Muito se tem falado na descrença na Democracia e na importância em defendê-la de ideologias extremadas, que podem anulá-la. Mas a história não é nova é bastante velha, por sinal. Tudo começou há precisamente cem anos, na década de 1920 quando o primeiro pós-guerra deitou por terra crenças que pareciam inabaláveis, como o Liberalismo. A juntar à crise económica e social deixada pela Primeira Guerra Mundial, em 1929 acontece o impensável a Bolsa de Nova Iorque colapsa e atrás dela vão as economias mundiais.

Um longo período de resseção teve início e a crise social que já estava instalada tornou-se ainda maior – as sociedades estavam descontentes com as políticas existentes da época. Perante esta insatisfação, regimes conservadores e extremados começaram a ganhar a confiança e espaço na opinião publica e daí a chegarem ao poder foi um instantinho.

A década de 1920 do século XX foi marcada pelo emergir de regimes Fascistas ou Totalitários pela Europa, o que acabou por culminar não só no colapsar do continente pela perda da sua hegemonia, característica de outros tempos, mas também anos mais tarde, no emergir de um novo conflito à escala mundial.

Afinal o que defendem estas ideologias conservadoras que consideram a repressão e o autoritarismo como a única forma de governação aceitável? Os regimes Totalitários, mas mais conhecidos como regimes Fascistas defendem o nacionalismo exacerbado, onde por exemplo, os interesses do cidadão passam a ser desvirtuados em relação aos interesses do Estado; são regimes antidemocráticos, pois não vêm nada de bom numa sociedade Democrática, onde o cidadão pode expressar-se e pensar de forma livre – vedando-lhe assim as suas liberdades individuais.

São antiparlamentares, pois nestes regimes impera um único partido político, que vela pelos interesses da Nação. Ainda que por vezes possa existir oposição política, mas sabemos qual é o partido vencedor. São ideologias que não toleram opositores, ou seja, ideias contrárias às suas, independentemente da forma, pois acabam por ser alvo da sua repressão, porque a esta ideologia não interessa ter seres pensantes e com vontades próprias. Impera o conservadorismo na tentativa de louvar o que de melhor há e já houve no país. Para estes regimes, os cidadãos têm de seguir e defender a ideologia, onde impera a unidade em prol do bem da Pátria, pois só assim conseguirão combater as ideias nocivas como: a Democracia ou o Comunismo – para os regimes Fascistas, estas ideologias são as mais danosas e pelas quais mais se debatem.

Foram diversos os regimes defensores desta ideologia que surgiram pela Europa, mas não só. No caso europeu destacamos Portugal com o Estado Novo, onde o poder girou em torno da figura de António de Oliveira Salazar, assim como a vizinha Espanha com o Franquismo liderado por Francisco Franco, na Itália encabeçado por Benedito Mussolini e também na Alemanha com Adolf Hitler – embora este último, o regime liderado por Hitler também seja muitas vezes designado de regime Nazi derivado do nacional-socialismo e da ideia de superioridade da raça ariana em relação a todas as outras, sobretudo, aos judeus raça essa, que Hitler desprezava ao ponto de lhe causar a morte, o chamado genocídio.

Cem anos depois, a história parece repetir-se. As Democracias estão, novamente, a ser colocadas em causa, muito por conta das políticas existentes, que por mais que tentem agradar os eleitores na hora de votar, no fim das contas nada muda. O custo de vida está caro, arranjar casa é um verdadeiro inferno, desde os preços exorbitantes à falta de dinheiro, os ordenados não conseguem acompanhar o catapultar de preço de vida, que leva muitos a ter de decidir entre comer ou pagar a renda de casa e restantes despesas.

Talvez numa tentativa de mudar o sistema, os eleitores votem naqueles que têm a “coragem” de dizer o que mais ninguém diz. Contudo, não creio que sejam os partidos dos extremos, tanto faz ser de direita ou de esquerda, que nos irão arranjar as soluções que há tanto tempo pedimos. Certamente, teremos de bater lá bem no fundo para podermos regressar à tona e recomeçar. Porque não é certamente sem Democracia que, nos iremos fazer ouvir, muito menos seremos cidadãos com direitos assegurados e deveres a cumprir – sim, porque sem uma coisa não pode existir outra, para termos direitos também temos de cumprir com os nossos deveres.

Agora, sem Democracia não existem liberdades individuais, não existe opinião pública nem informação livre e isenta, não existe diversidade em todas suas formas e feitios! Sem Democracia não há luta, persiste o marasmo e uma sociedade alheada e arreigada a ideais bafientos e repressivos, onde impera agressividade e o medo. Será mesmo isto que queremos para o nosso futuro e para os que virão? Uma sociedade que toma como certo o que o governo decide, uma sociedade sem opinião e alheada do que se passa à sua volta? Para evitar isto, a Democracia tem de prevalecer, mas também ser protegida de tais ditames, que tudo o que almejam é poder, porque nada de benéfico irão trazer às pessoas.

Não podemos regredir no tempo depois de sabermos o que aconteceu com a emergência dos regimes fascistas na Europa e depois de todo o mal que causaram e deixaram em seu redor. Não podemos meter a cabeça na areia e pensar que acontece só aos outros, porque pode muito bem acontecer connosco – sem nos darmos conta, a Extrema-Direita lançou o isco e muitos já o morderam.