A partir das 20 semanas de gestação

Um artigo do Blog Leiturinha, intitulado Leitura para bebês: a importância desde antes do nascimento, descreve este momento mágico da relação entre a mãe a bebê: “A partir da vigésima semana – ou quinto mês – de gestação, o bebê passa a ouvir e ser estimulado pelos sons de fora da barriga; a mãe pode começar a estreitar os laços e despertar na criança o prazer de escutar sua voz... No útero, o bebê é apenas ouvinte, mas sabe-se que acostumar a criança a ouvir os pais lendo – e reservar um tempo do dia para isso – é fundamental desde a gestação... Assim, depois do nascimento, a criança sente a necessidade de continuar o hábito; ela própria pode manusear o livro, que serve para despertar a imaginação e a curiosidade.”

Enquanto o bebê não nascer, o hábito da leitura pode ser criado tanto pela mãe quanto por outros membros da família. A Pesquisa Retratos da Leitura1, do Instituto Pró-Livro, confirma que o afeto é o maior formador de leitores. Então, ao ler com seu bebê desde a barriga e após o nascimento, você estará dando exemplo para ele e contribuindo para que ele também dê valor à literatura.

Um estudo da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, Palavras que Transformam: Os impactos da literatura na Primeira Infância (publicado em abril de 2025), estabelece uma relação direta entre a leitura e a formação de leitores desde a gestação até os primeiros 3 anos de idade: “o contato com a leitura na infância tem correlação direta com a formação de leitores: crianças que leem com adultos tendem a manter o hábito ao longo da vida.”

A importância de criar o hábito de ler para o bebê na gestação, é que apesar de o bebê ser apenas um ouvinte, ele acostuma-se a ouvir os pais lendo as histórias para ele. Esse hábito criado na gestão, vai-se materializar depois do nascimento, levando a criança a sentir necessidade de continuar esse hábito. A criança vai nascer com essa curiosidade de pegar manusear livros, e esse processo vai se consolidar à medida que ela for crescendo até à vida adulta.

A cada fase da vida, a criança terá o seu livro ideal. É importante os pais estarem atentos a essa evolução e proporcionarem à criança o tipo de livro apropriado para cada fase, estimulando a liberdade de escolha e de leitura, para que ela cresça com a consciência de que a leitura é um ato de liberdade e não uma imposição ou obrigação dos pais, e, mais tarde, da escola e da sociedade. Essa noção de liberdade, é fundamental na formação de um leitor. O cerceamento dessa liberdade, pode ir reduzindo, com o crescimento, o interesse pela leitura. Se queremos formar leitores para a vida inteira, precisamos entender que a formação de leitores, é um processo contínuo, assente na liberdade e na autonomia de se ler o que quer e quando se quer. A leitura não pode ser uma imposição condicionada, programada, limitada, mas estimulada, orientada e incentivada nos limites da vontade e da escolha do outro.

Desde o nascimento e durante a infância

Recentemente, a pesquisa Retratos da Leitura , realizada pelo Instituto Pró-Livro, trouxe à tona dados alarmantes sobre o comportamento dos brasileiros em relação ao hábito da leitura. Pela primeira vez em mais de uma década, o país apresentou uma queda no número de leitores, com a taxa de não leitores superando a de leitores: 53% contra 47%.

O declínio do hábito de leitura no Brasil é um reflexo de várias questões estruturais que envolvem a educação e as políticas públicas. Uma das faixas etárias mais afetadas é a de 5 a 10 anos, que corresponde a um período crucial para a alfabetização. A pesquisa aponta uma redução de nove pontos percentuais nesse estrato nos últimos cinco anos, indicando que muitas dessas crianças não estão mais lendo livros, incluindo os materiais didáticos e paradidáticos utilizados nas escolas.

Para reverter esse quadro, é fundamental que a educação formal e os lares incentivem a leitura desde cedo. Escolas, bibliotecas e políticas públicas devem criar ambientes propícios para o desenvolvimento do prazer pela leitura, oferecendo acesso a livros variados e relevantes. A família também desempenha um papel crucial, servindo como exemplo e encorajando o hábito de ler em casa.

No livro Primeiríssima Infância – Da gestação aos três anos, publicado pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV), destaca-se uma questão muito importante sobre a realidade brasileira, de que

O entendimento de que a criança nada aprende antes dos seis meses sugere a perda de oportunidade, por parte da maioria da população, para trabalhar estímulos e cuidados voltados para o desenvolvimento adequado do recém-nascido. A criança aprende desde que nasce e os primeiros seis meses constituem um período intenso de aprendizado.

De acordo com os autores desse trabalho, o período até os três anos de idade, é crucial na aprendizagem e desenvolvimento físico, intelectual cognitivo e social do ser humano, mas, infelizmente, muitas vezes é ignorado ou apenas valorizado do ponto de vista da preocupação física e de saúde da criança.

A valorização na educação e formação nos hábitos de leitura, pode ser determinante para o crescimento e fortalecimento de hábitos saudáveis e importantes como é a formação de leitores. Precisamos entender, de forma definitiva, que a formação de leitores é um processo contínuo, que iniciação na concepção gestacional do ser humano e continua sendo estimulado e incentivado na infância e na fase adulta. Ignorar esse processo contínuo, ou considerar apenas a fase adulta, tem sido uma das razões para déficit que se verifica no Brasil em relação aos hábitos de leitura.

Nota

1 Pesquisa Retratos da Leitura.