Apesar de que as palavras que agora digo, já tenham sido escritas e reescritas em tantas formas similares e diferentes, as escrevo mesmo assim, com pesar em meu peito, pois a única constante que me encontra em todas as histórias que narro é a mudança.

A mudança de palcos, personagens, vistas e narrativas. A mudança da vida que carrega com si uma melancolia tão profunda e jamais vista em alguma outra constância ou inconstância da vida.

Assisto, às vezes, como uma mera expectadora, às vezes, como uma personagem principal, o tempo passar, escorrer pelas minhas mãos e pelas mãos de todos como grãos de areia escorrendo pelas ampulhetas do tempo.

Assisto conforme as os anos se tornam meses, os meses se tornam semanas, as semanas dias, os dias horas, as horas minutos, e, por fim, os minutos segundos.

Em um piscar de olhos já mudei, quem era antes não sou mais.

Sou uma mera expressão passada de meu ser futuro, um mero vislumbre do que há a vir carregado de pesos que ainda serão lembrados.

As lembranças já não pertencem mais a mim, pertencem a fragmentos de histórias não contadas que permeiam o ser que sou.

Enquanto respiro sinto as areias do tempo escorrendo ao fundo de um rio, tão veloz quanto as correntezas da natureza que obedece nenhuma lei, nem do homem, nem de deus.

O mesmo tempo que aflora as pétalas de um broto não se faz diferente ao murchar as vidas de raízes.

Ele corre, ele muda, ele é mudança. Mudança que respira viva tal qual o sol queima. Chamas eternas que apesar de nascerem e morrerem todos os dias em um ciclo rotineiro tão normal para nós, prosseguem a se transformar pois até a eternidade será afetada pelo tempo, pelas mudanças.

O sol, tão distante de nós que parece até tolice imaginar que essa estrela seja mudada e transformada como nós somos.

Mas, esperar que a vida seja estagnada é um erro, um erro que cometo todos os dias ao lembrar de imagens do passado, sons esquecidos e cheiros nunca mais repetidos.

Me apego a caminhadas, a sensações, a texturas e sabores que nunca mais se repetirão.

Não importa quão longo sejam os minutos, as horas curtas me assustam a cada bater do relógio. Os dias que não vejo passar batem na janela à noite, implorando para que sonhos se tornem pesadelos, enquanto as semanas se mesclam com os meses.

E um ano logo se deságua em segundos irrelevantes.

Deságua em tal mar que se seca sozinho incapaz de manter-se a bordo dos próprios navios. Desprovido da vida que deveria dançar em suas profundezas.

A performance de música e movimento que um dia nasceu sob as plácidas águas salgadas agora se cala, tornando-se pedra.

Essas águas agora tão rasas permitem que vemos a terra molhada. Não há mais espaço para esse entretenimento.

A terra molhada então se esfarela entre meus dedos como areia seca. Como uma ampulheta quebrada que não sabe mais contar o tempo.

Se o tempo carrega a mudança ou a mudança carrega o tempo não cabe a mim dizer, talvez caiba à certa entidade já esquecida pela história e nunca lembrada por palavras humanas.

Talvez caiba a algo que já nem exista mais, a um conceito incapaz de ser transcrevido por palavras ou sequer por pensamentos.

Pois, não há encanto na mudança ou beleza no tempo, porém há a existência daquilo que é único, que nunca se repetirá e nem voltará a ser. Existe a magnitude de um mundo tão diverso e histórias tão cheias de futuros que nunca se repetem.

Não existe emoção no tempo e nem na mudança, mas há certa graça na singularidade de existir.