encontram nada, senão ofertas irrisórias com anos de experiência, que não possuem. Agora, debato o outro lado de moeda. Se não é possível arranjar um trabalho das 9h às 17h minimamente remunerado, porque já sabemos que em Portugal os bons ordenados ficam para os ricos, uma pessoa desesperada vira-se para o outro lado: o voluntariado. Faz o raciocínio mental de que naquele voluntariado vai ocupar a cabeça e talvez colocar em prática o que aprendeu na academia.

Mas em áreas é que se vêm mais ofertas de trabalho em regime de voluntariado? Em Comunicação… É que em comparação com outras áreas não vejo, por exemplo, médicos ou engenheiros a trabalharem para uma empresa em regime de voluntariado. Mas pelo contrário vejo muita gente a tentar a sua sorte com participações em órgãos de comunicação online, no dito regime de voluntariado. Mais uma vez reitero que não tenho nada contra o regime de voluntariado, tenho é muitas reticencias quanto à forma como o sistema nos impôs um curso e no fim deste não conseguimos arranjar trabalho nem na nossa área de estudos nem fora.

Acredito que as coisas quando têm de ser nossas temos de batalhar por elas, mas começa a ser impensável viver neste país, quando de todos os currículos enviados as únicas propostas que viram luz verde foram as do voluntariado. É suposto sair de casa dos meus pais quando? Aos 50 anos? Juntar dinheiro para uma casa? Um dia, hipoteticamente, pensar em constituir família? E não venham dizer o que os estudantes de Comunicação já estão fartos de saber, que é uma área precária e onde existem mais pessoas formadas do que trabalho para as empregar.

Sim, nós já sabemos isso tudo, mas porque é que remetem esta área em específico para a insignificância? Por exemplo, no caso dos jornalistas, todos falam mal da classe, mas no dia em que houver uma greve geral de todos os meios de comunicação, ao nível do país, porque lá está é uma profissão precária onde há mais meses sem salário do que o contrário, talvez aí deem valor a quem todos os dias faz das tripas coração para fazer chegar informação às pessoas. Talvez aí deem valor ao que dão por garantido.

Também não vejo outras vagas de emprego serem tão escrutinadas e com tanto requisito como as vagas de Comunicação. Pedem aos candidatos uma licenciatura, um mestrado, ser fluente em 5 línguas estrangeiras, além do português bem falado e escrito, mais umas milhentas competências como se o candidato só pudesse ser valorizado por aquelas competências, além das ditas skills que a pessoa deve deter dentro da sua área.

Recentemente, entrou muito em voga os recrutadores pedirem portfólios dos trabalhos dos candidatos – mais uma exigência no meio de tantas. Seremos assim tão pouco merecedores dos nossos canudos e das capacidades que temos, que ainda nos pedem um portefólio de trabalhos, que na maior das hipóteses foram feitos durante o curso? Reconheço que o termo de comparação seguinte não vai ser o melhor, mas não vejo os recém-licenciados e mestres de outras áreas a terem de anexar um portefólio a cada curriculum que enviam. Logo, não sofrerem tanto para conseguirem um primeiro emprego.

Atenção, não desmerecendo ninguém, mas daquilo que tenho visto na minha área é que nos podem mil e umas coisas, a acrescentar mais a duas mil competências que adquirimos na academia da vida e, quando pensamos que temos tudo o que é preciso falta sempre alguma coisa. Mas falta o quê?, pergunto. O que falta à geração mais qualificada de sempre? O voto de confiança! É isso que falta.

Certamente que um agricultor não pode fazer o trabalho de um médico e vice-versa, mas cada vez mais acredito que tudo começa por algo. No caso da geração que agora se está a formar falta o voto de confiança de que é capaz de fazer aquilo. Ao contrário do que se possa pensar, por mais formação que uma pessoa tenha nunca saberá tudo, nunca será dona de todo o conhecimento da sua área. O conhecimento não é uma coisa estática, tal como tudo o resto está em constante evolução.

Portanto, para se poder aperfeiçoar uma pessoa precisa de conhecimento, mas também precisa que lhe deem um voto de confiança. Enquanto estivermos preocupados com meras virtualidades o essencial fica para trás e o que os jovens precisam é que os estimulem, mas sobretudo um voto de confiança de que conseguem.